Por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja

Um novo tempo para a Igreja: da ação individual ao trabalho corporativo

Na ocasião das crises a Igreja manteve-se ao lado da autoridade constituída procurando não se misturar à militância política, mas aproveitando destas crises para consolidar os mecanismos de coordenação dos católicos e desenvolver a consciência de sua força. A Igreja soube tirar proveito de sua influência junto às massas.

Naquele tempo, o número de dioceses continuou crescendo, passando de 100 em 1940. Em 1939 foi celebrado o Concílio Plenário Brasileiro e com a ação católica, os católicos passariam da ação individual ao trabalho corporativo.

Os pensadores católicos levaram a Igreja a recuperar sua influência junto às elites, mas a Igreja ainda se mantinha muito presa ao passado. A piedade popular era subjetiva e intimista, a ação pastoral se centrava mais nos sacramentos e a disciplina e a autoridade tinham sempre um destaque maior.

Aos poucos as coisas começam a mudar. No campo da liturgia começam os primeiros anseios de renovação e a evangelização começou aos poucos a assumir um contorno mais comunitário. Na pastoral se notava primeiro a influência do papa Leão XIII e da encíclica Rerum Novarum, e depois a procura por novos métodos pastorais e por um novo espírito.

A Encíclica Rerum Novarum do papa
Leão XIII impulsiona a ação social da Igreja.

Presença da Igreja na sociedade brasileira

A década de vinte marcou no catolicismo a passagem para um novo período em que se buscava uma ação mais corporativa. A ação católica se organizava em confederações a partir de 1923, e no ano de 1935 seriam elaborados os seus estatutos. Com isto este apostolado especializado pode se expandir por todo o Brasil. Mais e mais a Igreja se fazia presente no contexto social e político da nação. Assim cresceu muito a militância cristã em todos os níveis.

A partir da década de trinta continuava a mobilização católica, com grandes concentrações, realização de congressos e, desta forma o governo foi sentindo a força e o prestigio da Igreja. Esta, por sua vez, foi tomando consciência de seu papel na dimensão social, canalizando o seu potencial de pressão para conquistar os seus desejos.

Entre 1920 e 1937 a política brasileira passou por um período de muitas instabilidades, com crises, tentativas de golpe, agitação e violência. Em 1937 houve um golpe de estado e Getúlio Vargas assumiu o poder, que seria mantido por ele até 1945. Ainda neste tempo tivemos a nova constituição de 1934 (3º brasileira), pela qual a Igreja conseguiu a introdução do ensino religioso facultativo nas escolas.

A partir de 1920 cresceu também a pressão da Igreja, com tentativas de controlar o voto dos católicos, como nas eleições de 1932. Muitos voltavam a insistir na formação de um partido católico, tentativa recusada pelo episcopado, com razões de sobra. No lugar do partido pensou-se na criação de um organismo suprapartidário que pudesse instruir congregar o eleitorado e assegurar aos candidatos o voto dos fiéis. A LEC (Liga Eleitoral Católica) surgiu com este fim e logo se espalhou por todo o território nacional. Com isto, graças aos políticos eleitos, a Igreja conseguiu varias reivindicações. Mas a constituição de 1937 revisou a lei eleitoral e proibiu a ação de organismos como essa liga eleitoral.

A Ação Católica especializada leva os
cristãos à militância político-social

A ação social da Igreja:

O contexto sócio-político dos anos trinta e quarenta, fez com que a Igreja crescesse na ação social e no sentido da sua presença na sociedade. Até então o que predominava na sua ação social era o assistencialismo e o paternalismo. Com o Brasil crescendo no campo da industrialização, os conflitos sociais cresciam cada vez mais. Em 1922 fundou-se o Partido Comunista e a Igreja passou a sofrer ameaças de perder a classe operária. A consciência social dos católicos ainda era pequena e com muito custo começou a superar a ação caritativa e assistencial.

A ação social começou de uma forma dispersa, com a criação de círculos operários, que mais tarde se unirão em confederação e federações estaduais. Mais tarde ainda surgiria a JOC (Juventude Operária Católica), derivativa da ação social, cuja ação será muito mais eficaz. Deste modo a Igreja iria ampliando muito o raio de sua ação e penetrando em todos os grupos da sociedade. Mas isto não quer dizer que os conflitos tenham acabado. Eles vieram e eram muitos.

 


Através de grupos especializados a Igreja se faz presente na sociedade

 

Podemos dizer que ao longo dos anos quarenta o catolicismo vivia uma fase de euforia, que alimentava o espírito triunfalista inspirado no prestígio da Igreja, nas grandes figuras do episcopado, no crescimento do clero e dos religiosos e nos movimentos de apostolado.

Outro ponto de destaque era a nova tonalidade do catolicismo, que começava a se esboçar nesta época e que servirá como antecedente do Concilio Vaticano II.

A Igreja nos anos trinta e quarenta passava por um período de grande vigor, tendo conseguido junto aos poderes políticos algumas concessões. Sua ação se multiplicava por todos os campos: 

Ações específicas:

Na política:
* Ação da Liga Eleitoral Católica (LEC) conseguindo diversas reivindicações na Constituição de 1934.

Na Sociedade:
* Ação dos pensadores e intelectuais católicos do centro Dom Vital e da revista ″A Ordem”.

Na Vida Interna:
Ação social dos círculos operários e da ação católica e múltiplas formas de apostolado.

O mais importante, é que neste tempo já começavam a se notar alguns sinais do que seria o catolicismo nas próximas décadas com mais sentido comunitário e mais dinamismo, contra a prevalência do individual e do institucional. Na vida de piedade se acentuaria aos poucos o valor da liturgia e da vida sacramental, em lugar do devocionalismo do passado e do presente.

No campo da evangelização já se começava a notar um sentido de confronto com a realidade social, mais voltado para a vida real. Em termos de mentalidade já se notava uma abertura maior e uma maior criatividade, fugindo da simples repetição de métodos importados prontos da Europa. 

Mudanças e agitações:

As primeiras décadas do século XX foram de grande agitação e as instituições estiveram sujeitas a grande instabilidade. Na política tivemos diversas rebeliões e mudanças no sistema de governo passando da República Velha para a ditadura de Getúlio Vargas.

No campo das artes tivemos a Semana de Arte Moderna de 1922 que revolucionou o contexto nacional. Ainda neste período tivemos a formação do Partido Comunista (1922) e a superação do anarquismo.

Precisamos registrar ainda as duas grandes Guerras Mundiais, a grande Crise Econômica de 1929 e todo processo de industrialização e de crescimento ocorrido neste tempo, atingindo principalmente o Estado de São Paulo e sua capital.

 

O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, foi o grande homem da Igreja deste tempo

 

Paralelo a isto, a Igreja viu crescer a ação dos pensadores católicos e a influência de grandes líderes católicos, como Dom Sebastião Leme, arcebispo do Rio de Janeiro.

 

 

Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R. 
Província São Paulo

Escreve série sobre a
História da Igreja no Brasil
para o A12.com

 

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