Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 25 MAR 2019 - 17H27

O túmulo estava vazio!

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Domingo - Páscoa do Senhor

A experiência decisiva da fé em Cristo segundo o Evangelho é a Páscoa. Esse foi o primeiro e é o mais fundamental anúncio cristão ao mundo: Jesus Cristo morreu e ressuscitou! Tal anúncio nasceu de uma experiência sobrenatural feita em primeiro lugar pelos apóstolos e os seguidores contemporâneos de Jesus. Por isso, ao narrar as aparições de Jesus ressuscitado os Evangelhos não estariam propriamente interessados nela, ou mesmo no acontecimento histórico como tal! Estão proclamando um ato de fé que é professar a ressurreição de Jesus como o sinal mais afirmativo da salvação de Deus para os homens. De todas as ações, de todos os atos salvíficos de Deus em nosso favor, esse foi e é o máximo para a Bíblia. É o sinal mais irresistível e convidativo para as pessoas acreditarem em Cristo. Nele a graça divina superou o pecado! A vida venceu a morte! Em Jesus, a nossa natureza humana, antes sujeita ao pecado, à concupiscência, ao erro, foi libertada de modo radical. Foi resgatada e salva por Deus!

Uma informação histórica por mais fidedigna que seja é sempre limitada. O que adiantaria, por exemplo, alguém que tivesse visto Jesus em seu corpo glorioso, contar para os outros? Seria considerado sempre um “vidente” apenas. Acreditar nele seria uma fé humana: fé na palavra de uma pessoa, mesmo que fosse um apóstolo! A fé na ressurreição vai muito além da constatação histórica. Ela não é a comprovação intelectual de um fato. É um dado sobrenatural. É uma experiência interior e compartilhada do projeto salvador de Deus, acontecido na pessoa e na missão de Jesus.  Na ótica dos Evangelhos, a ressurreição do homem Jesus Cristo é o “sinal”, o indício, a pista mais adequada para alguém abrir-se à fé, abraçá-la e compreendê-la. Os evangelhos não veem a ressurreição de Jesus como um simples retorno à sua vida anterior. Embora ele tenha se mostrado, tenha sido visível nas aparências dessa condição, pois Jesus conversou, comeu e bebeu com os discípulos. Os apóstolos e discípulos tiveram a consciência de que uma nova forma de vida invadira o corpo humano do Mestre e o fizera glorioso, isto é, libertado da forma material humana sujeita ao tempo e ao espaço. Logo, crer na ressurreição de Jesus, implicava e implica aceitar que seu corpo humano foi assumido dentro da realidade sobrenatural de Deus. A fé no Cristo ressuscitado é a primeira fonte da Igreja e fundamento de todo o seu trabalho evangelizador no mundo. Um túmulo sim, mas vazio! Esta expressão sintetizou e marcou na convicção dos apóstolos e primeiros discípulos a fé em Cristo ressuscitado! Leia: Joao, 20, 1-9.

É oportuno relembrar: em vez de uma simples narrativa histórica, temos uma página de catequese e reflexão teológica. A própria palavra “túmulo” é palavra-chave, pois revela a intenção catequética de São João. Num trecho tão curto ele nomeia 7 vezes a palavra “túmulo”. A cena toda concentra nossa atenção nisso: o túmulo de Jesus estava vazio! Convida a acreditar na ressurreição. Os discípulos não acreditaram de uma hora para outra, mas fizeram a experiência progressiva a respeito da nova condição de vida de Jesus.

Jesus ressuscitado - Um túmulo vazioAssim, a morte e a ressurreição de Jesus iniciou uma nova criação. Este é o sentido da informação: no primeiro dia da semana, que abre a narrativa. Hoje entendemos que se refere ao domingo. Mas na catequese de João, refere-se também à Criação. Jesus ressuscitado deu origem a uma nova raça humana, um novo tempo. Em Jesus, Deus criou um “homem novo”, liberto do pecado de Adão, o homem velho.  Outro dado catequético está na própria visita de Maria Madalena ao túmulo. Foi lá sozinha, ainda no escuro da madrugada. Ela não encontrou o corpo do Senhor.

Foi procurar o apóstolo Pedro e o informou que o cadáver tinha sido tirado do túmulo. Ela fala assim: “Não sabemos onde colocaram” (v.2). Tinha ido sozinha e agora fala no plural? “Não sabemos”. Ela representa na cena a comunidade cristã que ainda anda no escuro da fé. Ou seja, que não percebeu no seu relacionamento com Jesus o “sinal” da ressurreição. Não experimentou a vida nova dele porque não sabe procurá-la, logo, não a encontra. João quer dizer ao leitor que sem fazer a experiência da fé pascal, vai encontrar só um túmulo vazio, como lugar do fracasso e da morte.

Mas há uma corrida de dois discípulos também até o túmulo. Um deles é Pedro: o outro não é nomeado, é só indicado como “o discípulo que Jesus amava” (vv2-3). Seria o próprio João evangelista? Ou pode simbolizar todo o verdadeiro discípulo de Jesus, aquele que é identificado pelo amor. O amor dá ânimo, faz chegar antes à experiência íntima de Jesus e da sua vida nova. O amor dá forças, como assinala o texto: “O outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo” (v.4). Mas, foi respeitoso e solícito esperando Pedro chegar e aí os dois viram os panos fúnebres, o sudário, enfim: os “sinais” da nova realidade de Jesus. Viram e creram!

 

É a lição maior do texto! O túmulo vazio de Jesus é esperança de vida nova na fraternidade

É a lição maior do texto! O túmulo vazio de Jesus é esperança de vida nova na fraternidade.

A fé em Jesus ressuscitado é partilhada na convivência de uma comunidade: a Igreja. Quem antes de Maria Madalena fez essa experiência sobrenatural foi a Virgem Maria. Desde que o concebeu na Encarnação misteriosa, ela acompanhou o itinerário pascal do Filho, mesmo sem compreender os fatos. Por isso, Maria é para nós e o será em todos os tempos, ícone da Igreja que somos. Discípula exemplar e mãe auxiliadora de nossa peregrinação até a Páscoa eterna.

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