Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 21 SET 2017 - 09H41

História da Igreja na América Latina: a crise da cristandade colonial

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA NA AMÉRICA LATINA 
Parte 27 

A Cristandade Colonial na Encruzilhada 

A partir de 1492, na América Espanhola, e 1500, na América Portuguesa (Brasil) com a chegada do conquistador europeu e com a subjugação das culturas nativas ao poderio europeu, veio também a implantação do catolicismo nos moldes romanos em nosso continente.

A fé cristã a partir da implantação passou por uma fase de organização, depois de consolidação e de pleno estabelecimento em terras latino-americanas até chegarmos ao século XVII e XVIII quando, tanto a colonização como a evangelização passaram por um período de crise, precisando ambos quase que se “reinventar”. 

expulsão dos jesuítas
Expulsão da Companhia de Jesus dos domínios portugueses.

Crescimento e crise do Século XVII:

De 1759 a 1831, período que coincide com a expulsão dos Jesuítas, ao tempo do pontificado do Papa Gregório XVI, se produz a quebra dos laços da cristandade americana e a crise da emancipação, com a constituição das modernas nações latino-americanas.

Situação romana e política Peninsular Metropolitana. O século XVII e também o XVIII veriam nascer e se consolidar nas Américas os chamados “movimentos nativistas”, forças que se uniram para lutar pela emancipação das colônias e que depois de um período de luta iriam se dividindo constituindo as diversas nações latino-americanas. Um dos primeiros países a se emancipar foi a Argentina (1811) e um dos últimos foi o Brasil (1822).

Alguns sinais como o crescente regalismo praticado pelos reis e príncipes europeus, o fortalecimento do absolutismo monárquico e as influências do iluminismo de Rousseau e Voltaire caracterizam este período.

Ao lado disso teríamos a ascensão total da burguesia que passou a controlar o comércio mundial, estabelecendo os elementos básicos do mercantilismo praticado pelas nações mais desenvolvidas.

Todo e qualquer grupo que oferecesse resistência ao poder da burguesia e à centralização do poder político nas mãos das monarquias passou a ser combatido e eliminado. Em Portugal, na Espanha e em outras nações modernas da Europa vigorará o sistema político conhecido como Despotismo Esclarecido. Um dos grupos considerados de oposição e inimigo, portanto, desta nova conjuntura política era a Igreja e dentro dela a Companhia de Jesus que, além disso, tem uma grande influência por causa de sua presença forte no Sistema Educacional. A Igreja também passa a ser considerada uma força retrograda aliada do Antigo Regime.

Isso explica a pressão que vai levar à expulsão dos Jesuítas que só pode ser colocada dentro deste contexto. A Burguesia européia atacava a estrutura eclesial para poder exercer a hegemonia ideológica na sociedade civil, eliminando a Igreja desta função. 

Foto de: reprodução. 

Burguesia

A nova classe burguesa se alia com a monarquia
para ser a mola mestra do novo
sistema econômico europeu. 

Porque os Jesuítas?  

Desde a Paz de Westfalia, assinada em 1648, o papado vinha perdendo a maior parte de seu poder e de sua influência nas decisões políticas entre os Estados Europeus.

O fato dos papas deste período serem de pouco relevo vai contribuir na diminuição desta influência: 

- Clemente XI (1700-21) é o papa da questão dos ritos Chinês e Malabar que foram proibidos em 1704, dificultando a consolidação do cristianismo na Índia e na China. 

- Bento XIV (1740-1758) é o papa que introduziu o iluminismo em Roma. Ele foi um papa débil, que fez muitas concessões e que assinou o concordato amplamente favorável à Espanha em 1748. Neste tempo se deu as influências jansenistas e galicanas no catolicismo iluminado. 

Como as classes emergentes, leia-se burguesia, precisavam de um estado forte, mesmo que monárquico, para unificar o mercado nacional e internacional, elas passam a se opor às ordens religiosas como um poder supranacional, que ainda estavam aliadas às classes do Antigo Regime.

A Burguesia, porém, não se opôs abertamente, mas infiltrou-se na Igreja, conquistando setores importantes até mesmo do episcopado, opondo-se à Santa Sé, ao sistema educacional do Sistema Escolástico, ao feudalismo medieval, à inquisição e à apologética. Voltou-se também contras as Ordens Religiosas e contra a prática das devoções populares. Em suma, tudo o que constituía a Cristandade, seus elementos básicos e formadores da base social de então passou a ser objeto de crítica e oposição das novas classes dominantes

A expulsão dos Jesuítas foi provocada pela burguesia, para eliminar um inimigo estratégico, fazendo com que a Igreja deixasse de ser opositora dos interesses capitalistas da burguesia nascente. 

Marques de Pombal
Marquês de Pombal era ministro de Dom José e influenciado pelo Iluminismo defendia a política do Despotismo Esclarecido.
 

Fases da expulsão

Os 10 mil Jesuítas que estavam nos países latinos e na Índia eram uma considerável força de oposição à pretensão burguesa de hegemonia, pois a Companhia de Jesus havia nascido junto com o capitalismo e os seguidores de Santo Inácio de Loyola tinham uma mentalidade modernizante. Nos países protestantes a burguesia só triunfaria sobre o catolicismo medieval no tempo da reforma.

Com o Papa Bento XIV aumentaram as concessões a Portugal e Espanha e com o Papa Clemente XIII (1758-69) os Jesuítas foram finalmente expulsos. A Europa vivia o tempo do Despotismo Esclarecido e em Portugal reinava soberano o primeiro-ministro Marques de Pombal.

No caso das colônias, tanto de Portugal como da Espanha, localizadas em terras americanas, o motivo imediato da expulsão foi a questão das Reduções Jesuíticas do Paraguai que eram um bastião de resistência ao colonizador, livrando os índios de sua sanha colonizadora. 

Papa Clemente XIV
Papa Clemente: Os jesuítas foram supressos em 1773 e restaurados em 1814.
 

A expulsão total dos Jesuítas foi precedida por uma variada publicação de obras contrárias ou pouco favoráveis a eles. 

- Em 1759 foram expulsos de Portugal e de suas colônias.

- Em 1762 foram expulsos da França, seus bens foram confiscados e em 1764 se declarou a ordem suprimida.

- Em 1767 a ordem foi expulsa da Espanha e de suas colônias, de Nápoles e em 1768 de Parma e Piacenza.

- Em 1773 o Papa Clemente XIV (1769-1774) suprimiu a ordem pelo breve Dominus Ac Redemptor Noster.

A maior parte dos Jesuítas expulsos foi acolhida na Rússia, até que em 1814, pela Bula Sollicitudo Omnium Ecclesiarum o Papa Pio VII reorganizou e restituiu a ordem.

As outras ordens religiosas pouco ou nada sofreram porque não ofereciam perigo à hegemonia da burguesia, aliada da maioria das casas monárquicas da Europa.

Colunista padre Inácio    

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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