Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 25 MAR 2019 - 17H27

Poço, água e balde não bastam para saciar a sede!

Fonte de água viva_159

3º Domingo da Quaresma - Jo 4,5-15.19b-26.39a.40-42

A Quaresma, digamos assim, é a antessala da Páscoa. Esta é a festa do batismo, ou da nossa regeneração em Cristo. Dado uma vez só, o batismo tem na água seu elemento material. A liturgia relembra hoje o episódio do encontro de Jesus com a mulher samaritana à beira do poço de Jacó, narrado por São João. Ela fora buscar água. Ele sentara-se ali cansado da viagem para Jerusalém.

Na Bíblia o simbolismo da água tem dois aspectos: de um lado ela é vida e salvação; de outro, é morte e destruição. Ambos os aspectos podem se referir ao mistério do Batismo enquanto porta da fé em Jesus Cristo. Batizar é mergulhar no mistério de sua morte e ressurreição. Descer com ele ao túmulo. Ao sermos mergulhados na fonte batismal morre em nós o “homem velho” sujeito aos vícios e concupiscências. Batizados, nós nos embebemos de Cristo. Tornamo-nos um só ser com ele. Homens novos possuídos por sua ressurreição. Por isso São Paulo escreve aos Romanos 5,8: “A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores”. Em outra passagem o apóstolo insiste: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro”! (Fl 1, 21)

 

É preciso voltar sempre à fonte original. O apelo é repetido com insistência ao longo da Quaresma: oração, caridade, penitência!

Urge cuidar do precioso tesouro do nosso batismo em Cristo, sem cansaço e desânimo nos caminhos da fé. É preciso voltar sempre à fonte original. O apelo é repetido com insistência ao longo da Quaresma: oração, caridade, penitência! O tripé da conversão. Sem esta não haverá Páscoa. O caminho que começou no dia do batismo vai se prolongando até a morte. As primeiras comunidades cristãs no inicio da Igreja faziam a grande preparação para o Batismo antes da Páscoa. A conversão da mulher samaritana que foi tirar água no poço de Jacó e se encontra com Jesus, é vestígio da catequese batismal de São João. O poço é um só, mas no diálogo do encontro com Jesus a mulher tem várias surpresas. Inclusive que Ele lhe oferecia uma “água que jorra para a vida eterna”.      Leia: João 4, 5-42. 

samaritana

O poço é um só, mas no diálogo do encontro com
Jesus a mulher tem várias surpresas.

Jesus está cansado e tem sede. Pede água para a mulher. Ela a nega. Faz mais: critica Jesus por ousar lhe dirigir a palavra ciente da diferenciação bairrista entre eles. Ele lhe oferece então algo muito maior que a água do poço. Pode lhe dar uma água que, sendo dom de Deus, é capaz de saciar em definitivo toda a sede e tornar-se fonte perene de vida desde o íntimo da pessoa. É a vida eterna! Falar em dom de Deus era lembrar a Lei dos 10 mandamentos, código da Aliança que Moisés havia recebido no alto do Monte Sinai para reger o povo libertado da escravidão. A Lei da Aliança era considerada o máximo dom de Deus. Apesar disso, judeus e samaritanos tratavam-se como inimigos também na religião ainda que orgulhosos do patriarca Jacó, o antepassado comum que ligado aquele poço.

O texto nos ensina que o encontro com Jesus derruba todas as barreiras e divisões entre os homens unindo-os em Deus, pelo amor fraterno “em espírito e verdade” (v 23) e não por meio de um código religioso, uma lei, uma nação. Por isso o encontro de Jesus é com uma mulher sem nome. Ela representa no caso a humanidade. O poço de Jacó é símbolo ainda da superioridade de Jesus sobre a importância do patriarca fundador do povo judeu. Jesus veio trazer outra lei e outro culto a Deus não condicionado a nenhuma fronteira, raça ou descendência.

Fica bem claro no diálogo de Jesus com a samaritana. Ele é a água da vida eterna! O evangelista João aponta o sentido do batismo e o que ele implica para quem é batizado. Construir um mundo fraterno, sem barreiras de preconceitos e foro privilegiado. O Mestre viera ao poço ao encontro da mulher samaritana separada dele só por questões de cultura bairrista, divergências de culto e rejeição masculina. Além disso, os pecados afastavam a samaritana das boas graças divinas até que ao conhecer Jesus, bebeu a água da vida, ou seja, encontrou o caminho para Deus.

Existe uma mulher, porém, indispensável ao nosso encontro pessoal com o Filho de Deus hoje, como batizados nele. Maria é a primeira batizada plenificada em graça ao aceitar ser a mãe de Jesus. O batismo nos mergulhou na fonte viva de Deus. A comunidade-igreja é o poço de água viva que continua matando a sede profunda da conversão para Deus. A Igreja é a fonte espiritual que nos dá a beber os dons da graça do Senhor. E nos reúne em fraternidade! Que a materna intercessão de Maria confirme nossa pertença à comunidade cristã! 

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