Por Everton Vieira da Silva Em Artigos Atualizada em 12 MAI 2020 - 15H33

Aparecida nas águas: fruto da pronta obediência


Thiago Leon
Thiago Leon


Três humildes e obedientes pescadores - Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso - moradores da Vila de Guaratinguetá, acatando prontamente o mandato do Capitão Mor da Câmara da cidade, puseram-se a caminho do Rio Paraíba do Sul, a fim de recolherem peixes. O motivo para tal incumbência era muito sério e importante. Estava para chegar na Vila de Guaratinguetá o Conde de Assumar, Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal Vasconcelos, e sua comitiva. Este era o Governador de São Paulo e das Minas. Sua rápida passagem pela Vila deu-se na segunda quinzena do mês de outubro de 1717. O dito Conde de Assumar vinha de Portugal. Chegara ao Brasil em julho daquele mesmo ano. Tomara posse como Governador da Capitania de São Paulo no dia 31 de agosto e estava a caminho das Minas.

Não havia peixes nas águas do Paraíba. Não saberia desse detalhe o Capitão Mor antes de ditar tal mandato? Colocaria os pobres pescadores em situação constrangedora e complicada? Pobres pescadores! Que situação embaraçosa e difícil missão dada! Conhecedores das águas do Paraíba, sabiam por experiência que o rio não dispunha de peixes naquela época do ano. Mesmo assim, colocaram-se em movimento. O jeito era descer ao rio e tentar. Não lhes custava nada. Afinal, ficar sentados à espera não faria brotar peixes para a mesa do ilustre visitante. A fé e a boa vontade em realizar tal missão, fizeram com que suas mulheres e crianças também pescassem, mas não em canoas e com redes em suas mãos.

Foi uma pesca diferente. Enquanto os pescadores traziam as redes em suas mãos, as mulheres continham o rosário e, nas contas de cada Ave Maria suplicavam patrocínio à Senhora da Conceição. Os destemidos e esforçados pescadores, confiando nas súplicas e cantorias de suas senhoras, desceram rio abaixo, diretamente para o porto de José Correa Leite.

O Paraíba é imenso. Sua nascente é na Serra de Bocaina, no estado de São Paulo. Adentrando as águas do longo rio, lá estavam os pescadores, desejosos pela pesca. Às margens, suas senhoras, tão piedosas e confiantes em Deus, continuavam pescando ao passar cada conta do rosário, em prece, pedindo ajuda e os favores da Senhora da Conceição.

Foram muitos lances desde o porto José Correa Leite até o Porto Itaguaçu. Pobres pescadores! Suas redes ainda não haviam tido contato com um peixe sequer.

No Porto Itaguaçu, já cansados com a lida, João Alves lançou sua rede rio adentro. Sentindo o peso nas linhas da rede, tirou algo das águas. O que seria? Os esperados peixes? Pensavam que fosse um toco de madeira qualquer, mas não! Ao retirarem viram que era um corpo de uma santa, mas estava quebrada, sem a cabeça. Acharam estranho!

Pois bem, era preciso retornar à pesca, pois o Conde estava para chegar. O tempo era curto e o trabalho intenso. Colocaram-na na canoa e prosseguiram rio abaixo. Ao lançar novamente as redes, como última tentativa, talvez, encontraram a cabeça da imagem que haviam pescado fazia pouco instante. Juntaram a cabeça ao corpo. Perfeito! Encaixou-se perfeitamente. Era uma peça só. Observaram que era a imagem de Senhora da Conceição, à qual pediram seu patrocínio antes de jogarem suas canoas no rio.





Como explicar a presença daquela imagem, ali no fundo do Rio Paraíba?

Como explicar a presença daquela imagem, ali no fundo do Rio Paraíba? Só Deus poderia dar essa resposta. Guaratinguetá era um lugar de trânsito de pessoas. Muitos por ali passavam. Comerciantes, andarilhos, enfim, todo tipo de gente. Pode ser que nessas idas e vindas, alguém que possuía a imagem, quebrou-a na viagem e, simplesmente, como dizia o costume, lançara nas águas do rio corrente do Paraíba. Ainda é costume fazer esse gesto entre nós. O fato é que somente aqueles abençoados e privilegiados pescadores puderam viver essa história quase que inexplicável, mas vivida com a fé e pela fé.

Contam os estudiosos e pesquisadores que a imagem, “Aparecida” nas águas do Paraíba, de barro paulista, do século XVII, feita em terras brasileiras, em Santana de Parnaíba, havia sido esculpida por frei Agostinho da Piedade, um escultor português.

Tal acontecimento, presenciado unicamente por João, Filipe e Domingos, seria sinal da providência de Deus? Até então não tinham pescado um peixe sequer. Mas isso não foi motivo para desânimo e abatimento. Confiantes e alegres pelo achado da imagem, lançaram redes novamente. Milagre! Peixes em abundância surgiram do nada. Estranho, pois até então, depois de tanto lançar redes, não haviam pescado nada. Seria o rio traiçoeiro e não queria dar-lhes os peixes? Não! Realmente um fato miraculoso. A quantidade de peixes apanhados era enorme. Era preciso retornar às margens, pois a canoa corria o risco de virar com eles.

Certamente, o banquete oferecido ao Conde de Assumar foi farto e ao degustar os peixes, fruto da providência de Deus, teria o Governador ficado satisfeito com a recepção espetacular oferecida pelos os moradores de Guaratinguetá. Podemos dizer que o importante governador seguiu viagem feliz com os peixes recolhidos em abundância pelos pescadores no rio Paraíba.

Também os pesadores se beneficiaram da ação poderosa e generosa de Deus. Além dos peixes, foi lhes dado um presente das águas. Deus entregou sua Mãe para ser também Mãe deles e de todo o nosso Brasil. Somos agraciados, isso sem dúvida nenhuma, e após 300 anos do aparecimento da Virgem Maria, somos, cotidianamente, enriquecidos pela pesca milagrosa nas águas do rio santo do Paraíba.

Os primeiros devotos de Aparecida, aqueles que a retiram do fundo das águas do Rio Paraíba, Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, nos ensinam hoje, no terceiro centenário do encontro da imagem, a pronta obediência. A Virgem Maria nas bodas de Caná, nos diz que é preciso fazer tudo o que ele nos pedir (Cf. Jo 2, 1-11). A fé multiplica os dons de Deus em nossa vida. A obediência é o caminho para colher os bens em abundância da parte de Deus, que desejoso, quer nos abençoar e derramar sobre cada um de nós, as graças e favores do seu imenso amor.

Celebrar o Ano Mariano é fazer memória da ação de Deus em favor do nosso povo, que recorre incessantemente ao poderoso patrocínio de Nossa Senhora.

O Ano Mariano, celebrado em nossa pátria, por motivo do jubileu dos 300 anos de Aparecida, marcará nossa história e nossas mentes. Verdadeiramente, é uma graça para a Igreja no Brasil e para todos os brasileiros. O povo, devoto e peregrino da Virgem de Aparecida, ao homenagear sua Mãe querida, proclama o Evangelho de seu filho amado, Nosso Senhor Jesus Cristo, pois ela acolheu por primeiro a boa notícia quando visitada pelo Arcanjo Gabriel. Somos acolhidos, amparados e consolados por Maria, pois, através da sua maternidade por cada peregrino, revela-se o rosto misericordioso de Deus.  

 Seminarista Everton Vieira da Silva
Seminário Missionário Arquidiocesano Redemptoris Mater
Brasília / DF

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