Por Padre José Luis Queimado, C.Ss.R. Em Igreja

O Homo Sapiens e o Bullying!

Seres humanos! Pertencentes ao Reino Animal; ao Filo dos Cordados; à Classe dos Mamíferos; à Ordem dos Primatas; à Família dos Hominídeos; ao Gênero “Homo” e à Espécie “Homo Sapiens”. Aí está o ser humano taxonomicamente definido! Somos duplamente sábios: somos racionais (Homo sapiens sapiens, dizem alguns)! Mesmo assim, não podemos nos esquecer de que somos animais; não somos plantas, muito menos minerais! Isso é mais do que óbvio! Por que então escrever isso? Porque muitos, por incrível que pareça, prescindem dessa realidade evidente!

bullying

Depois da definição dada acima, e de relembrarmos que somos racionais e animais, a pergunta que se nos apresenta diante de alguns fatos pegajosamente persistentes em nossa História é: por que maltratamos os mais fracos? Poderíamos elencar várias formas de opressão e maus tratos, mas queremos trazer à tona uma das maneiras mais assustadoras de violência humana: o bullying!

A violência infligida por um indivíduo (ou grupo) mais forte a outro mais fraco, psicológica ou fisicamente falando, é conceituada pelo termo inglês bullying. Todas as pessoas são passíveis de sofrer agressões físicas ou verbais! Entretanto, o mais estarrecedor tipo de bullying (exatamente por ter se tornado comum) é aquele em que as vítimas e os agressores são crianças, adolescentes e jovens; e é praticado nos locais que supostamente servem para civilizar (escolas e universidades).

Uma criança pode estar sendo, continuamente, agredida pelos “colegas” de escola! Muitas vezes, ela chega suja, triste e amedrontada a sua casa, mas não externa aos seus pais a crueldade pela qual está passando. Crianças e adolescentes que não querem ir à escola, sem motivos claros, podem estar sofrendo esse tipo de agressão! Os pais devem ser os primeiros vigilantes; os professores, os inspetores e os diretores têm o múnus de zelar pelo bem físico e psicológico desses alunos machucados!

O agressor (bully: palavra inglesa que quer dizer valentão), geralmente, é aquele ou aquela que possui uma grande influência sobre as outras pessoas! Nas escolas e universidades são sempre os mais “populares”! Mas também são Sapiens Sapiens (pelo menos na taxonomia!). Não podem ver uma pessoa mais fraca (e bem diferente de si) que os seus instintos mais recônditos emergem com veemência! É bem parecida à cena de animais selvagens, que veem a presa indefesa e investem a sua força contra ela. Os animais caçam para sobreviver, mas os Homo sapiens atacam para que o seu ego gigantesco não pereça!

As minorias são sempre as mais perseguidas! Sempre! A pessoa mais calada, a mais tímida, a mais reservada! Geralmente, o pobre (chamado de pobretão, sujo, imundo); o fraco (cognominado mocinha, fracote, frangote, afinão); o estudioso (nerd, cdf, puxa-saco); o efeminado (bichinha, gazela, marica); e se for moça e menina são chamadas de sapatão, homão, machuda; o campesino (da roça, buscapé, mazarope, burro), etc. A religião do indivíduo também pode ser motivo de agressões. As lesões físicas são terríveis, mas as verbais produzem uma devastação com prazo indeterminado de cura na mente do agredido, – leiam-se os insultos indicados acima!

Que mundo estranho! Somos seres racionais, mas os nossos locais de inserção social são palco de acontecimentos vergonhosos! Por que agimos assim? Por que as escolas e as universidades não punem com rigor? Seria injustiça agir com dureza nesses casos? Por um acaso, estamos do lado dos agressores? A verdade é que aqueles que se julgam fortes, populares e poderosos são, na realidade, pessoas incompletas e inseguras, pois têm medo de perder tudo isso que pensam possuir! Vivem na ilusão! O mundo irá ensinar-lhes!

Até quando os fracos serão humilhados em nossas sociedades? Nós já demos grandes passos: as mulheres não são mais vistas como propriedade dos homens (a não ser em alguns lugares onde reinam as leis sub-humanas!); os negros conseguiram derrubar a falsa pretensão racial dos brancos e obtiveram os seus direitos que há muito lhe haviam roubado; vivemos numa democracia! Mas, infelizmente, regredimos em muitos aspectos! A selvageria não pode tomar conta da civilização! Devemos ser duros com os agressores! Não podemos condescender com as agressões, sejam elas de quaisquer níveis! Temos de ficar do lado daqueles que não obtêm respeito e dignidade em lugar nenhum! O nosso Código Civil tenta garantir a dignidade humana, pois ele afirma que “todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar”! Mas será que nós trabalhamos para que essa lei seja assegurada? É necessidade que ajamos como defensores daqueles sem esperança de auxílio e como carrascos daqueles que pensam ter todo o poder do mundo nas mãos! Somente assim poderemos vencer uma das maiores pestes do século XXI: a regressão do Homo sapiens!

Padre Queimado Colunista

Escrito por
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

Missionário Redentorista com experiência nas missões populares, no atendimento pastoral no Santuário Nacional de Aparecida, passou pela direção do A12, fez missão na Filadélfia nos Estados Unidos. Atualmente é diretor editorial adjunto na Editora Santuário.

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