Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 21 SET 2017 - 09H48

A Igreja se prepara para enfrentar os desafios da modernidade

Em 1955, durante o Congresso Internacional do Rio de Janeiro havia sido criado o CELAM, Conselho Episcopal Latino Americano. Este conselho faria com que as decisões do Concílio fossem aplicadas com mais precisão em nosso continente. A CNBB, por sua vez, criada em 1952 teria uma missão semelhante em nosso país, apesar das dificuldades impostas pelo regime militar.

Foto: reprodução. 

Congresso Eucarístico em 1955. 

O Concílio Vaticano II no Brasil e na América Latina

A partir de 1968 com o endurecimento do regime militar, a Igreja, pelos seus documentos e pela ação de seus militantes, sobretudo, aqueles oriundos da ação social, abriu novas formas de ação num período difícil e penoso. Muitos cristãos passaram a ser perseguidos e os movimentos cristãos que lideravam a ação social em profundidade caíram na mira dos revolucionários e foram sendo diluídos ou dispersaram-se até desaparecer. 

Foto: reprodução.

O CELAM ajudou a Igreja a se colocar
no caminho do Concílio.

No ano em que a ditadura se instaurou no Brasil, o CELAM fez realizar em Medellim, Colômbia, sua segunda reunião. As conclusões de Medellim, oficializando a opção pelos pobres, mostram bem nítidas as duas visões de ser humano, de sociedade e de mundo. Tendências distintas e problemas delas decorrentes sempre aconteceram no bojo da Igreja no Brasil e também neste período estudado está realidade aconteceu. 

Tendências e problemas:

Alguns problemas e desafios continuavam e se fizeram notar a partir do Concilio Vaticano II:

A) A preocupação maior com a qualidade e com a purificação do catolicismo, fez com que a Igreja perdesse uma boa parcela das massas urbanas. Durante certo tempo a religiosidade popular foi desprezada e desencorajada. A religião se tornou mais elitista e racionalizada.

B) A crítica foi superada pela contestação. Muitas e muitas vezes se contestava, especialmente o que dizia respeito à instituição, sem colocar algo novo no lugar. Mas de positivo nesta época, tivemos as atitudes de tolerância, de diálogo e pluralismo sendo cada vez mais respeitadas e incentivadas, fruto do ecumenismo e do diálogo religioso, que agora não eram mais como teoria, mas como fruto de iniciativas concretas.

A partir de 1985 o Brasil começou a voltar ao estado de direito, sendo governado por dirigentes escolhidos pelo povo. O regime tornou-se mais democrático, apesar das dificuldades que ainda enfrentamos, devido à qualidade de nossos políticos e da consciência ainda pouco formada de nosso povo.

Foto: reprodução.

Figuras conhecidas do
episcopado nacional
ajudaram na luta pela
redemocratização do país.

A Igreja e a sociedade moderna - de 1968 aos nossos dias

A partir de 1968 diversos acontecimentos eclesiais, vão contribuir para aplicar concretamente entre nós, o Concílio Vaticano II e vão ajudar a firmar o novo modelo de Igreja conhecido como Pós-Conciliar. Com isso, a Igreja no Brasil se colocou decisivamente nas estradas do Concílio.

Entre estes acontecimentos citamos as conferências episcopais de Medellim – Colômbia (1968), Puebla – México (1979), Santo Domingo em 1992 e a última de Aparecida em 2007. Em nível de Igreja no Brasil vão tornar-se de grande importância as assembleias anuais realizadas primeiro em Itaicí e agora em aparecida, como organismos de estudo, planejamento e coordenação da caminhada pastoral da Igreja.

Alguns acontecimentos de Igreja terão repercussão mundial e o episcopado nacional estará na linha de frente da ação social da Igreja. A opção pelos pobres, a teologia da libertação, a solidariedade da Igreja para com os perseguidos do regime militar e o sofrimento dos padres e leigos perseguidos pelo regime militar mobilizarão as opiniões. 

Foto: reprodução. 

Paulo VI esteve no encerramento de Medellín. 
Pela 1ª vez um papa visitava a América Latina

As últimas décadas do século XX não foram fáceis para a Igreja. Sobre algumas dificuldades já tivemos oportunidade de elencar, como o elitismo da religião, os exageros cometidos na hora da critica e da contestação.

 

Paralelo a este esforço da Igreja de ser presença atuante na sociedade moderna vem o crescimento dos grupos religiosos autônomos, conhecidos popularmente como seitas, e a fundação de um incontável número de igrejas, especialmente na onda do neopentecostalismo.

Se de um lado o regime militar dificultava a entrada de religiosos e missionários no país, por outro lado facilitava e até mesmo incentivava o crescimento religioso autônomo como forma de diminuir a ação e influência da Igreja, especialmente nas periferias dos grandes núcleos urbanos e nas zonas rurais onde havia uma ação das comunidades de base.  

As Comunidades Eclesiais de Base são uma das heranças do Concílio Vaticano II e das Conferências episcopais.

Dificuldades e Desafios na Ação Pastoral

O avanço rápido da modernidade, sobretudo, a partir do momento em que o Brasil começou a passar por rápidas e profundas mudanças na ordem econômica e social trouxe desafios e dificuldades na ação pastoral da Igreja, provocando a perda de um considerável número de fiéis, a divisão interna e a polarização da Igreja ao redor de algumas questões. Delas, algumas ainda não foram de todo superadas e entre as mais importantes podemos enumerar:

A) As divergências externas e internas com respeito aos métodos de pastoral e mentalidade dos agentes, com acusações, recusas e até mesmo maltrato.

B) As dissenções internas e a falta de unidade no episcopado, no clero e nos grupos de católicos, com ideologias radicalmente contrárias: Conservadorismo X grupos mais liberais.

C) A crise em profundidade no clero, especialmente nos anos de 1970/80 com o fechamento de seminários, diminuição do número de vocações, evasão, laicização de padres e afastamento do ministério.

D) As mudanças na vida religiosa, com a busca de um sentido novo para a consagração religiosa e votos.

Outras novidades, porém, vieram fazer com que a vida eclesial fosse de uma riqueza muito grande neste período.

 

Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R. 
Província São Paulo

Escreve série sobre a 
História da Igreja no Brasil 
para o A12.com

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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