Por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja

Uma Igreja em busca de mais liberdade de ação

Estamos no final do século XIX, a partir da primeira reunião do episcopado em 1890 a Igreja começou a se encaminhar para uma ação mais organizada. Este é o sentido da Pastoral Coletiva elaborada como resultado final desta reunião. Orientada por Roma a Igreja no Brasil começou a tratar mais de seus problemas internos, reorganizando os seus quadros, suas lideranças e deixando de lado, por ora, as questões político-sociais.

No pontificado de Leão XIII realizou-se em Roma o Concílio Plenário Latino-Americano.

Por cerca de 40 anos a preocupação maior seria então a luta pelos direitos e privilégios para a nação, já então considerada, a mais católica do mundo. Por isso mesmo, nos primeiros anos do século XX, aconteceria uma multiplicação do número de dioceses cujo número pulou de 17 para 58 até a segunda década do século XX. Viria também a redistribuição territorial das paróquias e a realização de conferencias episcopais do sul (Rio de Janeiro) e norte (Salvador). Em 1899 aconteceria em Roma o Concilio Plenário Latino Americano.

Outra preocupação foi a convocação de pessoal especializado para investir na formação do clero e do povo. Para isto os bispos começaram a buscar na Europa padres, religiosos e religiosas que cuidassem de colégios, que assumissem paróquias e fizessem a pregação das Santas Missões. Os padres que chegavam viriam contribuir na europeização do catolicismo no Brasil e na chamada onda de Ultramontanismo.

Foto: reprodução.

Papa Leão XIII.

Outra preocupação deste tempo era a fundação de seminários e criação de obras para ajudar no seu sustento (obra das vocações sacerdotais). Paralelo a isto a Igreja começou a se preocupar em melhorar a administração de seus bens, pois o patrimônio era enorme, porém mal administrado. Nesta época a Igreja começou a abrir o leque de sua ação, para abarcar os mais variados campos, entre eles a formação de um laicato mais consciente e melhor preparado.

Para recuperar o tempo perdido e revitalizar as suas estruturas, a Igreja começou uma grande movimentação na ultima década do século XIX e primeiras décadas do século XX. As dioceses se multiplicavam, as paróquias eram reorganizadas, seminários foram fundados, pessoal qualificado foi buscado na Europa. A Igreja alargou o seu campo de ação, mas uma dificuldade ainda era grande: a má formação e o pouco engajamento dos leigos na ação da Igreja. 

 

Foto: reprodução.

Congregações religiosas vieram da Europa para trabalhar na educação do clero e do povo.

(Faculdade Claretiana em São Paulo)

 

Novas frentes de trabalhos e novos sujeitos de pastoral

O que estava se colocando a partir da reorganização da Igreja dentro do período republicano era uma nova concepção de vida e de ação a partir da liberdade conseguida.

Neste novo estilo de ser Igreja era preciso reconquistar os leigos porque eles chegaram ao tempo da republica divididos. De um lado estavam os que haviam sido tomados pelo positivismo, do outro lado estavam aqueles que tinham um primarismo de conhecimento e de ação. A Igreja começou a usar das associações tradicionais, intensificando a sua vida e começou a incentivar a criação de novas associações e sua reunião em federação, melhorando a consciência destas associações. Neste tempo foram realizados muitos congressos católicos.

Nesta nova arrancada da Igreja outras prioridades foram surgindo e nelas a Igreja concentrou as suas forças: catequese, pregação de missões, retiros espirituais, institutos católicos de educação e imprensa católica com a criação de uma liga da imprensa católica ou da boa imprensa.

Tudo isto não descarta a existência de alguns defeitos que vieram prejudicar bastante a ação da Igreja neste tempo. O primeiro defeito foi o primarismo da catequese, que se esgotava com a primeira comunhão. Era desligada da vida e seu espírito preventivo e defensivo contra os espíritas e protestantes. Da imprensa, a sua principal limitação era a baixa qualidade, seu caráter marcado pela europeização, carência de originalidade, falta de pessoal qualificado e matérias pouco atraentes, além é claro da falta de coordenação e de um trabalho conjunto.

Foto: reprodução. 

Dom Sebastião Leme

foi um dos grandes

expoentes da Igreja

em época de transição.

A ação da Igreja vai se intensificando, mas ainda tinha muito de proselitismo, de apologia e de defesa contra as seitas. A espiritualidade da época, divulgada pelos retiros, era subjetiva e individualista e as missões, ainda que arrebanhando grandes massas, careciam de uma maior continuidade, até porque as paróquias não estavam preparadas, com infraestrutura para acolher à todos.

Estes problemas, em seu todo, ou em parte, acontecem ainda nos dias de hoje. Enquanto a Igreja aumentava o seu raio de ação e a intensidade de sua ação pastoral nos primeiros tempos da republica, alguns problemas ainda iam acontecendo.

Sobretudo os grupos de católicos esclarecidos combatiam o fechamento sobre si mesmo. Só a partir da década de vinte a Igreja iria recuperar o tempo e espaço perdido. Mas além destes, outros problemas internos também aconteciam.

 

Foto: reprodução. 

Pensadores católicos ajudaram a Igreja a

recuperar sua influência junto às elites intelectuais.

 

Desafios e tensões:

Entre as tensões que a Igreja enfrentava no começo do século XX, a primeira era em relação à presença de padres estrangeiros no Brasil, sobretudo, os religiosos. No fundo, no fundo, estava a preocupação com a facilidade que os religiosos tinham em recrutar vocações e recursos materiais. Outro problema era a falta de vocações, e mais que isto, a falta de uma pastoral vocacional eficiente, que o clero diocesano só vai implantar a partir da segunda metade do século XX.

Durante o império o estado sustentava a Igreja por causa da Lei do Padroado e controlava a administração dos seus bens. Com a separação, a Igreja se viu na obrigação de começar a organização de sua base financeira, apesar do estado ainda continuar pagando certas taxas. A dificuldade era pratica, tratando-se de fazer render satisfatoriamente o seu imenso patrimônio. Ainda que rica, a Igreja sofrerá diversas crises, pela falta de uma política financeira. Ainda hoje seu amadorismo e improvisação são muito grandes.

Uma ultima dificuldade se agregava a estas que citamos: a tentação de criar um partido político, para que a Igreja pudesse ter a autoridade suficiente na reivindicação de direitos e privilégios. Ainda bem que as diversas tentativas foram em vão, ao menos por enquanto. 

 

 

 

Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R. 
Província São Paulo

Escreve série sobre a
História da Igreja no Brasil
para o A12.com

 

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