Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 21 SET 2017 - 09H59

História da Igreja: A evangelização e colonização do continente latino-americano

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA NA AMÉRICA LATINA
Parte 16

Chegada dos europeus na América

Todos nós sabemos que a evangelização não é um processo intrinsecamente puro e nem se faz de forma abstrata. No caso da evangelização do continente latino-americano aconteceu uma interligação entre o ato de evangelizar e o de colonizar, ou seja, essa integração se deu na forma de ocupação das terras que foram conquistadas, tanto por Portugal como pela Espanha.

Ao longo dos séculos de colonização, aos menos enquanto existiu a mau falada Lei do Padroado, Igreja e Império foram parceiros na evangelização, da mesma forma como que a partir das estruturas eclesiais erguidas, surgiam possibilidades novas de ocupação de vastas regiões. Onde religiosos, como os beneditinos e franciscanos construíam seus mosteiros e conventos, surgiam cidades hoje florescentes como São Paulo, Rio de Janeiro, Lima e Cidade do México.

Desta forma podemos entender como se deu a evangelização em nosso continente, quais foram seus principais agentes e ainda as dificuldades e desafios enfrentados pelos missionários em seu afã de evangelizar. 

Agentes da Evangelização

Para entendermos a ação de evangelizar alguns elementos precisam ser logo destacados. Entre eles ressaltamos a consciência missionária dos reis de Espanha chamados justamente de “Reis Católicos”, como foi o caso dos reis Fernando e Isabel que comandavam o Império Espanhol quando da conquista da América. Ao lado disso entendemos os deveres e privilégios vindos da Lei do Padroado. Por ela o estado devia providenciar todos os detalhes necessários ao sucesso das expedições colonizadoras e evangelizadoras. Aos poucos vai crescendo a disposição de organizar as reduções e também vão se implantando as Igrejas locais.

Como se dava o processo de colonização: Primeiro se descobria uma região, criavam as estruturas mínimas que possibilitassem a manutenção da conquista, se organizava e se criava um bispado ou se construía um convento, tendo ao lado a igreja onde se atendia a população local.

O movimento colonizador basicamente seguiu este roteiro: A conquista atingiu primeiro as Antilhas, chegou ao México, subiu para onde hoje temos a Flórida, expandiu-se para a América Central e também para a América do Sul ou meridional.

As jurisdições tanto civis, como eclesiásticas, na maioria das vezes eram muito precárias e as dificuldades eram muitas por causa das distâncias. Sedes episcopais ficavam vacantes por longos períodos porque seus ocupantes deviam vir da Europa e o isolamento do clero do interior fazia com que o contato dos padres com as dioceses fossem apenas ocasionais.

Cronologia das fundações: Até 1536 foram criados 16 bispados em toda a América Latina; em 1547 foram criadas 03 sedes de arcebispos e, mais ou menos na época da independência já existiam de 35 a 40 circunscrições eclesiásticas em todo o continente.A diocese mais antiga das Américas é a de São Domingos, criada em 1511. No Brasil a primeira diocese, a de Salvador, foi criada em 1551.

Foto de: reprodução. 

Catedral de São Domingo

Catedral de Santo Domingo: A Catedral de Santa María la Menor, assim como a diocese de Santo Domingo,
são as mais antigas da América. 

 

O ideal de Bispo e de Missionário

O 3º Concilio de Lima realizado em1582/83 foi essencialmente missionário, tratando a fundo diversas questões como a dos indígenas, criando disposições que orientassem o trabalho pastoral dos párocos e missionários.Ele também se ocupou dos bispos mostrando que da reforma dos pastores dependia a reforma do povo e do clero. Sobretudo, por influxo de São Turíbio de Mogrovejo este concilio superou o de Trento em originalidade e inovação, mostrando o ideal Hispano-Americano de bispo como essencialmente missionário.    

O 3º concilio do México realizado em 1585 mostra também a dimensão missionária do episcopado. Não só de um episcopado renovado, mas também de um episcopado missionário. Esse era um novo padrão de bispo até então desconhecido pela cristandade europeia.

Foto de: reprodução.

São Toribio de Mogrovejo

São Turíbio se destacou pelo incentivo à
catequese e realização de três
concílios provinciais. 

Critérios na eleição dos bispos: O imperadorCarlos V preferia bispos oriundos do clero secular, o Conselho das Índias preferia os religiosos vendo neles maior compromisso na evangelização, maior desapego e desinteresse econômico, além da humildade e simplicidade que eram mantidas mesmo depois da nomeação ao episcopado.

Normalmente era escolhido quem morava na Península Ibérica, por maior facilidade burocrática e para que houvesse maior liberdade apostólica no continente. 

Importância do trabalho dos religiosos

Durante o século XVI aproximadamente 3.100 clérigos passaram para a América sendo 2700 religiosos, 400 seculares. A maioria destes chegou após 1568. A partir deste ano uma junta promovia o recrutamento e a viagem dos missionários, pois a vinda à América era praticamente uma viagem sem retorno.

Critérios sobre os religiosos Missionários. Durante aproximadamente 70 anos a maioria dos missionários era proveniente das ordens Franciscana, Dominicana, Agostiniana e Mercedária. Mais tarde o rei Felipe II inclui a ordem dos Jesuítas.Dava-sepreferência pelos membros das ordens reformadas e de alto nível espiritual.

Preferiu-se concentrar em poucas ordens, não só porque elas eram maiores, tendo mais membros, mas também para evitar uma variação muito grande, pois a diferença de metodologia e hábito confundiria demais aos índios como se fossem diversos cristianismos. Além disso, há de se entender a oposição natural que havia entre as ordens.

A preferência recaiu sobre os religiosos de vida ativa e não tanto sobre os monges ou contemplativos quase que pelos mesmos motivos já alegados. Religiosos de vida ativa podiam sair de seus conventos em longas expedições evangelizadoras, acompanhando os colonizadores, o que para monges seria mais complicado.

Praticamente os religiosos detiveram o monopólio da evangelização nas Américas, mas um problema que sempre foi sentido é e até hoje não de todo superado era a escassez de pessoal. A viagem corria por conta da coroa, mas os que embarcam deviam ser recomendados pelos seus provinciais.

Foto de: reprodução. 

Chegada dos europeus na América

Chegada dos Europeus à America: aos religiosos coube a maior parte do esfoço
evangelizador em terras latino-americanas.

 

Problemas e dificuldades enfrentadas na evangelização. Tantas vezes o superior mandava aqueles religiosos dos quais queria se ver livre, impedindo a viagem dos melhores.Conforme as províncias da América foram crescendo a metrópole foi se desinteressando por elas, com a consequente diminuição do fluxo e da qualidade dos missionários.

A partir de 1568 a junta recrutadora ordenou que em Lima e no México houvesse colégios especializados para a formação de missionários.A preocupação constante era com os aventureiros, com os maus costumes e com o mau comportamento dos religiosos. Outro problema sério era os inconvenientes provocados pela solidão e pelo isolamento.

A maioria dos missionários era espanhola, mas entre os jesuítas havia também alemães, flamengos, italianos e franceses. 

Qualidades dos missionários

Aos que passavam ao continente eram exigidas certas qualidades e elencados certos requisitos.

Aos Bispos. A maioria era melhor do que os que ficavam ao continente, pois deviam ser da Igreja Reformada, mas ainda assim muitos problemas se repetiam como a falta espírito apostólico; muitos só tinham o desejo de enriquecer-se e aqui também repetiam-se os velhos problemas já encontrados na metrópole como a concubinagem e o não cumprimento do celibato.

Aos Missionários. Apesar do rigor seguido na sua escolha, ainda assim a deficiência principal era a falta de zelo apostólico, a indolência, o espírito aventureiro e de cobiça e os problemas referentes ao não cumprimento da lei do celibato.

Segundo o Frei Bartolomeu de Las Casas eram estas as qualidades necessárias ao evangelizador:

Não ter intenção de dominar os ouvintes;
Não ter ambição de riqueza;
Docilidade, humildade, amabilidade e benevolência – quem ouve a pregação, dizia ele, deve ter vontade de ouvir mais e guardar aquilo que ouve;
Sentir amor e caridade pela humanidade à exemplo de São Paulo. 

Outras qualidades: Santidade, suficiência em letras e línguas, prudência e uma vida baseada na simplicidade e coerência. Neste sentido, o México foi mais afortunado, o Peru e a Nova Granada foram menos afortunados na qualidade de seus missionários.

Mas a maior preocupação mesmo era com a vida de pobreza, tão fundamental para a evangelização, pois isto diferenciava missionários dos colonizadores. A grande maioria dos que vinham à América traziam os ideais de pobreza e de simplicidade da reforma. Foram estes exemplos que, de verdade, edificaram a nossa Igreja latino-americana e tornaram o nosso continente o mais católico do mundo, com a fé cristã enraizada em nossa vida e em nossa cultura.

O problema das línguas: Só no México eram mais de 50 línguas e outros 70 dialetos.Aos poucos foram sendo redigidas as gramáticas e doutrinas nas línguas nativas, assim como vocabulários e instruções para uso dos missionários, facilitando em muito a obra de bem evangelizar.  

Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R. 
Mestre em História da Igreja  
pela Universidade Gregoriana 

Escreve série sobre a 
História da Igreja no Brasil 
para o A12.com

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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