Por Redação A12 Em Espiritualidade

Migrantes

Nestas últimas semanas temos sido informados a respeito da situação dos migrantes que estão chegando ao nosso estado do Rio Grande do Sul. São haitianos, peruanos, senegaleses, ganeses, entre outros. Trata-se de uma realidade difícil e desafiadora. Difícil, pois estas pessoas, às vezes marcadas pelo sonho de uma vida economicamente melhor para si e para os seus, outras vezes por razões de perseguição política, deixam suas famílias, sua realidade local, partem sem nada, trazendo consigo somente esperanças; desafiadora, pois não sabem o que encontrarão, e se encontrarão humana acolhida. Buscam um “mundo melhor”!

Foto de: Reprodução

Migrantes

O fenômeno da globalização está produzindo uma sempre maior interdependência e interação entre as nações.

 

Tal busca orientou também a tantos de nossos antepassados: pessoas provenientes em sua grande maioria do continente europeu, que viam na América a possibilidade de concretização de um “mundo melhor”, de uma vida melhor. Tratou-se e se trata do fenômeno da mobilidade humana, do fenômeno migratório, sempre presente na história da humanidade.

Em um passado não muito distante, tantos gaúchos partiram em direção ao Oeste de Santa Catarina, ao Paraná, Mato Grosso, Goiás, em busca de terras, onde pudessem desenvolver a atividade agrícola, construir novas possibilidades de vida. Tal realidade contribuiu para o desenvolvimento do Brasil. Ousadia, coragem, determinação marcaram e marcam a vida tanto destes como daqueles. Não se pode esquecer que ambas as realidades foram também marcadas por rejeições, discriminações, explorações de todo tipo, dores e mortes.

 

Em se falando do fenômeno migratório que estamos presenciando, causa estranheza observações genéricas de caráter, por vezes, preconceituosas e discriminatórias.

Apesar das dificuldades e dos riscos que sempre precisam ser considerados, a confiança e a esperança estão na base das migrações. O desejo de vida digna para si e para o seus dá coragem e forças para partir em busca do novo. Novo que significa “ser liberto da miséria, encontrar com mais segurança a subsistência, a saúde, um emprego estável; ter maior participação nas responsabilidades, excluindo qualquer opressão e situação que ofendam a sua dignidade de homens; ter maior instrução; em uma palavra, realizar, conhecer e possuir mais, para ser mais...” (Paulo VI. Populorum Progressio, n. 6). Isto porque o coração humano quer não simplesmente conhecer e ter mais, mas anseia, sobretudo, “ser mais” (Papa Francisco).

O fenômeno da globalização está produzindo uma sempre maior interdependência e interação entre as nações, entre os povos, entre as pessoas. Ao mesmo tempo corre-se o risco de favorecer uma cultura do descartável, que chega a considerar pessoas como “resíduos” e “sobras”, em detrimento de uma cultura do encontro, da acolhida, da misericórdia.

Em se falando do fenômeno migratório que estamos presenciando, causa estranheza observações genéricas de caráter, por vezes, preconceituosas e discriminatórias. Há quem afirme que os migrantes que estão chegando até nós sejam delinquentes... Este tipo de observação célere é, certamente, expressão de falta de compreensão da questão. Generalizar é ir muito além do razoável.

Na cidade de Porto Alegre há pessoas e entidades que há anos se dedicam ao atendimento dos migrantes, refugiados, apátridas, vítimas do tráfico de pessoas, estudantes e trabalhadores itinerantes. Trabalho meritório e nem sempre conhecido e reconhecido. Trabalho marcado pela acolhida e apoio humano, alimentação, vestuário e encaminhamentos legais. Expressões de respeito humano e caridade cristã.

O migrante é pessoa humana! Como diz o Papa Francisco, acolhe-lo pode ser visto como “uma oportunidade que a providência nos oferece para contribuir na construção e uma sociedade mais justa, de uma democracia mais completa, de um país mais inclusivo, de um mundo mais fraterno e de uma comunidade cristã mais aberta, de acordo com o Evangelho”. 

Dom Jaime Spengler

Dom Jaime Spengler

Arcebispo de Porto Alegre

 

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