Começamos este novo ciclo de temas sobre a História da América Latina fazendo uma pergunta: Porque nosso continente é chamado de América Latina? Depois na sequência apresentamos as dificuldades surgidas ao enfrentar o estudo da História da Igreja em nosso continente, mas para facilitar a compreensão traçamos uma periodização sumária, abarcando os cinco séculos de nossa Igreja.
Num segundo momento recuperamos o que é chamado de Pré-História da América Latina, falando dos espaços físico e humano daqui e marando os principais ciclos de sua ocupação. Para isso foi preciso voltar no passado, falando também de um tempo mais próximo, falando da marcha para oeste empreendida pela humanidade, indicando as totalidades de alta cultura, como as civilizações surgidas no Oriente Médio e as áreas de contato. Depois disso entramos na nossa Proto-História falando de Israel, da Igreja Primitiva e da formação das Cristandades.
Chegando a este ponto é preciso reforçar alguns pontos e algumas marcas características das Cristandades europeias, pois só assim compreenderemos, mais tarde, o modelo de Igreja que foi implantado em nosso continente pelos brancos colonizadores.
Iniciemos traçando uma panorama geral das Cristandades
Do que se trata: De uma estreita união entre Igreja e Império (Estado) em torno da fé. Há um projeto religioso-político universal que é o Sacro Império. Por ele o imperador se faz o defensor da fé e o papa torna-se o conservador do projeto.
Na verdade, trata-se de um estado sacro e de uma forma de governo chamada de hierocracia. No nível teórico existe a famosa Lei das Duas espadas concretizada pela bula “Unam Sanctam” de Bonifácio VIII. As escolas teológicas dão a sustentação à competência do papa e seus principais representantes são Egidio Romano (+1316), Jacó de Viterbo (+1308), Álvaro Pelayo (+1350), Agostinho de Ancona (+1328).
A doutrina do Agostinianismo Político afirmava que “sem a fé não há o pleno poder político”. Por essa doutrina, os príncipes não cristãos não têm a plenitude do poder, são apenas tolerados. É preciso a consagração. Outros expoentes desta corrente são Alonso de Cartagena (+1456) e Gerson (+1429).
Desta forma surge a consciência muito impregnada em todos de que só os Papas podiam regular os descobrimentos, pois eram os legítimos vigários de Cristo na terra.
Consolidação das Cristandades: Os papas dos séculos XIV-XVIII: Inocêncio VIII (1484-1492), Alexandre VI (1492-1503), Paulo III (1534-1549), Urbano VIII (1623-1644), Benedito XIV (1740-1758), Gregório XVI (1831-1846) levam à plena consolidação da Lei das Duas Espadas, aumentando o seu poder. Esta lei em nosso continente seria denominada Lei do Padroado e causaria mais mal do que bem à Igreja.
Os papas da Idade Moderna fortaleceram a autoridade pontifícia e controlavam as relações com o Império, interferindo em todas as ordens da sociedade.
Outros elementos da cristandade
Teocentrismo: Tratava-se da sacralização das estruturas temporais. Só os cristãos eram considerados possuidores de plena personalidade jurídica.
Espírito de Cruzada: A realidade dos infiéis gerava a ideia de cruzada, pois todo aquele que ameaçasse a unidade da fé cristã era vitima da intolerância sendo considerados infiéis ou hereges.
Braço secular: O estado agia duramente todo aquele que viesse ameaçar a ordem estabelecida, sabendo-se que, como era considerado na época que toda “autoridade legítima vem de Deus”. Isso explica em parte até mesmo a ação da inquisição através de seu braço secular. Outras marcas características desta época que servem como pano de fundo para a compreensão do tempo e da realidade:
- Desagregação das forças medievais, teocêntricas e universalistas pela ação da reforma protestante que estava iniciando e pela ação das universidades;
- Nacionalismo crescente e afirmação dos estados nacionais;
- Antropocentrismo, humanismo, subjetivismo;
- Renascimento artístico-cultural;
- Capitalismo sustentado e embalado pela burguesia (comércio);
- Renascimento das cidades e do comércio;
- O imperialismo leva ao colonialismo e este, por sua vez, liga-se ao absolutismo real;
- Secularização da sociedade.
A luta pela reconquista da Península Ibérica, com seus muitos heróis, favorecerá o Espírito de Cruzada com o qual os europeus passaram às Américas.
As Cristandades do século IV ao X
Este modelo de Igreja e de mundo ganhará contornos diferenciados, conforme o lugar de sua organização, mas entre as principais cristandades podemos indicar:
- Cristandade Bizantina (Séculos IV-XV);
- Cristandade Copta, Etíope e Armena;
- As Cristandades eslavas (Russa, Lituana, dos Polacos, Croatas, Sérvios, Húngaros, Búlgaros);
- Cristandade Latino-germânica (Sacro Império).
A Basílica de Santa Sofia em Constantinopla mostra o poderio e o apogeu da Cristandade Bizantina.
Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R.
Mestre em História da Igreja
pela Universidade Gregoriana
Escreve série sobre a
História da Igreja no Brasil
para o A12.com
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