Todo dia lidamos com a água porque é impossível viver sem ela. Vivemos com uma crise hídrica cujo alcance desconhecemos. Ou existe alguém que tem certezas sobre o assunto? Para conhecer melhor o assunto, entrevistamos o ambientalista Getúlio Martins.
Foto de: Antônio Leudo/Prefeitura de Campos
Rio Paraíba do Sul abastece os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Padre César Moreira: Getúlio, obrigado por mais uma vez atender nosso pedido. Os internautas que conhecem o A12 agradecem. Como pode ser caracterizada a crise de água deste ano? E por que tem preocupado de modo mais intenso a população?
Getúlio Martins: A crise deste ano está associada às mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global. Ela foi a pior desde que se começou a medir a quantidade de chuva, no Brasil, em 1917.
Padre César Moreira: Além da estiagem, que outras causas agravaram a situação? Essas causas tem sido combatidas com o devido cuidado e a tempo?
Getúlio Martins: A situação foi agravada pelo desmatamento das margens dos rios e nascentes e pelo desperdício no uso da água pela população. Infelizmente essas causas não têm sido combatidas de maneira a se evitar outras crises.
Padre César Moreira: Concretamente, quais os problemas relativos aos serviços nessa área? São continuados? Têm sido tratados devidamente? A acusação de omissão de longos anos em fazer obras que resultem em segurança para a população é válida?
Getúlio Martins: Os custos elevados (muitas vezes superfaturados, como está sendo exposto pela Operação Lava Jato) para implantação de obras de saneamento ambiental, como os sistemas de tratamento de esgotos, impossibilitam a universalização dos serviços. Isso provoca um círculo vicioso: não se faz porque é caro, fica caro porque não se faz. As grandes obras como, por exemplo, a “transposição do rio são Francisco” foram pensadas, mas não tinham saído do papel por não terem sido priorizadas.
Padre César Moreira: Vi a informação que em 1940, há 75 anos, a produção da água na capital paulista era bem maior (3.970 litros por segundo) para 1 milhão e 300 mil pessoas, com média de 256 litros por habitante/dia. Hoje são 30.240 l/s hoje para 11,8 milhões de pessoas, com média de 221 l /pessoa,dia). Isso é fato? A diminuição implica menor necessidade ou a vida fica mais prejudicada com essa média atual?
Getúlio Martins: Nos bairros de maior poder aquisitivo o consumo é maior. A expansão da população ocorreu, de maneira mais acentuada, nos bairros mais pobres, que consomem menos. Isso explica esse paradoxo.
Padre César Moreira: Existe desperdício de água por parte da população? Por que isso acontece? Ouço dizer que o maior desperdício se dá pelos vazamentos. É fato? Em que lugares são mais comuns? Como evitá-los? E os vazamentos nos espaços públicos? Têm sido sanados?
Getúlio Martins: Há desperdício pela população, é só observar nossos hábitos diários. Isso acontece porque ninguém nos ensinou a usar somente o necessário. Meu neto já está aprendendo isso.
Realmente, o maior desperdício ocorre no sistema de distribuição de água. As perdas físicas (água que sai do tratamento e não chega às residências), variam de 15% a 20%. As principais causas são: idade da tubulação e sistemas operando fora das normas de pressão hidrostática. A eficiência nos reparos dos vazamentos depende da gestão operacional das empresas de saneamento. Esse item geralmente não recebe muita atenção dos gerentes.
Padre César Moreira: Qual a expectativa para o futuro próximo em relação à água? Ela ficará mais rara, mais cara? Que fazer para evitar situações dolorosas?
Getúlio Martins: As mudanças climáticas irão alterar os padrões de chuva, que é a única maneira de se obter água. Ela vai ficar mais cara porque o aumento da demanda será maior do que o da oferta. A adaptação aos padrões de consumo consciente é a solução mais viável e menos dolorosa.
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