Opinião

O genocídio armênio

Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.

Escrito por Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

23 ABR 2021 - 15H00 (Atualizada em 23 ABR 2021 - 15H47)

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O Império Turco-Otomano controlava uma vasta região, que começava no Cáucaso, passando pelos Bálcãs, Anatólia, Península Arábica e por grande parte do Oriente Médio.

A Armênia, que havia sido conquistada pelos turcos, tornou-se súdita de seus sultões. Durante a Primeira Guerra Mundial, que teve início em 1914, os interesses do Império Turco-Otomano iam contra vários povos e nações envolvidos na guerra, inclusive contra tribos árabes-muçulmanas.

Mapa da Armênia

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Boa parte dos combatentes armênios que se alistaram na guerra, bem como da liderança política e intelectual desse povo, aliou-se a outros povos contra os turcos. Alguns combatentes armênios lutaram junto aos russos (inimigos históricos do Império Turco-Otomano). As autoridades turcas alegaram tal fator como alta traição e usaram esse subterfúgio para instituir uma política sistemática de morte contra a população da Armênia. 

Um ato criminoso a ser recordado

Entre os anos de 1894 e 1896, o sultão turco da época já havia iniciado o extermínio de 300 mil armênios que viviam na porção Ocidental do país, anexada pelos turcos durante o Império Otomano. Contudo, em 1908, o cenário político turco sofreu profundas transformações: O Comitê da União e Progresso, liderado pelos Jovens Turcos, destronou o sultão, proclamando governo constitucional e igualdade dos direitos civis para todos os cidadãos otomanos. Essa mudança radical deu ao povo armênio uma nova esperança.

No entanto, em menos de um ano, novos assassinatos voltaram a ocorrer. De fato, a proposta dos novos chefes da administração tinha o intuito de implementar no país a aceitação apenas de turco-descendentes, apelando para um discurso de raças semelhante ao que seria utilizado pelos nazistas ao praticar o massacre de judeus anos depois.

Neste contexto vem o advento da Primeira Guerra Mundial, quando a Turquia uniu-se aos alemães na Tríplice Aliança. A questão em jogo é que, com o declínio do Império Otomano, a Turquia temia perder cada vez mais territórios, inclusive aqueles historicamente ocupados por armênios que ela já havia anexado. O Cáucaso, aliás, sempre foi uma região cobiçada, já que está em uma importante zona de passagem - entre o mar Negro e o Cáspio; entre o mundo ocidental e oriental. 

Perseguição e Massacre

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Tudo começou em 24 de abril de 1915, quando mais de 800 intelectuais armênios foram presos, deportados e assassinados. A partir de então, o massacre consolidou-se e perdurou pelos anos seguintes.

Foi um procedimento sistemático: Os homens foram conduzidos para fora das cidades e, em seguida, torturados e assassinados; as mulheres, as crianças e os mais velhos receberam a ordem imediata de deportação em um prazo de até uma semana.

Essa população não só foi expulsa de seus lares e entregue a um destino desconhecido, como todos os seus bens foram confiscados e transferidos aos turcos. 

O governo obrigava grupos, que variavam de 2 e 5 mil pessoas, a se encaminharem para alguns lugares onde viviam em condições semelhantes aos campos de concentração. Após se estabelecerem nessas terríveis condições, o governo deu-se por satisfeito.

A partir de 1918, muitas transformações voltaram a ocorrer, alterando novamente o panorama internacional: A Turquia saiu da guerra derrotada; a Armênia proclamou sua independência em 28 de maio desse mesmo ano e, em julho, foi assinado um Tratado de Paz entre os dois países. Por esse tratado os turcos reconheciam a soberania armênia.

Mas, a população de armênios que conseguiu voltar para regiões centrais da Turquia passou a ser novamente alvo de ataques e, em setembro de 1920, os turcos invadiram a Armênia que, sem condições de defesa, aliou-se aos comunistas, proclamando-se uma República Soviética, em 29 de dezembro daquele ano.

Após esses episódios, as autoridades turcas foram acusadas de massacrar 1,5 milhão de armênios, sendo responsáveis, assim, pelo primeiro genocídio do século XX. A migração forçada não foi apenas um massacre físico: os danos e as perdas de uma cultura milenar e de uma religião de marcas cristãs foram incalculáveis. Calcula-se que aproximadamente 800 mil armênios tiveram que fugir para o exterior para sobreviver. As modificações no idioma e nos hábitos dos armênios, com as influências da ideologia comunista e da cultura russa, são visíveis até hoje no país. 

A Igreja Católica Armênia

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A Igreja Católica Armênia existe em plena comunhão com a Igreja Católica Romana, aceitando, portanto, suas tradições e a autoridade do papa. Ela é unida formalmente com a Santa Sé desde 1742 e sua sede localiza-se no Líbano.

Fundada no século I d.C. pelos apóstolos São Judas Tadeu e São Bartolomeu, a Igreja da Armênia é uma das cinco Igrejas Ortodoxas Orientais mais antigas.

No início do século IV d.C., a Armênia se tornou a primeira nação do mundo a declarar o cristianismo como sua religião de estado, através da ação de seu santo patrono, São Gregório, o Iluminador.

Atualmente a Igreja conta com aproximadamente 540 mil fiéis, concentrados especialmente na própria Armênia, Argentina, Austrália, Canadá, Europa Oriental e Estados Unidos.

No Brasil, a Paróquia Armênia Católica São Gregório Iluminador se encontra à Avenida Tiradentes, 718, ao lado do museu de Arte Sacra, próximo ao metrô Tiradentes, em São Paulo.

Escrito por
Padre Inácio Medeiros C.Ss.R.
Pe. José Inácio de Medeiros, C.Ss.R.

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida

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Por Redação A12, em Opinião

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