O desespero real

No Palácio do Planalto, está tudo parado. Quer dizer: não há a discussão de projetos para o país e a busca de saídas para a crise econômica. Mas não é má vontade: é falta de tempo mesmo. Os assessores mais próximos da presidente Dilma Roussef gastam todo tempo e energia em tentar entender o cenário de crise econômica, e fazem as contas caso o processo de impeachment se torne realidade.

Nos cálculos do Planalto, mesmo que o processo comece na Câmara dos Deputados, ele não passa no Senado Federal. Mas esta é uma conta que precisa ser refeita a cada dia, considerando que a base aliada é um gelo que derrete a cada novidade no noticiário, motivada pelos avanços das investigações da Operação Lava Jato, e mesmo pelo termômetro das redes sociais e das ruas (que nem sempre mostram a mesma temperatura).

Nas palavras ditas recentemente pela presidente, revelam um ar de desespero. Segundo reportagem da Folha de São Paulo, na reunião da coordenação política do último dia 07 de março, Dilma classificou o tempo atual como grave e difícil, e criticou o cerco pesado que existe contra o seu governo. Durante solenidade do Dia Internacional da Mulher, ela clamou pela pacificação da sociedade, ao dizer que os governos precisam de paz para que possam ter condições de enfrentar a crise e retomar o crescimento.

Mas esta paz é difícil de ser encontrada, já que não há liderança política realmente disposta a dialogar em Brasília. Nem mesmo o ex-presidente Lula, que parece mais preocupado com uma possível candidatura em 2018 do que em defender o atual governo.

E no meio de tudo isso, o desespero real é o vivido pelas vítimas da economia mais fraca, especialmente os desempregados. Enquanto os políticos jogam com o Brasil na busca de seus interesses, o cidadão comum se desespera ao perder a dignidade do trabalho e da renda. A angústia dos trabalhadores não é levada em conta, e a crise segue cada vez mais forte.