História da Igreja no Brasil – XXIX
Por causa da crise religiosa que a Igreja enfrentou no final do século XIX, varias posições antagônicas são percebidas no interior da Igreja. Estas posições vão se cristalizando provocando certa decadência. Paralelo a isso virá um grande esforço de recuperação da Igreja, caracterizado num movimento conhecido com Revitalização Ultramontana.
A Reação contra a decadência e Revitalização Ultramontana (1844 – 1889)
Em meados do século XIX e até princípio do século XX existiam duas posições no interior da Igreja: De um lado estava o grupo dos liberais que pretendia a reforma, visando restituir à Igreja o seu esplendor primitivo. Para isto, apelavam para a moralização do clero e para a sua melhor habilitação e qualificação.
De outro lado estava a corrente ultramontana que defendia a romanização da Igreja no Brasil, com a centralização em Roma, uniformidade doutrinal e moralização dos costumes.
A primeira corrente era liderada por um grupo de padres deputados e senadores paulistas. A segunda corrente vai se apoiar em figuras do episcopado que eram de relevo no cenário nacional. A corrente liberal defende o controle do estado sobre a Igreja e a iniciativa das reformas deveria ser feita pelo estado. Os bispos teriam poderes quase que totais em suas dioceses, somente que não seriam tão dependentes de Roma. Visava deste modo a criação de uma Igreja nacional. A corrente ultramontana defendia que a reforma se concentrasse no clero, que viesse determinada por Roma e que fosse totalmente isenta do estado.
Propostas concretas da corrente liberal-regalista:
Que se desse mais poder para o clero, sendo que este deveria substituir o cabildo diocesano como órgão de assessoria e colaboração. O clero, inclusive, fiscalizaria os atos do bispo. Outro ponto era a proposta de abolição do celibato sacerdotal ou ao menos o seu relaxamento, com o bispo podendo ordenar homens casados para o sacerdócio. Finalmente haveria um fundo comum, uma espécie de caixa econômica em cada paróquia e diocese, que depois seria distribuído aos membros do clero pelos funcionários da fazenda.
Estes e alguns outros pontos foram elaborados e apresentados na constituição eclesiástica para o bispado de São Paulo. Mas é claro que, normas como estas, levando-se em consideração a situação da época jamais seriam aceitas.
Revitalização ultramontana:
A corrente que defendia o ultramontanismo a principio se reduziu mais a discursos e esclarecimentos, do que na tomada de posições mais claras para solucionar a situação calamitosa do cristianismo no Brasil. Mais tarde, a corrente de revitalização ultramontana sairia vitoriosa, porque no momento não tinha existido e nem era foi possível uma corrente intermediaria.
Situação da Igreja em fins do Século XIX:
Na segunda metade do século XIX era mais ou menos esta a situação da Igreja no Brasil: As dioceses eram poucas e mal localizadas por causa da distância. As paróquias eram poucas, mal servidas e isoladas, sobretudo no interior. O clero era mal formado, dividido e muitas vezes mais preocupado com questões relacionadas com a política e economia.
No episcopado faltavam figuras de relevo e ainda por cima a pressão do estado era muito forte. Por isso, foi sendo formada uma movimentação que buscava a revitalização do cristianismo no Brasil e a reação contra a decadência.
A intervenção do estado não foi aceita e a falta de preparação psicológica do povo e do clero foi colocada como principal obstáculo, pois os episódios recentes de opressão da Igreja despertaram o medo de que a Igreja fosse reduzida a um simples departamento do estado. Com isso a revitalização seguiria em passos lentos e titubeantes.
Agentes e meios da revitalização ultramontana:
O pontificado do papa Pio IX foi profundamente centralizador e neste contexto é que podemos entender a revitalização que transbordou de Roma para a América. A definição da infalibilidade papal foi o principio da uniformidade doutrinal, que levou também à definição dogmática, supervalorização da moralização dos costumes, espiritualização do clero, combate ao liberalismo, rejeição ao progresso e avanços científicos, desligamento de tudo o que fosse problemas sociais e políticos.
Para que isto acontecesse se buscou a purificação das irmandades e confrarias, escolhendo bispos afinados com as ideias de Roma, buscando congregações religiosas para cuidar da educação feminina, ordens e congregações religiosas para cuidar da direção de seminários e as missões populares tomaram novos rumos.
Paralelo a isso, novas associações religiosas foram criadas, destacando-se entre elas os congregados marianos e vicentinos; santuários foram entregues ao cuidado dos religiosos e começou um maior investimento na formação da imprensa católica para combater a imprensa liberal.
A Igreja do final do século XIX foi ganhando uma tonalidade própria, sem uma conotação social mais forte e com um forte caráter defensivo e apologético. E claro, surgiram situações de critica e impasse dentro da Igreja. Até porque o final do século trouxe outros fatores agravantes da situação, como a crise religiosa, da qual já falamos anteriormente. Com o advento do regime republicano, a Igreja se libertaria de vez da tutela do estado, adquirindo um status mais condizente com sua missão e com a sua natureza.
Chegamos ao final do século XIX. As duas últimas décadas deste tempo trariam diversas mudanças que influenciariam em muito na vida e na atuação da Igreja. Estas mudanças aconteceriam em todo o Brasil e, mais tarde, determinariam o que hoje é chamado de modernidade ou pós-modernidade.
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