Por João Antônio Johas Leão Em Crescendo na Fé Atualizada em 06 AGO 2018 - 08H16

Renúncias que devemos fazer por Deus

“E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me” (Marcos 8, 34).

Essa passagem nos mostra claramente uma dimensão da vida cristã que as vezes podemos querer deixar de lado. A dimensão das renúncias, do negar a si mesmo. Normalmente não se busca a religião porque se quer renunciar a alguma coisa, pelo contrário, a visão é, muitas vezes, que Deus tem aquilo que falta em nossa vida para que sejamos realmente felizes. Longe de querer renunciar a si próprio, o homem quer se encontrar, ser pleno. Será possível uma reconciliação entre essas duas realidades que parecem opostas?

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Penso que essa situação nos leva de volta ao pecado original. Depois do pecado dos nossos primeiros pais, diz a escritura que passamos a viver na terra da dessemelhança, ou seja, longe da intimidade com Deus. Percebemos essa tendência ainda hoje com os nossos pecados pessoais. Há algo dentro de nós que tende ao mal e muitas vezes nos acostumamos com esse mal na nossa vida de tal forma que ele parece fazer parte da nossa natureza. Esses são os vícios.

Uma pessoa viciada em qualquer coisa, é alguém que experimenta com tal força a necessidade desse tipo de mal, que pode chegar a pensar que não pode mais viver sem ele. Pensemos, por exemplo, no vício das drogas, do álcool ou da pornografia. Eles exercem uma espécie de poder sobre as pessoas que padecem que de certa forma os escraviza. Não é fácil se livrar dessa situação.

Agora, imaginemos que alguém chegue e diga que sabe o caminho para extirpar esse mal da vida. Como já se está tão acostumado com o vício, o caminho a percorrer pode ser visto como um negar-se a si mesmo. É preciso negar aquilo que parece ser da nossa natureza e ter fé naquele que diz saber o caminho.

Bom, Jesus não diz apenas conhecer o caminho, mas diz que Ele próprio é o caminho. E nós, pobres pecadores, acostumados com a presença do mal em nossas vidas, precisamos então confiar nEle para que nos vejamos cada vez mais livres do mal em nossas vidas. E isso, sabemos, não acontece do dia para a noite. Durante toda a nossa vida terrena Deus vai nos purificando por diversos meios, afim de que estejamos os mais preparados possível para o encontro pleno com Ele.

Podemos dizer que uma primeira dimensão da renúncia cristã é essa da purificação. Mas existe pelo menos mais uma dimensão que é muito importante também. Na passagem conhecida como a do Jovem Rico, esse jovem pergunta ao Senhor o que fazer para ser bom, ao que Ele responde: “Conheces os mandamentos, cumpre-os”. Acontece que o jovem já os cumpria desde a infância. Jesus então o olha com amor e diz: “Vai, vende tudo o que possuirdes, dá aos pobres, depois vem e segue-me”. Mas o jovem saiu triste porque não conseguiu renunciar aos muitos bens que possuía.

Aqui não se exige renunciar algo que é contrário a natureza do homem. Porque ter bens não é pecado. Se pensamos nos sacerdotes e consagrados, eles renunciam ao matrimônio não porque seja contra a natureza humana, mas simplesmente porque percebem que Jesus pede isso deles. E por amor, respondem com generosidade, coisa que o jovem rico não pôde fazer. É uma negação de si mesmo ainda mais radical que a da purificação e que só faz sentido mesmo se vier de Deus.

O que é preciso renunciar para seguir a Deus? Concretamente, é sempre uma resposta pessoal que nasce do encontro de um coração que deseja ser fiel a Deus com Cristo que lhe mostra por onde ir nesse mesmo caminho da vida cristã que é Ele mesmo. Mas independente da vocação pessoal de cada um, as renúncias vão sempre passar por negar-se a si mesmo, tomar a própria cruz e seguir Jesus.

 

Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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