Por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja Atualizada em 21 SET 2017 - 09H43

Igreja na América Latina: influência do liberalismo nas relações da Igreja

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Páginas de História da Igreja na América Latina
Parte 32

Nos últimos artigos começamos a falar sobre a presença da Igreja na América Latina no período contemporâneo. O século XIX foi o período em que se formaram as nações independentes do continente, sendo o Brasil uma das últimas a conseguir este status. Neste período a Igreja começa a se libertar também da tutela do Estado e começa a ganhar mais liberdade no cumprimento de sua real missão.

O século XIX trouxe, porém, um tempo de grandes dificuldades para a Igreja por ser marcado pelo influxo do liberalismo que, em maior ou menor grau tinha um caráter anticlerical e antieclesiástico. O processo de consolidação dos estados latino-americanos trouxe perseguições, mortes e prejuízos para a igreja em diversas partes de nosso continente. 

Leia MaisIgreja na América Latina: o liberalismo do século XIX
 

O Século Liberal (Século XIX)

O século XIX é chamado por muitos historiadores de século liberal. Mas é também considerado um século de rupturas em que as marcas principais acabam sendo a hispanofobia e aversão à Igreja.

Neste período os pensadores e historiadores fazem uma comparação do atraso do sul com o progresso dos EUA (Anglo-Saxões). E acusam as nações ibéricas de serem as promotoras deste atraso por causa do modelo de colonização imposto em todas as regiões do continente. Por outro lado, organiza-se uma forte oposição ao catolicismo e ao tradicional o que provoca o incentivo pela vinda das primeiras levas de protestantes, sobretudo da América do Norte.

Ao longo deste século os pólos de atração tornam-se França e Inglaterra e mais tarde os EUA, em detrimento de Portugal e Espanha. O liberalismo e a o anticlericalismo, porém, não atingiram o povo. Só as elites foram descristianizadas, pois a maioria da população continuou sendo essencialmente católica.

Cito aqui algumas das rupturas impostas neste tempo com as constituições liberais e com as leis e decretos anticlericais ou anticatólicos. A ação da maçonaria (Deísmo) ligada muitas vezes aos governos liberais procura granjear a opinião favorável com suas obras de beneficência e filantropia, mas nos bastidores lutava contra o predomínio da Igreja. Neste sentido há um influxo maior da maçonaria francesa e inglesa. Inclusive entre o clero houve adeptos ou participantes da maçonaria. 

Momentos do Liberalismo:

Numa primeira fase, ser liberal não era sinal de anticatolicismo. Os ideais do liberalismo coincidem com os ideais ou com os princípios do catolicismo. Este período durou mais ou menos até 1870. Na medida em que o século XIX foi avançando o liberalismo foi se radicalizando. A perseguição e o radicalismo das primeiras décadas do século XIX se reforçaram mais tarde, entrando pelas primeiras décadas do século XX. 

Foto de reprodução. 

Grupo de Cristeros no México

A luta entre a Igreja Católica e o Estado no México foi a causa de um conflito armado que ficou conhecido como a Guerra Cristera (também conhecida como Guerra dos Cristeros ou Cristiada) e que se desenrolou entre 1926 e 1929. Tratou-se de um levantamento popular contra as provisões anticlericais da Constituição Mexicana de 1917.

 

 Enquanto isso o Brasil vivia tempos de incertezas e de instabilidade no campo político.

- 1822 a 1831: 1º Império com D. Pedro I.
- 1831 a 1841: Tempo da Regência (Diogo Feijó)
- 1841 a 1889: 2º Império com D. Pedro II.

Aqui entre nós, os partidos políticos predominantes eram o liberal e conservador e no interior da Igreja grassava a ideologia do jansenismo e do galicanismo.

Como já foi dito acima, o anticlericalismo e anticatolicismo não atingiram o povo, agindo mais entre os intelectuais onde se notava a influência da universidade de Coimbra.

Galicanismo e Realismo:

Primeiramente os novos estados formados a partir das primeiras décadas do século XIX buscavam dominar a Igreja; num segundo momento queriam suprimi-la, pois não aceitavam um poder concorrente. Por causa disso, vieram as perseguições que atingiram uma situação mais crítica no México.

O Patronato Republicano:

O Estado Moderno queria manter a Igreja como que numa "jaula de ouro". Havia uma verdadeira intromissão na vida interna da Igreja, pois o Estado queria uma Igreja de "sacristia", subserviente. O Estado nomeava os bispos, regulamentava as ordens religiosas e intervinha no relacionamento com a Santa Sé. Por causa disto muitas dioceses ficaram vacantes por longos períodos, com o consequente prejuízo pastoral do povo.

Conforme passaram as décadas do século XIX o Estado passou a uma aberta perseguição. No rastro dessa atitude veio a separação da Igreja em relação ao Estado, visando uma total secularização da sociedade. No Brasil, a liberdade de culto veio como concretização desta política estatal. Mesmo os conservadores converteram-se em patrões abusivos e intrometidos. Para que as determinações e decretos de Roma fossem aplicados fazia-se necessário o passe e o exequátur, o execute-se.

O Positivismo:

A influência do pensamento positivista cresceu muito nas Américas, principalmente na segunda metade do século XIX. Esta era a ideologia dominante no exército, em muitos intelectuais e na classe média urbana, agindo principalmente na área educacional.

O liberalismo, com sua luta pela laicização total da sociedade, tomou a Igreja de surpresa e despreparada para a luta. Por isso, num primeiro momento a posição adotada pela Igreja foi a de defesa e de proselitismo.

Foto de: reprodução. 

Auguste Comte

Em toda a América Latina do século XIC foi forte
a influência da filosofia positivista
de Augusto Comte (1798-1857). 

A Igreja e o Estado no século XIX

A relação da Igreja com o Estado marcou toda a história da Igreja da América Latina. No início os novos estados que se formaram eram todos confessionalmente católicos e as constituições privilegiavam a Igreja. Porém, o Padroado Republicano passa a ser considerado como um novo Cesaropapismo onde o argumento da "soberania nacional" justifica as medidas repressoras tomadas pelo padroado. O Estado dispunha da Igreja conforme a vontade de seus governantes, opondo-se à intervenção da Santa Sé.

O patronato ressuscitou o regalismo e a intervenção do governo na vida interna da Igreja. Alguns presidentes chegaram a regular o toque dos sinos nas Igrejas. Em muitos lugares os bens e propriedades da Igreja foram confiscados. Surgiram casos de consciência de bispos sobre a posição a tomar diante do padroado e das constituições regalistas. Houve também os polemistas, escritores que defendiam a ortodoxia num grau maior e menor de apologia.

A solução encontrada para resolver os conflitos foi a realização de concordatas individuais com os países, mas em diversos casos houve a perseguição como no México, na América Central e na Colômbia.

Colunista padre Inácio

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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