Por Pe. Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça Em Palavra do Associado Atualizada em 28 FEV 2020 - 09H05

Virgem Maria, modelo do Sim Quaresmal

O tempo litúrgico da Quaresma nos remete a uma preparação piedosa e contrita para a Páscoa do Senhor. São-nos indicadas várias atitudes e práticas para este período: a oração, o arrependimento, a penitência, o jejum, a conversão, a ação da caridade fraterna.

Temos em Maria, a Mãe Auxiliadora, uma modelar companheira de jornada rumo à Ressurreição do seu Filho Jesus Cristo. Ela foi a primeira discípula d’Ele, concebendo o Verbo primeiramente no coração e só depois no ventre, como nos ensina Santo Agostinho.

Com certeza, ela é a Serena Mestra da Oração, a Virgem que sabe ouvir, solícita à proposta de Deus, guardando todo o mistério da Epifania divina no silêncio do seu coração, transformando o diálogo com Deus em atitude humilde e fiel: "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim, segundo a sua palavra" (Lc 1,37).

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Orar com Maria na Quaresma é mergulhar neste silêncio do Pai, escutar despojadamente a voz do Criador, re-evocando a nossa íntima identidade de "imagem e semelhança", o projeto original de Seu Amor. É reconhecer todas as dissonâncias e ranhuras advindas do pecado, do 'não' desintegrador e desagregador da soberba de Adão e Eva, assumindo o 'sim' da Mãe da Nova Humanidade, na ordem da graça, a "Nova Eva", como a chamam São Irineu, São Justino e outros Padres da Igreja, a que desata os nós da antiga negação. Pelo exemplo e intercessão de Maria, identificamo-nos com a obediência do "Novo Adão" Jesus Cristo (Cf. 1Cor 15, 20-21; Rm 5,17-19), mergulhando-nos no seu mistério salvífico, re-vivenciando a nossa dignidade de filhos de Deus, caráter indelével batismal.

Fazer penitência com Maria é seguir o seu testemunho de permanência em Deus, fortaleza da Mãe das Dores, que sofre e atravessa o vale das sombras, sabendo com confiança do sentido misterioso divino, com a fé de que tudo se cumpriria conforme a promessa do Senhor. É despir-se das nossas falsas seguranças, das ilusões e escravidões dos prazeres, esvaziar-se como a Mãe peregrina, que renunciou às projeções pessoais para assumir totalmente o projeto salvífico. Por isso, não é só privar-se de algumas coisas por algum tempo, mas penitenciar-se é gerar no seu interior uma atitude de "kénosis", esvaziamento de si, na simplicidade e prioridade do serviço ao Reino como Maria, inteiramente doada ao Filho de Deus e à sua missão, avançando na obediência itinerante da fé. Suportou a Mãe da Esperança todas as dúvidas, incertezas do mistério dos desígnios do Criador-Redentor, as angústias e preocupações diante da exposição do seu amado filho, incompreendido e, muitas vezes, rejeitado, injustiçado, bem como o sofrimento extremo de vê-lo torturado, crucificado e morto em seus braços maternais.

A Mãe da Ressurreição nos ensina a trilhar o caminho das tentações, provações e opressões do mal, resilientes, centrados na fé, confiantes, aprendendo com os erros e pecados, arrependendo-nos, crucificando as nossas paixões no madeiro de Cristo, como nos diz o apóstolo São Paulo. Como Maria, mulher forte diante da cruz, não nos deixamos quebrar diante de tantas contrariedades e obstáculos, mas mergulhando nos olhos do Redentor, pelos olhos da Mãe oferente, vislumbramos já a vitória da Luz. Nossa Senhora, Stella Maris, nos conduz neste êxodo quaresmal à grande libertação integral, a reconciliação de nossas consciências com Deus, com nossos irmãos e com a natureza, na vivência da paz, da justiça e do amor fraterno, numa conversão pessoal, social e ecológica, como nos relembra o nosso Papa Francisco.

Ser missionário com Maria, a Estrela da Evangelização - a Mãe solidária que, alimentada pelo amor divino aos mais necessitados, partiu apressada para servir a Isabel - deve ser o coroamento de toda a nossa ação quaresmal. A prática da caridade servidora é missão da Quaresma de uma vida inteira, na permanente preparação espiritual da Páscoa eterna, misteriosamente já experimentada no tempo e na história presente sob os véus do Inefável, entre as lutas e cruzes, na comunhão com o Senhor Ressuscitado, na alegria de sua graça salvífica. Sem este amor concreto de misericórdia, ficam sem sentido a oração, o jejum e a penitência, ficam sem consistência de verdade as palavras de arrependimento e de conversão, como nos fala fortemente o profeta Isaías (Cf. Is 58, 6-10).

A Mãe da Divina Providência, do Perpétuo Socorro, das Mercês, das Graças de Deus será sempre o nosso luminoso exemplo de doação total, a partir do silêncio orante, do esvaziamento de si, da penitência da entrega confiante, da suportação das dores e provas, da inclinação amorosa e maternal a todos os filhos, abraçando-os e servindo-os com o dom do Cristo e de sua redenção.

É a Nossa Senhora Aparecida, que aparece em nossas vidas para comunicar-nos, solícita, o Amor de Deus. Encontrada, sim. Mas aquela que, antes, quis nos encontrar em nossas necessidades e fraquezas, como fora na atitude com Isabel e com os pescadores. Também agora, é Ela que intercede por nós, pecadores, como Mãe da Misericórdia, para ajudar a restaurar em nós, pelo Espírito, a imagem do Seu Filho.

Tenhamos-na, nesta Quaresma e sempre, como a nossa querida Mãe, Advogada e Protetora, Modelo e Companheira de nossa peregrinação e servir eclesial.

Pe Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça
Membro da Academia Marial de Aparecida, da Academia Friburguense de Letras
Assessor Eclesiástico da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo - RJ

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