Por Marcus Eduardo de Oliveira Em Mundo Atualizada em 27 NOV 2017 - 09H36

Um projeto de vida

É do economista inglês, William Stanley Jevons (1835-1882), a seguinte afirmação: “Feliz é aquela pessoa que, mesmo com poucos recursos, tem a realização no seu trabalho diário e a garantia de um futuro melhor”. Desse comentário, é possível argumentar que, de fato, mesmo com poucos recursos, especificamente os financeiros, não é “impossível” atingir elevado grau de satisfação e mesmo de felicidade; ainda que a felicidade, indiscutivelmente, possua um valor subjetivo, variando de acordo com o julgamento de cada um.

felicidade, consumismo, compras_Shutterstock

Fotos: Shutterstock

Todavia, não é nenhum disparate concluir que a felicidade, definitivamente, não repousa na obtenção de mais dinheiro ou de mais mercadorias, no acúmulo materialista e financeiro. Muito ou pouco dinheiro, não determina, essencialmente, se uma pessoa está ou não feliz.

Visto de outra forma, o “contrário” de felicidade também não está vinculado, na medida econômica e material, à ausência de dinheiro ou de objetos. Não ter dinheiro não significa que se estará infeliz por conta disso. Conquanto, cabe perguntar: a economia, por ser uma ciência social - uma ciência que equivocadamente na visão de muitos lida o tempo todo apenas com o “estudo do dinheiro” e suas prerrogativas - têm algo a ver com ser ou estar feliz?

Como a economia é uma ciência que também analisa o comportamento das pessoas, nada mais interessante, portanto, que olhar mais atentamente para a questão da obtenção ou não de felicidade. Economia, por esse prisma, tem tudo a ver com a vida das pessoas, até mesmo porque se trata, como dissemos, de uma ciência social e, por ser social, é “humana” à medida que é feita pelos homens e para os homens com uma única tentativa: efetivar a dignidade das pessoas e propor alternativas à melhoria substancial da qualidade de vida de todos.

Enquanto ciência e atividade produtiva, a economia tem tudo a seu favor para valorizar, cada vez mais, a vida das pessoas, integrando-as na busca de bem-estar, do bem viver e do viver bem. Toda ciência social, aliás, guardada as diferenças entre os campos específicos em que atua, deve ser posta à serviço de ajudar no progresso de cada um de nós. Por isso o trabalho humano mais essencial certamente é o de cuidar das pessoas e do Planeta que nos acolhe. Deixar de fazer isso, ou fazer com menosprezo, com desrespeito ao próximo e ao meio ambiente, é ver prosperarem problemas como fome, pobreza, desigualdades, mortes precoces decorrentes de doenças evitáveis, e degradação ambiental.

Tais ocorrências - estejamos certos disso – podem perfeitamente ser associadas, em grande medida, à sistemas econômicos imperfeitos. Superar, pois, essas imperfeições e esses “descuidos” econômicos pelos caminhos por onde transita a ciência econômica é perfeitamente possível.

Para tanto, a economia precisa, no mínimo, dar mais atenção à questão do bem-estar das pessoas. Foi assim que Alfred Marshall (1842-1924) - um dos mais eminentes economistas de todos os tempos -, se posicionou quando defendeu em Principles of Economics, obra publicada pela primeira vez em 1890, que “a suprema finalidade da economia é elucidar a questão social”.

Tal assertiva marshalliana corrobora com a análise que dá conta que o principal e o mais alto interesse dos estudos econômicos residem no fato que as decisões econômicas, tomadas tanto no nível privado, quanto no público, interferem sensivelmente na qualidade de vida das pessoas.

Especialmente em relação à economia, existe certa tendência em acreditar que o campo de análise e preocupação dessa ciência deve repousar continuadamente sobre a abordagem social, ainda que determinados segmentos das ciências econômicas ignorem o ser humano e façam o jogo contrário. Indiscutivelmente, a questão socioeconômica permeia o nosso dia a dia. Diante disso, as perguntas que ficam para uma melhor análise desse fato são as seguintes: Como conseguir orientar uma economia no sentido de criar condições para a harmonia social?; Como criar uma sociabilidade humana dentro da vida econômica normal?; Como fazer a economia servir aos homens?; Como criar uma economia cuja dimensão principal seja o estabelecimento da boa relação entre o mercado e a sociedade?; Como criar, consolidar e fazer prosperar uma economia solidária, pautada no princípio elementar da comunhão, com ajustes de fraternidade e de partilha entre seus membros?

De certo modo, a economia gira ao redor de tudo. Nesse sentido, a ciência econômica pode ser vista como uma excelente disciplina para a compreensão do mundo. Se o fito fundamental dessa ciência socialé o de proporcionar o desenvolvimento de todos e para todos, nada mais plausível que fazer da economia uma espécie de escada de fácil acesso para essa realização.

Estejamos certos que a economia - para se firmar definitivamente como uma ciência que estuda a vida dos homens -, e para responder afirmativamente as indagações acima lançadas, necessita construir ao seu redor uma engenharia social (uma economia civil ou uma cívica economia) capaz de captar essencialmente as constantes ações individuais que envolvem a vida das pessoas.

Para isso, nesse arcabouço social a ser construído e solidificado, não pode escapar a ideia que os sistemas econômicos devem promover, primeiramente, a felicidade e o bem-estar humanos. Por isso cabe à ciência econômica desenvolver uma visão solidária e mais fraterna da vida. A economia – acreditemos nisso – nada é sem um projeto de vida.

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Em certa medida, é necessário provocar essa reflexão em torno de se visualizar a atividade econômica como uma ferramenta indispensável para “estudar” as maneiras de melhorar as condições de vida das pessoas. É imprescindível criar, para tanto, uma nova economia: uma economia social, ecologicamente correta e essencialmente humana, com solidariedade e comunhão plenas.

Essa nova economia deve, antes, ser social, no sentido de envolver o estudo sistemático das relações sociais fartamente enraizadas no seio da sociedade. Deve ser ecologicamente correta quando se percebe apenas como um subsistema de algo maior: o meio ambiente e, por isso, passa a respeitar as leis da natureza. E, por fim, deve ser humana à medida que prioriza o atendimento às necessidades das pessoas, fazendo disso um verdadeiro projeto de vida.


Escrito por
Marcus Eduardo de Oliveira (Marcus Eduardo de Oliveira)
Marcus Eduardo de Oliveira

Economista especializado em Política Internacional

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