Por Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. - Jornal Santuário Em Artigos

Um país machista

A cultura de nosso país foi moldada nos parâmetros do “pater familias”. Esse era e ainda é o padrão de muitas sociedades nos tempos atuais. Nesse modelo de construção social, o pai é aquele que possui todas as partes constituintes de uma família. A esposa (ou as esposas), os filhos e as filhas, os animais, as terras, os empregados, os bens materiais são gerenciados pelo pai. Ele é dono de tudo e de todos.

O Brasil já passou pelo patriarcalismo mais severo e explícito.  Podemos, sim, perceber que as mulheres ganharam muito espaço nos últimos anos. Na democracia, elas conquistaram o direito de votar, de dirigir, de escolher com quem se casarão, de viver sozinhas, de ser gente. No entanto, é nítido o preconceito histórico que ainda pesa sobre elas.

No senso comum, os serviços de casa foram naturalmente criados para as mulheres. Se elas forem casadas e possuírem um emprego, trabalharão em dobro, pois terão de cozinhar, lavar e limpar a casa, recebendo salário menor do que o homem num mesmo cargo. A maioria dos homens não se dá ao trabalho de assumir esses afazeres, afinal, ele é o “chefe” do lar, e chefes não fazem esse tipo de serviço. O sobrenome dos filhos será o do pai, pois é a linhagem do homem a mais importante. A mulher, no imaginário, continua pertencendo ao marido: a Maria do José, a Ana do Antônio, a Sebastiana do João. Em alguns recantos de nosso país, a mulher que não gera filhos é vista como seca ou amaldiçoada; mesmo se o problema for do homem, e ela sofrerá o preconceito a vida inteira.

A boa esposa é aquela que sempre respeita seu marido e é fiel a ele. Mesmo apanhando, sendo traída e vivendo uma vida medíocre, o machismo que está incutido nas entranhas dela diz que tudo isso é normal. E dessa maneira ensinará as suas filhas a viverem. As meninas devem ser sempre virgens, os meninos têm de fazer experiências sexuais para se tornarem machos. Um rapaz que consegue “ficar” com muitas moças é comparado a animais vigorosos, tais como garanhão e tigrão. Uma moça, por outro lado, que se relacionar com muitos rapazes será comparada a animais com significados pejorativos, tais como vaca, galinha e piranha.

O fato de as mulheres passarem pelas ruas e serem vistas como objetos sexuais por homens que estão trabalhando nas obras de construção, mesmo sendo casados e tendo jurado respeito à sua parceira que está em casa, demonstra uma sociedade machista, ainda que implicitamente.

Enfim, não se aceita que as mulheres se realizem plenamente como seres livres e criados para a felicidade. E, para manter esse estado perene da tradição androcêntrica, buscar-se-ão argumentos e fundamentações na Bíblia, na História, na Biologia ou em qualquer lugar que possa provar a superioridade do homem em relação à mulher! Pensemos, pois, como Jesus: “Que TODOS tenham vida e a tenham em ABUNDÂNCIA” (cf. Jo 10,10), sem acepção de pessoas!

Padre José Luís Queimado, C.Ss.R., é diretor do Portal A12.com

Escrito por
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. - Jornal Santuário

Redentorista, formado em Filosofia e Teologia. Pesquisador das Sagradas Escrituras e História. Acumulou experiência nas Missões Populares e no Santuário Nacional de Aparecida.

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