PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA NA AMÉRICA LATINA
Parte 14
Assim como aconteceu com o restante da América Latina, área dominada essencialmente pelos espanhóis, também no Brasil, a imensa obra de evangelização aqui realizada nos primeiros tempos da colonização, pode ser dividida ou organizada em Ciclos de Evangelização que são ao menos cinco. Apesar de todos terem algumas características comuns, em cada um deles se notam algumas realidades específicas. E claro, como nos primeiros séculos da colonização no Brasil os exploradores portugueses se detiveram mais no litoral, haja visto que hoje a maioria de nossas cidades encontram-se na faixa litorânea de nosso território, foi também por ali que começou o trabalho pastoral e evangelização.
Ciclo do Litoral
Foi iniciado a partir dos polos, as cidades de Salvador e Olinda. Este ciclo foi obra dos Jesuítas que organizaram os aldeamentos partindo de Salvador na direção tanto do norte quanto do sul.
Por outro lado, em 1585 foi constituída a Custódia Franciscana de Santo Antônio de Olinda. Percebe-se que os franciscanos se situavam mais nas cidades, enquanto os Jesuítas eram mais afeitos para o trabalho nas frentes de missão.
Em 1581 chegam os Carmelitas à Paraíba e os Beneditinos chegaram à Bahia em 1586; depois iniciaram seu trabalho no Rio e São Paulo em 1598.
Mais ou menos podemos delimitar que a duração deste ciclo durou entre 1550 e 1650, período em que predominou mais a exploração predatória do Pau Brasil e a introdução do cultivo da Cana de Açúcar, baseando-se este cultivo especialmente na prática do latifúndio, sustentado por mão de obra escrava.
Por causa da oposição dos colonizadores e dos muitos conflitos na defesa dos índios, os jesuítas foram expulsos em 1593 da Paraíba, de São Paulo em 1640, do Maranhão e Pará em 1661 e de todo o Brasil em 1759.
Por volta de 1630 havia no Brasil uns 30 mil portugueses e quase o mesmo número de escravos.
Marco importante deste ciclo foi a criação da Diocese de Salvador e o início da organização eclesiástica no Brasil, tendo ainda o destaque de figuras de proa da nossa Igreja como os jesuítas Manoel da Nóbrega e José Anchieta.
Foto de: reprodução.
Com a criação da Diocese de Salvador e com a
nomeação de seu primeiro bispo,
começa a organização da estrutura
eclesiástica no Brasil.
Ciclo do Sertão (Rio São Francisco)
Este ciclo começou por volta da 2ª metade do século XVII e nele se destacaram os missionários capuchinos enviados ao Brasil pela Sagrada Congregação de Propaganda Fide.
Com a expulsão dos Holandeses que dominaram o Brasil, especialmente o Nordeste entre 1623 e 1649, período em que o Brasil esteve sob a tutela de Espanha que estava unida a Portugal, descuidando ainda mais de nossas terras, os missionários penetram pelo Rio São Francisco organizando aldeamentos. Quando se retiraram em 1698 sua ação foi continuada pelos Carmelitas.
A partir da 2ª metade do século XVII chegaram também os oratorianos e as antigas ordens retomaram o Sistema de Reduções.
Já durante o Império também os franciscanos assumiram missões até a proximidade da República.
Neste ciclo o trabalho enfrentou basicamente duas grandes dificuldades que vinha da oposição ao sistema de Redução dos Jesuítas e domínio Holandês de Pernambuco, pois eram eles calvinistas. Deste período se destaca o martírio dos cristãos de Cunhaú, no Rio Grande do Norte.
Foto de: reprodução.
Os mártires de Cunhaú atestam a luta
contra os calvinistas holandeses.
Se o primeiro ciclo acompanhou a cultura do Pau Brasil e da Cana de Açúcar, este ciclo acompanhou mais de perto a interiorização da colonização graças ao Ciclo do Gado e a criação das fazendas ao longo do Rio São Francisco e em outras direções.
Ciclo Maranhense
Por causa do domínio da França foram os frades carmelitas que começaram os trabalhos em 1615 em São Luiz e, a partir de 1693 os carmelitas portugueses começaram a subir pelos Rio Negro, Solimões e Madeira organizando o Sistema de Aldeamento.
Desde 1618 os Franciscanos já são encontrados em Belém do Pará e em 1652 chegaram também os Jesuítas, sendo que em 1757 já eram 155 os missionários, sendo que um dos maiores destaques deste tempo foi o Padre Antônio Vieira.
Mas aqui também o trabalho evangelizador sofreu algumas dificuldades como os ataques continuados de franceses, ingleses e holandeses interessados em dominar o Rio Amazonas e as pressões contra o Sistema de Redução vindas da parte dos colonizadores interessados na mão de obra indígena.
Ciclo Mineiro
Este ciclo surgiu no encontro do Ciclo do Litoral com o do Ciclo do Sertão e evangelizou uma região com alto índice populacional por causa do ouro e diamantes encontrados nas Minas Gerais.
Neste tempo a população europeia passou de 100 mil pessoas (em 1700) a 800 mil (século XVIII). Vila Rica, atual Ouro Preto dará a unidade do Brasil.
Este ciclo tem uma característica especial, pois diferentemente dos demais realizados pelas ordens religiosas, este é um ciclo popular, laico, feito especialmente pelas irmandades e são elas que farão a catequese dos mamelucos paulistas atraídos pelo ouro (ciclo durou entre 1720-1750).
Em 1711 chegaram os carmelitas, mas a Diocese de Mariana diferentemente das demais, terá o seu clero constituído basicamente por sacerdotes seculares.
A população evangelizada será quase que totalmente mestiça, com pequena percentagem de índios e negros.
Neste ciclo teremos como destaque as igrejas já construídas e enriquecidas artisticamente pelas obras do estilo barroco, com as preciosas obras do mestre Aleijadinho.
Em cada igreja, um exemplo vivo do estilo barroco mineiro
Ciclo Paulista
Foi realizado a partir de São Vicente, Santos e de São Paulo, acompanhando as bandeiras que penetraram em direção tanto do centro, como do norte e sul de nosso país.
A grande dificuldade encontrada neste ciclo, também como aconteceu nos demais ciclos foi a oposição dos colonizadores e a luta dos Jesuítas contra os bandeirantes. Isto vai levar à destruição dos sete povos das missões e todo o organizado Sistema de Aldeamentos constituído em áreas onde hoje temos o Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina.
Neste ciclo tivemos a presença das ordens tradicionais como os beneditinos, carmelitas, franciscanos e jesuítas, mas ele foi também um ciclo laico que incorporou ao Brasil muitas terras disputadas palmo a palmo com as colônias espanholas.
Ciclos Evangelizadores de outras Nações
Holanda
Livre do poder espanhol fundou em 1602 a Companhia das Índias Orientais e mais tarde a Companhia das Índias Ocidentais, fazendo-se presente com seus interesses capitalistas e com seus missionários na Austrália (1605), Indochina (1613), Malaca (1641) e América do Norte onde fundou Nova York em 1614, chamada à época de Nova Amsterdam. No Brasil os holandeses estiveram de 1624 a 1654 e também na América Latina, Guiana e Ilhas do Caribe.
França
Em 1608 se deu a fundação de Quebec. Na América Latina os franceses mantiveram presença no Haiti, nas Ilhas do Caribe e Guiana. No Brasil esta presença foi mais forte no Rio de Janeiro e Maranhão.
Inglaterra
Tomou o lugar da Holanda ocupando todos os mares, disputando a América do Norte com a França. Na América Latina e no Caribe ficou com a Jamaica e com outras ilhas do Caribe.
Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R.
Mestre em História da Igreja
pela Universidade Gregoriana
Escreve série sobre a
História da Igreja no Brasil
para o A12.com
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