Por Pe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R. Em História da Igreja

Uma Igreja que se mobiliza para atingir toda a sociedade

Em fins do século XIX e começo do século XX a Igreja no Brasil já demonstrava algumas características próprias que seriam desenvolvidas nas etapas posteriores de sua caminhada histórica, e também algumas tendências estavam se revelando. 

Tendências e traços característicos:

No Brasil tínhamos um catolicismo em estado de defesa, vendo no poder civil um rival da instituição. A liberdade de culto acertada com a República foi também vista como ameaça à Igreja e os protestantes foram também vistos como concorrentes. Por isso, a pregação ganhou um forte caráter de apologia.

Outra tendência era a romanização progressiva e a presença das decisões da cúria romana na administração, supervalorizando o jurídico e tirando a possibilidade de muitas inovações. Por fim, veio a europeização, com as levas de padres e religiosos que chegavam ao Brasil. Neste tempo ainda não se buscava a inculturação como nos dias de hoje. Cada grupo mantinha em parte os seus costumes e tradições.

Apesar de certos defeitos e tensões, grandes figuras iriam se destacar no cenário da Igreja do Brasil para mobilizar as forças católicas.

Novas estruturas de Igreja, como as dioceses estavam sendo criadas, obras de caridade desenvolvidas, novas associações foram aparecendo ao lado daquelas tradicionais. Mas a Igreja ainda se encontrava muito distante do povo. Novas congregações religiosas chegavam da Europa e novas formas de devoção iam sendo introduzidas, com uma liturgia pouco espontânea.

Por influência de Roma, o legalismo foi tomando conta e muitas vezes o jurídico e o canônico falava mais alto.

Outra dificuldade do início do século XX era o fato da Igreja não ter ainda conquistado as elites. Por causa disso, a laicização avançava cada vez mais. A Igreja se encontrava bem distante da ordem temporal e muitas vezes os males eram atribuídos ao ateísmo. Dele vinha a desorganização moral e a corrupção. 

A sacralização da ordem temporal:

 

"Como preocupação maior da Igreja na primeira metade do século XX tínhamos a sacralização da ordem temporal". 

Naquele tempo, através da palavra do episcopado, de seus documentos e da orientação recebida de Roma, a missão da Igreja devia ser a de sacralizar a ordem temporal. Pelo confessionário, pela pregação e pelo ensino da doutrina cristã a Igreja cumpria o ministério da palavra. E este deveria vir acompanhado do incentivo às obras de misericórdia e beneficência. Só um pouco mais tarde viria o incentivo a uma ação social mais realista.

Mesmo a ação católica, que tanto bem realizou enquanto existiu, tinha esta função. Seu lema era: restaurar tudo em Cristo. Por restauração se entendia a restauração moral e religiosa e a vitória da religiosidade sobre a secularização. Muito do que se entendia por ateísmo era simplesmente a dessacralização das instituições. Por isso mesmo, o casamento civil instituído no Brasil custou a ser aceito pela Igreja e pelo povo, coisa que ainda hoje acontece. Também motivada na necessidade de sacralizar a ordem temporal a Igreja defendia a todo custo a continuação da educação religiosa nas escolas. 

Foto: reprodução. 

Através dos intelectuais católicos a Igreja tentava

mobilizar a elite pensante da época.

Por isso a pergunta central era esta: Como deveria ser a vida do cristão, segundo o pensamento desta época?

O cristão deveria frequentar constantemente os sacramentos (confissão e comunhão) deveria testemunhar a fé em todos os momentos e onde quer que estivesse, devia obedecer aos mandamentos da lei de Deus e da Igreja.

A cruzada que havia entrado no Brasil com os portugueses agora se repetia para ver acontecer um Brasil católico.

A vida moral e a prática sacramental se associaram como expressão de uma religiosidade autêntica e pura. Para que isto pudesse acontecer a pessoa deveria deixar de lado o respeito humano e exteriorizar a sua convicção religiosa. Deveria buscar a instrução religiosa, conhecendo as verdades da fé. Só assim seriam superados o fanatismo, a superstição e toda a forma de ignorância religiosa. O cristão deveria ter uma vida devota e cultivar o lado espiritual.

A República se instalou no Brasil, superou a instabilidade e a insegurança inicial e se organizou. Enquanto isso, a Igreja passava por um processo de revitalização, movida pelos ideais do Ultramontanismo e também se firmou. Veio depois o período em que precisou aprender a conviver com a liberdade proporcionada pela separação entre Igreja e o Estado, mas estava afastada do povo, fechada em si mesma, mais preocupada com as questões internas e com a vida espiritual. Por causa disto, perdeu também o acesso às forças intelectuais e elites deste tempo. Era preciso agora recuperar o tempo perdido e mobilizar novamente as forças católicas. 

ESFORÇO DE MOBILIZAÇÃO CATÓLICO:

Foto: reprodução. 

A Revista A Ordem representava

o pensamento católico da época. 

 

A ação e o esforço de mobilização da Igreja haviam começado com a organização da ação católica. Isto se deve muito ao esforço de Dom Sebastião Leme, arcebispo primeiro de Olinda e depois do Rio de Janeiro.

Deve-se também a ele a organização dos pensadores católicos, pois os intelectuais deveriam estar na vanguarda do cristianismo. Seria ele a iniciar a PUC, Pontifícia Universidade Católica do Rio e a participação de pensadores católicos no processo de reflexão deste tempo.

A década de vinte, com a Semana de Arte Moderna, marcaria no Brasil uma fase de nacionalismo em todos os campos da arte. Os pensadores católicos estavam também participando desta ação e sua ação se devia muito ao surgimento do período chamado de ″A Ordem“ e a liderança de Jackson de Figueiredo.


Preocupações da Igreja:

Como preocupação maior da Igreja na primeira metade do século XX tínhamos a sacralização da ordem temporal, as obras dos pensadores católicos e o sobrenatural. Seus expoentes diziam não ser possível chegar à verdadeira civilização sem a fé e sem a participação da Igreja. Dos pensadores católicos haveria de surgir outra corrente, liderada por Alceu Amoroso Lima, que se deixaria levar pelo integralismo e pelo caráter defensivo do catolicismo.

Um grupo de intelectuais e pensadores cristãos tempos depois fundaram o Centro Dom Vital para congregar os pensadores e isso marcou o país até o advento do Concilio Vaticano II. 

Foto: reprodução.

As primeiras décadas do século XX marcam o 

surgimento do Integralismo na Sociedade Brasileira. 

Dentro da concepção de ação da Igreja para esta época, coloca-se a ação social, corrigindo os desvios sofridos pela história humana, com uma sequência enorme de males provocados por esta divisão entre o espírito e a terra.

Com todo o esforço de mobilização das forças católicas, a Igreja buscou sua influência no social, abrindo-se à problemática socioeconômica, política e cultural. As grandes personalidades da Igreja que foram surgindo neste tempo levariam a Igreja a reassumir seu papel diante da sociedade brasileira. 

Foto: reprodução. 

Alceu Amoroso Lima foi

uma das figuras mais

representativas desta época.

Padre Inácio Medeiros, C.Ss.R. 
Província São Paulo

Escreve série sobre a
História da Igreja no Brasil
para o A12.com

 

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