Boa parte das pessoas que saíram às ruas no dia 15 de março de 2015 e tinha nas mãos faixas que pediam “Intervenção militar”, nasceu, seguramente, após 1980. Portanto, não tem consciência do que foi a redemocratização e a Assembleia Nacional Constituinte. Talvez tenham lembranças vagas dos caras pintadas pedindo a saída do presidente Collor, no início dos anos 1990.
Foto de: Paulo Pinto/Fotos Públicas
Digo isso com tranquilidade, pois sou desta geração, e tudo isso são vagas lembranças da minha infância. E do que ocorreu antes, com o golpe militar pós-1964 (que alguns chamam de “revolução”), sei do que li nos livros e ouvi do meu pai. E confesso que não tenho a menor vontade de viver sob um regime militar.
Já quem pede impeachment, certamente não sabe calcular o prejuízo que pode ser causado pela instabilidade política. E mais: não sabe que não há crime neste momento para a aplicação desta lei (ao menos, nada provado, até agora). Não sabe também que a saída da atual presidente não iria resolver a causa primeira de toda esta indignação da sociedade, que são os escândalos de corrupção.
A hora agora é de cobrar e acompanhar as investigações de todos os casos de corrupção (poderiam ser denunciados outros), e aplicar-lhes a devida punição, doa a quem doer.
A impunidade, ou até conivência dos cidadãos em muitos casos, faz com que muitas práticas ilegais sejam compreendidas como comuns, apesar da legislação em vigor. Os valores desviados no “Petrolão” são surpreendentes, mas é preciso também voltar as lentes das câmeras de TV para outros casos que ocorrem em outros níveis de governo Brasil adentro.
O chamado, desde junho de 2013, é para que a democracia em nosso país possa se renovar, rejuvenescer. As instituições republicanas precisam continuar a funcionar plenamente, e certamente, de forma melhor.
Para isso, é preciso extrair o vício da corrupção da máquina pública, das pessoas que operam a máquina, e também daqueles que escolhem os gestores da máquina. Ou seja: não basta mudar os políticos, mas é preciso mudar também os eleitores, os cidadãos brasileiros como um todo.
Entidades representativas históricas, como a Conferência dos Bispos e a Ordem dos Advogados do Brasil, com mais de uma centena de entidades, trabalham em conjunto em prol de uma proposta concreta de reforma política.
Seu ponto fundamental é a proibição do financiamento privado de campanhas eleitorais. Também propõe a reforma do sistema eleitoral, com o fortalecimento dos partidos políticos, para aproximar os eleitores de seus eleitos, entre outros aspectos. Uma proposta que está na rua, e precisa ser conhecida e apoiada pelos cidadãos.
Mas, falta outra parte que é básica: uma questão cultural, que só pode ser mudada com um processo educativo. Me refiro a pequenas atitudes que muitos de nós fazemos, e que são sim atos de corrupção. Exemplos simples: sonegar imposto, furar fila de banco, conseguir uma carteira falsa de estudante para pagar meia entrada, enfim.
Para muita gente, são atitudes pequenas e justificáveis, pelo jeitinho brasileiro. Mas é a mesma justificativa que se usa para pagar propina a deputados ou servidores públicos em troca de alguma vantagem, como vimos no Mensalão e no Petrolão. Só os valores, em reais ou dólares, são diferentes.
Em tempo de quaresma, vale a pena trazer o assunto para a nossa linguagem cristã: quem vai conscientemente contra a ordem das coisas tal como Deus deseja, e mesmo contra as regras instituídas pelo bem da organização da sociedade, está pecando.
Corrupção pequena também é pecado. Uma mudança ética, colocando em primeiro lugar o bem comum e não os próprios interesses, é uma atitude que deve estar não só na vida de quem ocupa algum cargo público, mas também em cada cidadão.
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