Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 21 SET 2017 - 09H41

História da Igreja na América Latina: Diversificação regional e integração ao mercado mundial

Depois de um processo de intensa exploração em todas as regiões do continente e da organização da Igreja, sendo constituídas muitas estruturas regionais, veio o período em que a cristandade e a sociedade latino-americana entraram num período de encruzilhada.

Este período vai levar a uma maior diversificação econômica e cultural do continente que já passava por um processo acentuado de autonomia, graças ao sentimento nativista, o que vai fortalecer ainda mais o processo de independência, com a constituição das novas nações.

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O Século XVIII na América Latina

No final do século XVII e princípio de século XVIII começou a maior diversificação regional nas colônias. Nas Antilhas, por exemplo, se intensificou a produção do açúcar; no México, em Potosi e nas Minas Gerais intensificou-se a produção mineral. O continente latino-americano já apresentava uma maior diversificação econômica, com menor dependência de um único produto ou de uma mesma região.

Ao lado disso, na 2ª metade do século XVIII também começou uma maior diversificação das classes sociais, com o aparecimento da nova burocracia mais racionalista e com o desenvolvimento da burguesia agrário-mineral exportadora.

Foto de: Arquivo

Exploração do ouro_História da Igreja

A colonização espanhola foi impulsionada pela mineração
que provinha especialmente da Bolívia, com a prata de
Potosi e o ouro de outras colônias.

A América continuava como periferia seja de Portugal, no que dizia respeito ao Brasil, como também da Espanha no que dizia respeito aos Vice-Reinos aqui existentes, mas ambas as potências que antes eram soberanas caíram também em outro raio de dominação, sendo agora a periferia da Inglaterra. Neste tempo o resultado das riquezas tiradas daqui ficava quase todo com a Inglaterra que, desta forma, teria muitos recursos para custear sua modernização advinda da Revolução Industrial.

A autonomia relativa que a América gozava até então passou a ser substituída pela intensa exploração de monoculturas visando a exportação. Foi aí que surgiu o setor liberal, dependente do modelo inglês.

Crescimento populacional. Também neste tempo, deu-se o início da explosão demográfica e do crescimento das cidades, sobretudo, ao longo das costas do Atlântico, e do Oceano Pacífico.

Em fins do século XVII e início do século XVIII as maiores cidades eram a do México com 170 mil habitantes; o Rio de Janeiro, com 135 mil; Lima, no Peru, com 56 mil; Santiago do Chile, com 50 mil e Buenos Aires, com 56 mil habitantes.

Miscigenação. Ao lado do crescimento populacional, nota-se também um aumento do grau de miscigenação. No século XVII a população Hispano-Americana era formada por brancos (6,4%), negros (6,9%), mestiços (3,5%), mulatos (2,3%) e índios (80,9%). No final do Século XVIII, por diversas razões, já havia acontecido uma inversão. Os índios agora representavam 46% da população; os brancos eram 20%, os negros 8% e os mestiços já representavam quase 25% da população global.

População global. Das regiões, as mais populosas eram o México com 5,8 milhões de habitantes, a Colômbia com 2,1 milhões e o Peru com 1,4 milhão de habitantes. O Uruguai e o Paraguai tinham as menores população com 30 mil e 90 mil habitantes respectivamente, sem se considerar as reduções. A população total da América Espanhola chegava a 15,2 milhões de pessoas.

Exploração do ouro leva ao crescimento populacional

No Brasil também ocorreu o mesmo fenômeno da diversificação populacional. A população branca pulou de 100 mil para mais de 800 mil habitantes. No século XVIII entraram quatro vezes mais escravos no Brasil do que no Século XVII.

Por causa da exploração do ouro a cidade de Vila Rica passou de 100 mil habitantes. Aquelas que hoje são chamadas de “Cidades Históricas” de Minas Gerais e que estão ligadas ao ciclo do ouro contribuíram decisivamente para o aumento da população das Gerais.

Em 1818, no início do século XIX, no Brasil havia 1,7 milhão de escravos, 157 mil negros livres, 426 mil mestiços, 202 mil mulatos e 800 mil Brancos numa população total de 3,6 milhões de habitantes.

Foto de: Arquivo

Cidade Histórica - Vila Rica_História da Igreja

A exploração de ouro e diamantes atraiu muita gente para as regiões produtoras. Disso decorre um aumento populacional urbano.

 

Crescimento comercial. Acompanhando a explosão populacional aconteceu ainda uma intensificação do comercio. As exportações passaram de 23,1 milhões de pesos (1748-1755) para 40,2 milhões. As importações no mesmo período pularam de 11,1 para 15,02 milhões de pesos.

Mas a balança era amplamente desfavorável, pois as colônias exportavam mais que importavam, com o predomínio quase sempre do México, mas o custo da importação era sempre maior, porque a pauta de produtos importados era constituída de produtos que não podiam ser produzidos por aqui.

Por causa da intensificação do comércio, do crescimento da população e do crescimento das cidades, a América Espanhola passou por um processo de reorganização política e econômica, com a fundação de novos Vice-Reinos como o de Nova Granada (Atual Colômbia) em 1717 e Buenos Aires em 1776.

Neste tempo foram criados os chamados Intendentes com prerrogativas militares e administrativas. Eles eram pequenos burgueses e não nobres, sendo ajudados por Sub- delegados na cobrança das taxas e impostos.

Claro que, é bom recordar que não havia liberdade de comércio e quando isso aconteceu foi num processo lento que passou por várias fases.

O desenvolvimento não foi igual em toda a América Espanhola. As Antilhas Espanholas estavam menos integradas ao comércio mundial do que as holandesas, inglesas ou francesas. Cuba era o centro, exportando 2,5 milhões de arrobas de açúcar em 1895.

Os reajustes fiscais e administrativos, sobretudo, na América Espanhola tiveram o efeito de entravar a prosperidade econômica, suscitando ódios e rancores nos diversos grupos sociais. Com isso, surgiram revoltas e sublevação populares e começou o sonho de libertação.

Todas as reorganizações feitas tiveram a finalidade de reaproveitar a dominação, integrando as colônias ao mercado mundial como produtoras de matérias primas e consumidoras de produtos manufaturados. Isso somente foi possível porque os interesses da burguesia nativa coincidiam com a política imperial externa.

Foto de: Arquivo

Rancho dos Tropeiros_História da Igreja

As caravanas de troperiso se encarregavam de abastecer as
regiões produtoras do interior.

O cenário brasileiro

Com todas as mudanças ocorridas neste período também no Brasil foram acontecendo diversas transformações. Entre nós mudaram-se as fronteiras econômicas e a economia mudou seu centro do Nordeste para o sudeste (Minas Gerais), bem como mudaram também os produtos que constavam na pauta de exportação com o predomínio passando do açúcar para o ouro e para o gado.

Neste tempo em questão a capital do Vice-Reino saiu de Salvador (BA) para Rio de Janeiro, em 1763.Em 1720 Minas Gerais adquiriu autonomia política deixando de pertencer a São Paulo como província. A cidade de Vila Rica tornou-se a capital.

Em 1760 o Brasil exportou 290 toneladas de ouro.

Colunista padre Inácio

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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