História da Igreja no Brasil – XXVII
Ao longo do século XIX foram criadas muitas situações constrangedoras, que abalaram até mesmo muitos dos que tinham apoiado a saída dos jesuítas do Brasil no ano de 1759. O estado liberal, apesar de considerar a Igreja como aliada, tentava submete-la a um regime ainda mais severo, condenando, sobretudo, as ordens religiosas a uma morte lenta e gradual.
Desta forma chegamos ao final do século XVIII e começo do século XIX. A situação da Igreja católica nesta época estava indo de mal a pior.
A administração do Marquês de Pombal foi catastrófica para a Igreja e sua queda vai apressar ainda mais o fim do antigo Pacto Colonial assinado entre Igreja e Estado. O sistema colonial já caminhava para a sua desagregação e a Igreja sofria muito. Este período, conhecido como tempo da desagregação e decadência, começou com a expulsão dos jesuítas do Brasil e vai terminar em 1844 com a famosa Questão Religiosa.
FATORES DA DECADÊNCIA:
Em 1808 a família real portuguesa chegara ao Brasil e em 1815 o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido à Portugal. Mais tarde, em 1822, viria a suposta independência do Brasil. Tudo isto significava uma dependência excessiva de Portugal e depois da Inglaterra, a grande potencia do século XIX.
Paralelo a isso, padres e religiosos militavam nos movimentos que traziam reivindicações sociais. A maioria deles tinha saído dos seminários nacionais e eram influenciados pelas ideias da revolução francesa.
Outro fator de crise estava no fato da Igreja, tão dependente do tesouro do estado, já não receber em dia o que devia. Com isto, muitos sacerdotes passaram a dedicar-se a outras profissões. Em 1810, pelo tratado de comércio com a Inglaterra, os protestantes passaram a ser aceitos no Brasil e o seu culto liberado. A questão da liberdade de culto foi outra discussão deste tempo.
Em princípios do século XIX, muitos padres deixaram a zona rural e interior para residir nas cidades e vilas mais importantes, muitos se dedicando à vida mundana e à ociosidade. Paralelo a isto veio uma forte escassez de vocações, veio também a diminuição do nível moral do clero e o descuido no atendimento espiritual do povo.
As congregações e ordens religiosas, pressionadas pelo estado, viam diminuir cada vez mais o numero de seus membros.
Em 1822, com a independência, veio a Primeira Constituição do país (1824) que consagrará a religião católica como oficial do império e determinará as normas que disciplinarão a vida eclesial na colônia.
De agora em diante a política regalista cresceria ainda mais, tentando diminuir a influencia de Roma na relação com os bispos, perseguindo os religiosos que se aproximassem dos jesuítas, combate as ordens religiosas, empregando muitos meios para condena-las a uma morte lenta e na hostilidade aos sacerdotes e bispos estrangeiros.
O estado de desolação era muito grande no século XIX e a política liberal ia tomando proporções cada vez mais assustadoras no que diz respeito ao destino da Igreja. O objetivo declarado do estado liberal era usurpar os direitos eclesiásticos, tirando a liberdade da Igreja e cassando todos os seus privilégios. A questão religiosa por acontecer seria consequência deste quadro.
A ideologia liberal:
A religião católica era oficial, mas ainda assim a Igreja viria a ser tolhida de sua liberdade e afetada no exercício de sua ação pastoral. Graças ao padroado a Igreja mantinha, em pleno século XIX, uma série de privilégios que vinham bater de frente com o estado liberal. Era objetivo dos políticos de então racionalizar o poder civil, aplicando o processo de modernização ao estado. A Igreja estava ligada a Roma, graças ao documento SYLLABUS, do papa Pio IX e quase que indiferente ás transformações econômico-sociais.
O estado passava por um processo de modernização e com isto vai se chocar com esta concepção de Igreja. A tentativa será de desligar a Igreja que estava no Brasil de sua sede em Roma para poder domina-la mais facilmente. A estratégia seguida pelo estado para desestabilizar a Igreja e todos os grupos ainda ligados à antiga ordem seria seguida passo a passo.
Primeiro o estado começou a favorecer os seus aliados, combatendo a aristocracia possuidora de terras e o setor mais conservador do clero. Aos grupos oponentes os privilégios foram retirados.
Deste modo a justiça foi sendo secularizada, os poderes foram sendo concentrados nas mãos do imperador e foi sendo criada uma legislação que pudesse disciplinar as atividades e os bens das congregações religiosas, com a finalidade de se apropriar de seus bens, rompendo a ligação com os superiores que estavam no exterior.
A religião católica por ser oficial só era aceita como força moralizadora das relações sociais. E tudo devia depender do imperador que era visto como ″Defensor Perpétuo do Brasil”, apesar de sua moralidade ser abertamente contrária ao seu título.
Esta situação fará surgir muitos conflitos dos presidentes de Províncias e presidentes de câmaras municipais com a Igreja. Substituindo o pai, D. Pedro II manterá a mesma política, aliando-se a todas as forças que queriam romper com a Igreja. A maçonaria, a doutrina positivista, o iluminismo e os novos grupos políticos serão seus aliados.
O pior de tudo é que esta ação liberal do imperador tinha aprovação de parte do clero e até mesmo de certos bispos, aliados então da monarquia. A república traria a tão sonhada liberdade para a Igreja com a separação do estado.
No século XIX e princípios do século XX viria o movimento de renovação da Igreja, reagindo contra a decadência e buscando a sua revitalização.
A Igreja no Império - Manipulação dos Imperadores:
A política iniciada por D. Pedro I e continuada depois por D. Pedro II era de usurpar todos os direitos da Igreja, reservando a ela um papel meramente moralizador das relações sociais.
A Igreja católica era oficial, mas tolhida em sua liberdade. A revolução iniciada com o renascimento e continuada depois da revolução francesa chegou até nós, trazendo em seu bojo a secularização do estado. Deste modo houve um rompimento com o medievalismo que aqui ainda predominava. Na verdade impôs-se o confronto entre dois mundos, duas políticas e duas entidades: Impôs-se o racionalismo onde predominava a filosofia racional.
D. Pedro impôs o seu absolutismo. O paternalismo e o assistencialismo ganharam forma e a doutrina da ordem e do progresso, fruto do positivismo igualmente ganha força.
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