Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 27 MAR 2019 - 10H55

História da Igreja na América Latina: O Sistema Educacional

PÁGINAS DE HISTÓRIA DA IGREJA AMÉRICA LATINA  
Parte - 23

Anchieta com os indígenasAssim como havia acontecido na Europa ao longo da Idade Média e grande parte da Idade Moderna, também na Cristandade Latino-Americana a Igreja tinha a hegemonia absoluta na educação. Já em 1523 foram fundadas as primeiras escolas no México, dando-se prioridade na educação dos filhos dos caciques.

Das ordens religiosas que vieram para a América, a que mais se destacará será a Companhia de Jesus, os jesuítas. Depois deles virão os dominicanos graças aos seus colégios.

Aqui entre nós também as escolas foram concebidas como uma dependência dos conventos, mas existia uma divisão entre os filhos da aristocracia indígena e a chamada "gente baixa" que eram os filhos dos colonos pobres e da classe miúda que foi surgindo nas cidades. Nos colégios católicos, junto com a catequese se ensinava os demais conhecimentos e para que os índios aprendessem a escrever se usava as iniciais de palavras da sua realidade.

Todas as grandes ordens religiosas se empenharam bastante na fundação de escolas e colégios de primeiro ensino e em 1550 só os dominicanos já tinham umas 50 escolas em pleno funcionamento

Nas Missões Jesuíticas será muito grande a importância dos colégios e ali o ensino era mais democratizado, destinando-se tanto aos filhos dos caciques como também aos demais indígenas. Seja nas Reduções, bem como nas colônias a educação das meninas era feita em separado e disso surgirá o costume da existência dos colégios internos tão comuns entre nós até os anos de 1970. Com a chegada das ordens e congregações femininas estas também passaram a dedicar-se ao ensino, sobretudo, das meninas. Deve-se a isso o fato de hoje os colégios e escolas católicos serem ainda tão comuns entre nós.

Foto de: reprodução. 

Pateo do Colegio em 1824 - Quadro de Jean-Baptiste Debret

Pátio do Colégio em São Paulo: A maior metrópole
das Américas surgiu e cresceu ao redor
de um Colégio Jesuítico.

Mas também no campo do Sistema Educacional da América Latina no tempo da colonização podem ser feitas algumas criticas e restrições. A primeira crítica que se faz deve-se ao dato de as escolas e o ensino contribuírem para justificar ideologicamente a conquista e a exploração.

No campo educacional a pressão e o controle por parte do estado e do padroado eram muito fortes e aqui se notava de forma mais acentuada a discriminação da mulher que não tinha acesso à educação universitária e era educada de modo diverso do homem. Podemos até dizer que o sistema educacional implantado entre nós contribuiu na exacerbação do machismo tão presente ainda em nossa sociedade.

O ensino médio em geral se reduzia à gramática (Latim e Grego) e não tinha estatuto próprio. 

Instituições Educativas

Ensino Universitário. No Brasil colonial não houve universidade como tal, mas apenas colégios de nível universitário. Os filhos dos nobres e dos colonos enriquecidos eram mandados a estudar na Europa, com predomínio da Universidade de Coimbra, em Portugal.

Na Hispano-América houve muitos colégios universitários ao longo do século XVI, mas universidades somente duas: México e Lima. Somente elas podiam dar títulos de mestre e doutor.

A principio surgiram colégios ao redor das catedrais, mosteiros e conventos e estes, além de servirem para formar sacerdotes tinham também alunos externos. Nestes colégios os estudos eram baseados no direito e nas artes (matemática, medicina, astronomia).

Características dos colégios universitários. Nestes colégios que poderiam ser chamados de ensino médio também havia a hegemonia da Igreja, mas as carências de recursos humanos e financeiros eram muito fortes e o corpo de professores limitados a 2 ou3 mestres.

Em 1551 se fundou a universidade do México e, em 1553, a de Lima por disposição real, contando com apoio do Papa. Mas todas as faculdades giravam ao redor da faculdade de teologia.

Junto das universidades cresceram os "Colégios Maiores" onde viviam os estudantes e onde se lecionavam cátedras suplementares. No México, em 1680, haviam cerca de 1500 estudantes. Em lima, Peru eram cerca de 5 mil.

A partir de 1621 os colégios começaram também a conferir títulos superiores com a condição que estivessem a mais de 200 milhas da universidade mais próxima e que tivessem ao menos 5 anos de estudos.

No campo das universidades e dos colégios maiores foi muito forte o conflito entre jesuítas e dominicanos que acusavam os jesuítas de terem privilégios que eles não tinham. Quando os jesuítas foram expulsos das colônias houve até regozijo de seus opositores religiosos e os do clero diocesano que herdaram as suas propriedades.

Algumas dificuldades que marcavam a vida da Igreja nas colônias aconteciam também no campo educacional e precisam ser aqui recordadas: Havia os conflitos das ordens religiosas entre si e das ordens religiosas com os seculares. Havia o forte controle e pressão do Padroado e do estado sobre a Igreja que ainda penava com a falta de recursos.

E muitos teimam em ver a educação apenas como uma forma de se garantir a legitimação da conquista e colonização.

No século XIX o conflito entre Igreja e forças liberais pelo controle do sistema educacional cresceu ainda mais, sobretudo a partir do momento em que cresceu o movimento de libertação e de independência.

Foto de: reprodução. 

Escolas Franciscanas - Colônia

Escolas Franciscanas: Ao lado de cada convento franciscano
surgia um colégio para catequizar e educar.

Os Colégios

A ideia primeira foi dos Franciscanos e depois as outras ordens também a assumiram.

Durante o século XVI foram criados 04 tipos de colégios: Aqueles destinados aos índios nobres como os filhos de caciques; os colégios elementares para plebeus como os filhos dos colonos; os colégios de aprofundamento ou segundos ensinamentos e as escolas de artes e ofícios que dariam origem às futuras faculdades.

Olhando como se educava nos templos do México, se adaptou os colégios Franciscanos e onde havia conventos franciscanos estes também acolham os meninos. Mas esta experiência também não foi vista com bons olhos pelos encomendeiros.

Do México a experiência dos colégios ligados aos conventos se espalhou pelas Américas. Normalmente ao lado de cada convento surgia um colégio ou escola. A mão de obra para a construção era fornecida pelos próprios índios, mas a coroa também ajudava. Num colégio mediano o número de alunos variava de 50 a 700 e o regime era o de internato.

Importância dos colégios e escolas. Funcionavam como centros de educação e cultura e como polos de evangelização

Uma das primeiras motivações para a criação dos colégios foi a de conseguir vocações sacerdotais, mas não se conseguiu muito neste campo. Normalmente se construíam também hospitais e enfermarias ao lado dos maiores conventos.

Missão Jesuítica

Missão jesuítica: A destruição das Reduções jesuíticas representou
um grande atraso no processo educacional do Brasil
 

 

Padre Inácio Medeiros
Missionário Redentorista

Mestre em História da Igreja   
pela Universidade Gregoriana  

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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