Por Allan Ribeiro Em Notícias

Devoções populares imprimem identidade do povo brasileiro

Festa de São Benedito - Allan Ribeiro

No Brasil, desde o início da colonização, no século XVI, havia uma carência muito grande de padres. Os poucos que existiam, estavam restritos às cidades localizadas, principalmente, nas regiões litorâneas. Assim, nas localidades em que a colonização ia chegando, mais no interior do país, o catolicismo que ali se estabelecia era baseado, na maioria das vezes, na devoção aos santos, nas práticas de piedade constituídas, principalmente, pela reza do terço, novenas, ladainhas, via-sacra, entre outras formas de expressão.

Essas práticas eram feitas exclusivamente por leigos, pelas famílias que se reuniam para rezar em suas casas ou em capelas. A presença do padre nessas localidades, para celebrar a missa e ministrar os sacramentos, acontecia, muitas vezes, em intervalos de até dois ou três anos. Assim, o que mantinha acesa a fé das pessoas eram suas práticas de devoção.

Desse modo, o catolicismo vivido no Brasil, por mais de quatro séculos, era muito mais devocional que propriamente sacramental, de participação na missa e nos sacramentos. Essa herança devocional nós carregamos até hoje.

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O teólogo Daniel Siqueira, da Editora Santuário, explica como até hoje essa expressão da fé se faz fortemente presente na vida das pessoas: 

Ao longo dos séculos, a devoção aos santos foi se tornando cada vez mais comum. A que se atribui essa força que se perpetua até os dias atuais?

Daniel Siqueira – No início do Cristianismo, devido à perseguição, muitos cristãos davam testemunho de sua fé por meio do martírio. Esses cristãos que testemunhavam a sua fé com a própria vida eram respeitados e admirados por todos os demais cristãos. Com o tempo, foi se popularizando a celebração do dia do martírio, a veneração às relíquias e a visita aos túmulos dos mártires. As pessoas acreditavam que, pela vida e pelo testemunho que deram, os mártires estavam mais próximos de Deus e assim podiam interceder junto a Deus em favor delas em suas necessidades e angústias.

Essa força se perpetua até os dias atuais porque as pessoas se identificam com aspectos da trajetória da vida de determinado santo. Muitas pessoas têm o nome em honra a um santo, ou têm uma graça que alcançaram por intermédio desse ou daquele santo.

Outro fato foi a canonização de vários santos, nas últimas décadas, que viveram muito próximo ao nosso tempo. Isso mexe com fé das pessoas, pois esses santos viveram muitas angústias, dores e esperanças que nós também vivemos. 

Por que as práticas devocionais continuam fortes nos dias de hoje?

Daniel Siqueira – As práticas devocionais sempre tiveram papel importante no cristianismo, pois dizem respeito à forma como cada pessoa vive e expressa a sua fé. Diante das tantas inquietações e questionamentos que o homem e a mulher pós-modernos se veem afligidos, percebendo que benesses trazidas pela tecnologia não respondem a essas questões, cresce cada vez mais a procura por respostas dentro do contexto mais espiritual e religioso. Isso é percebido de modo muito sensível na infinidade de publicações religiosas existentes hoje no mercado. Assim, dentro de um contexto que diz respeito ao mundo católico, acontece um novo impulso nas práticas devocionais. 

As novenas são uma forma muito comum de expressão da fé. Como essa devoção popular tem se configurado ao longo dos anos?

Daniel Siqueira – A prática de se realizar uma novena para determinado santo ou em honra à determinada devoção, pedindo uma graça ou para agradecer é algo muito característico do catolicismo. Até há algum tempo, era comum que as pessoas se reunissem em comunidade para rezar a novena, no entanto, de alguns anos para cá, percebe-se uma mudança nesse costume. Vem se popularizando, hoje, as novenas que são rezadas de forma mais individual, ou seja, a pessoa sozinha, no seu momento de oração, reza a novena pedindo uma graça ou agradecendo. Essa mudança tem muitas causas, é a vida corrida que não deixa tempo para fazer muita coisa, para a vivência de uma fé, que hoje é mais individual que comunitária, entre outros fatores. 

Quais as características da Editora Santuário no segmento devocional?

Daniel Siqueira – A Editora Santuário sempre foi conhecida por seus títulos na área devocional, são muitas as publicações que temos neste segmento, com destaque para as devoções marianas e para as novenas. Atualmente contamos com mais de 50 títulos de novenas publicadas, contemplando os santos e as devoções mais populares; já outras são novenas que rezam as diversas circunstâncias da vida, questões existenciais e vivenciais. Em todas essas novenas, a pessoa reza e, ao mesmo tempo, é chamada a olhar para sua vida, sua existência e perceber o que ela pode fazer para melhorar a sua vida e a vida das pessoas a sua volta. As novenas reúnem em si a dinâmica da fé e da vida.

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