Por Elisangela Cavalheiro Em História da Igreja

23. História da Igreja no Brasil

História da Igreja no Brasil – XXII

01. A "Nova Republica" (1985-1990)

Com o governo do presidente João Batista Figueiredo começou um lento processo de abertura política que, na verdade, já havia sido iniciado no governo anterior, com o Presidente Ernesto Geisel. Para que isso acontecesse foi preciso romper com a linha dura do regime militar que não queria, tão cedo, esta volta ao aclamado “Estado de Direito”.

Não se sabe ao certo se esta abertura foi provocada pela movimentação das forças de oposição ao regime ou pelo cansaço das elites militares. O certo é que, movimentos como o das “Diretas Já”, ainda que a emenda constitucional proposta pelo Deputado Dante de Oliveira não tenha sido aprovada no Congresso Nacional, apressaram a volta à democracia. E sem dúvida alguma, entre os fatores que apressaram a democratização do país, conta – se a ação da Igreja, especialmente com a ação de suas lideranças e com todo o processo de reflexão – ação acontecido nas Comunidades Eclesiais.

Em 1984 constituiu – se a chamada Aliança Democrática que uniu vários partidos de oposição. Estes formaram uma chapa de governo encabeçada pelo mineiro Tancredo Neves, que veio a falecer antes de tomar posse do governo em 1985. Do lado do governo o candidato foi Paulo Maluf.

Em lugar de Tancredo Neves, morto a 21 de abril de 1985, governou o vice José Sarney (1985-1990) que teve uma vida muito dura por causa dos conflitos sociais e inflação galopante.

Esta foi uma época marcada pelos planos econômicos e pela reorganização democrática, mas a sustentação da Aliança Liberal, com a junção dos partidos dominantes da época foi bastante complicada.

Na sucessão de José Sarney teríamos o alagoano Fernando Collor que prometeu mundos e fundos, mas terminou de forma melancólica, renunciando ao poder, tendo o seu Impeachment político votado no Congresso, apesar dele ter renunciado para escapar à cassação.

Fernando Collor de Mello, o “Caçador de Marajás”, como se auto - propagou, cuja ilegalidade do esquema de campanha comandado por PC Farias, foi denunciada pelo próprio irmão, foi condenado a uma ausência política de 08 anos. Bem mais tarde voltaria como senador da república, mas diversos atos de seu governo ainda hoje são cobertos de mistério.

Este foi o tempo marcado pelo movimento dos “Caras Pintadas” e a volta de organismos quase extintos pela ditadura militar como a UNE, União Nacional dos Estudantes à vida ativa.

Tivemos na sequência o governo de Itamar Franco, marcado pela ação dos ministros da fazenda Ciro Gomes e Fernando Henrique Cardoso, o criador do Brasil do "Real". E não é que o Plano deu certo?

Embalado pelo sucesso do Plano Real o sociólogo Fernando Henrique elegeu – se para dois mandatos, tendo o seu governo marcado pela estabilização financeira, normalidade institucional e implantação do processo de privatização das companhias estatais, graças ao predomínio do neoliberalismo.

Tivemos o governo do metalúrgico petista de Luís Inácio Lula da Silva que sucedeu a Fernando Henrique e agora o governo da presidente Dilma Roussef.

Na verdade, da ideologia petista, seja com Lula, como Dilma Roussef, muito pouco sobrou, mas e a volta completa do país à normalidade democrática é a marca deste tempo.

A) Frutos da Luta de Resistência à Ditadura Militar:

A mobilização das principais forças religiosas, culturais e políticas da nação como a Igreja, os políticos de esquerda, a elite intelectual, imprensa e artistas permitiu e apressou a volta ao “Estado de Direito”.

Uma vez que os EUA haviam apoiado a implantação de governos militares ditatoriais em vários países da América Latina, a correlação de forças provocou o mesmo movimento de luta pela democracia em quase todos eles.

B) A Nova Constituição de 1988:

Teve a sua ação limitada pela não independência dos constituintes. O ideal seria a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte autônoma, mas isso não aconteceu e a tarefa de trabalhar a constituição ficou nas mãos do Congresso nacional.

Por causa do jogo de interesses partidários a constituição virou uma Colcha de Retalhos. Muitos acréscimos já foram feitos depois de sua promulgação e mais de 50 artigos ainda precisam ser completados por leis complementares, quase 25 após a sua promulgação. Apesar disso, louva – se o trabalho do Deputado Ulisses Guimarães, apelidado de “Senhor Diretas” por causa de seu empenho na redemocratização do país.

02. Um novo tempo:

A partir do governo de Fernando Henrique Cardoso o país passou a viver um novo tempo, sendo essas algumas de suas principais características:

  • O impacto do sistema "Neoliberal".
  • A onda de privatizações - Energia, transportes, comunicações.
  • O choque e os conflitos gerados pela "Globalização".
  • As reformas acontecidas e ainda por acontecer na Previdência Social, política, Administrativa e Fiscal.
  • A dependência do capital internacional e suas consequências: Recessão, desemprego, divida externa.
  • A estabilização da economia e a melhoria da qualidade de vida da população, com a ascensão de mais de 30 milhões de pessoas a uma nova classe social.

 

03. O impacto da modernidade:

Acompanhando os novos tempos a Igreja também passou por uma forte evolução a partir das décadas de 50 e de 60. Esta evolução veio acompanhada pelas mudanças no contexto sócio - político e econômico do Brasil.

A) Política:

A instabilidade e agitação dos anos 50 e início dos anos 60 iriam levar ao golpe militar de 1964, à ditadura militar a partir de 1968 e ao fortalecimento do regime militar. A Igreja se faz a porta - voz dos que não tem “nem voz e nem vez”, sendo espaço de luta do movimento que buscava a volta à normalidade democrática. A “opção preferencial pelos pobres” marcou a ação das Comunidades Eclesiais, impulsionadas pela Teologia da Libertação.

B) Economia:

A industrialização e modernização levaram a uma presença maior do Brasil no cenário internacional, apesar de sermos ainda um país exportador de matérias primas. Coisa jamais imaginada no tempo da alta inflação e dependência externa, hoje temos uma forte reserva internacional e somos financiadores de organismos como o FMI, Fundo Monetário Internacional.

C) Sociedade:

Êxodo rural e migrações internas, acompanhados de uma forte explosão demográfica, provocam o enchimento das cidades, e todas as consequências daí decorrentes.

D) Cultura:

O impacto dos meios de comunicação continua determinando mudanças no comportamento individual, grupal e familiar e a consequente crise de valores que hoje experimentamos.

Os anos 70 foram marcados pelo famoso “Milagre Brasileiro”, os anos 80 pela rápida inflação e pelo endividamento externo, que não foi totalmente superado pelo sistema neoliberal implantado nos anos 90. O Brasil continua sendo um país marcado pela desigualdade social, com regiões bem atrasadas, com problemas endêmicos, como o grande índice de analfabetismo e a precariedade do sistema educacional, de saúde e de transporte.

Todas estas mudanças fizeram com que tornasse muito forte o impacto da modernidade. Os anos 70 e 80 trouxeram o desafio da mudança qualitativa da Igreja, com um grande esforço de renovação das paróquias e das instituições tradicionais de Igreja. A consequência seria a rápida difusão das Comunidades de Base (CEBs) e das pastorais sociais que se desenvolveram sob o patrocínio da CNBB.

A Igreja se inseriu nos meios populares e redobrou sua atenção para com os excluídos da sociedade. Surgiram novas formas de vida religiosa e a mulher e os leigos ganharam um destaque maior na sua atuação pastoral.

As aceleradas transformações dos anos 80 e 90 mudaram o contexto social e político do após, com forte impacto nas estruturas econômicas. Naquele tempo, por influência do papa João Paulo II, a Igreja começou a despertar para o que se chamou de “Nova Evangelização”.

A volta da democracia, a nova constituição (1988), a grave crise econômica sofrida pelo Brasil e pelos países do 3º mundo nos anos 80, o impeachment do Presidente Collor, a implantação do Plano Real, e diversos outros acontecimentos, fizeram com que a Igreja se abrisse para um novo esforço evangelizador, destacando-se a necessidade da inculturação. Todo este esforço vai ser canalizado em diversos projetos pastorais como o projeto Rumo ao Novo Milênio que visava preparar a Igreja para o 3º Milênio. Depois dele teríamos ainda o Projeto Ser Igreja no Novo Milênio e a ação posterior da Igreja neste tempo novo que se vive.

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