A Campanha da Fraternidade está nos ajudando a compreender a complexa realidade do tráfico humano. Ela implica um emaranhado muito grande de ingredientes, que convém destrinchar.
O tráfico humano é particularmente perverso porque se vale das estruturas, seja do Estado como da sociedade, e as usa com aparência legal mas as coloca a serviço dos seus intentos de exploração humana.
O sistema viário, por exemplo, é de evidente utilidade pública. Mas é usado pelo tráfico humano, como se ele existisse para isto.
Como crime organizado, envolve um conjunto de cúmplices: os que o exploram diretamente, os aliciadores, os transportadores, os prestadores de assistência jurídica, que garantem documentos falsos ou defesa judicial para os envolvidos. Ele se vale, se necessário, dos “paraísos fiscais” para a lavagem do dinheiro obtido, para ser usado novamente como legal.
São envolvidos também médicos e clínicas para a extração de órgãos, para depois serem comercializados.
"Este crime faz com que as vítimas sintam vergonha de terem sido enganadas, a indignação de serem vítimas, de terem perdido a liberdade".
Este crime faz com que as vítimas sintam vergonha de terem sido enganadas, a indignação de serem vítimas, de terem perdido a liberdade. Elas se vêm impelidas a fazerem o que esperavam. Ficam cada vez mais isoladas da família, como presas em verdadeiro cativeiro, com dívidas sem fim a pagar, mantidas sob a ameaça de morte.
Muitas delas são tentadas à fuga, o que lhes acarreta novos sofrimentos, com represálias e castigos até a morte. E quando isto acontece, a morte não é notificada, é atribuída a acidentes, e servem de alerta para outras vítimas não tentarem o mesmo caminho.
Esta é uma triste realidade, que muitas vezes passa desapercebida. A Campanha da Fraternidade nos anima a enfrentá-la de maneira solidária, animados pelo exemplo de Cristo, que nos libertou para sermos livres e vivermos com a dignidade dos filhos de Deus.
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales
Boleto
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