Por Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R. Em Artigos Atualizada em 24 MAI 2019 - 08H36

Papa Francisco, um outro sonho de Igreja

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O Papa S. João Paulo II, em suas viagens pela América Latina, manifestava sua origem polaca, sua experiência de Igreja na Polônia e seu anticomunismo. Ao lado de uma imagem midiática espetacular, que entusiasmava multidões, suas mensagens mais fechavam do que abriam portas. Sem dúvida, foram suas reações que levaram a debilitar a teologia da libertação e a marginalizar as comunidades eclesiais de base. Não lhe interessava uma Igreja como Povo de Deus, mas sim como instituição forte e obediente, capaz de impor ao mundo sua cosmovisão. Com isso, abriu-se o espaço para a invasão do pentecostalismo evangélico e católico, que atualmente caracteriza a presença cristã em nosso continente.

Já o Papa Francisco raramente deixa transparecer sua origem argentina, além de algumas expressões que usa de vez em quando. Seu empenho é por uma Igreja que seja lugar de compaixão para todo ser humano necessitado, uma Porta Santa aberta a todos, um hospital de campanha aonde podem acorrer para cuidar de suas feridas. Clama por justiça diante dos governos, para que tenham compaixão dos pobres, conclama os jovens para que não permitam que se lhes roubem a esperança, suplica que a terra, nossa Casa comum, seja poupada de tanta exploração e não aconteça que a maior parte da humanidade seja descartada dos bens que Deus destinou a todas as gerações.

Bate-se contra a intransigência daqueles que querem salvar apenas doutrinas e leis, mas não se debruçam para salvar o ser humano caído à beira da estrada ou chafurdado nos chiqueiros do mundo. Diante das violências e das guerras, ele insiste no caminho do encontro e do diálogo, único caminho para construir horizontes de paz duradoura, como conseguiu realizar entre Cuba e Estados Unidos. Foi o que fez também ao parar em Cuba e encontrar-se com o Patriarca ortodoxo da Rússia, Kirill, no aeroporto de Havana, no dia 12 de fevereiro de 2016, em sua viagem ao México. Foi um gesto forte para diminuir a distância que há quase 10 séculos separavam essas duas Igrejas. A declaração conjunta, ao invés de discutir as diferenças que separam as duas Igrejas, foi um “dar-se as mãos” para encarar juntos os desafios e os sofrimentos da geração atual.

O Papa Francisco emociona-se diante dos milhares de migrantes forçados e tem tido a coragem de denunciar os crimes cometidos por um modelo de sociedade que visa apenas o lucro e não tem escrúpulos em causar sofrimentos horríveis a milhões de seres humanos. Assim, mais do que olhar para dentro da Igreja, ele nos convida a sair para fora e ser uma Igreja Samaritana dentro de um mundo cujos caminhos ainda estão cheios de assaltantes e de feridos.


Escrito por
Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R. (Aquivo redentorista)
Pe. Ulysses da Silva, C.Ss.R.

Missionário Redentorista e membro da Academia Marial de Aparecida

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