Por João Antônio Johas Leão Em Crescendo na Fé Atualizada em 03 ABR 2019 - 14H34

Solidão do Vocacionado

Quando se olha a vocação sacerdotal, religiosa ou qualquer outro estilo de vida que assuma o celibato pelo Reino de Deus, costuma-se falar de uma certa solidão que essas pessoas vivem e que precisam aguentar ou resistir bravamente por conta de sua eleição. Se coloca muita ênfase na renúncia feita até para admirar a generosidade de tal escolha como quem diz: “Nossa, tem que ser muito corajoso para fazer isso”. Sem tirar a parcela de verdade que esse lado possa ter, gostaria de falar um pouco da outra parte, muitas vezes esquecida. A dimensão positiva do celibato.

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Amadeo Cencini é um sacerdote que tem várias obras relacionadas com a afetividade e o celibato. Em seu livro chamado virgindade e celibato hoje ele escreve: “Qualquer escolha implica uma renúncia, como uma condição (negativa) diretamente ligada àquela escolha. A renúncia intencional do virgem (Aqui ele usa a palavra virgem para falar sobre o que nós normalmente conhecemos por celibatários. A razão é que ele quer resgatar o positivo dessa palavra) consiste em renunciar a vínculos definitivos e exclusivos, com caráter totalizante, como seria, por exemplo, o casamento. Mas não se trata só disso, porque isso já se sabe e costuma ser um pressuposto, enquanto não se enfatiza o suficiente a outra vertente da escolha”.

Até aqui ele falou sobre o que costumamos pensar quando vemos alguém que vive o celibato. Mas ele continua: “O virgem também escolhe não excluir ninguém; em conclusão, renuncia a amar com os critérios da benevolência ou simpatia simplesmente humanas – que prefere uma pessoa ou exclui a outra baseando-se no simples instinto ou na espontânea atração ou no interesse pessoal mais que no da outra pessoa. (...) O virgem precisa viver muitas relações, mas com um estilo particular, que transpareça de forma clara sua virgindade (celibato) e expresse ao mesmo tempo a centralidade da sua relação com Deus”.

Essa outra parte do celibato, mais esquecida, é na verdade o sentido da escolha. O celibato não é, primeiramente um não a relação pessoal, pelo contrário, é um sim a todas as relações pessoais e, preferencialmente, a uma relação com aquelas pessoas que são menos amadas ou, em outras palavras, os mais necessitados de amor.

Não é fácil, hoje em dia, perceber essa dimensão. A nossa cultura, em geral, nos leva para o outro lado, as vezes colocando no centro de toda a existência as relações sexuais. Em um mundo assim, o celibato realmente é incompreensível. Mas justamente porque o centro da existência é Deus, os que optam pelo estilo de vida celibatário precisam fazer uma forte opção, para que sejam testemunhas de verdade.

A solidão não vem do celibato. Pelo contrário, um celibato bem vivido é fonte de amor, de relação, de entrega, de disponibilidade. A solidão vem quando não se enxerga isso. O pecado presente em nós turva a nossa visão e o celibato pode muitas vezes se transformar em um peso, um fardo. Mas esse não é o verdadeiro sentido do mesmo. E essa solidão fruto do pecado é experimentada por todos os homens, inclusive os casados quando perdem de vista a grandeza do seu compromisso e começam a olhar para o lado e desejar o que não devem.

Responder ao chamado de Deus é sempre uma vivência do amor e, portanto, da comunhão, do encontro. Não da solidão. Quando ela aparece, podemos desconfiar de que algo em nossa vida afetiva não caminha bem. Talvez nossa relação com Deus, ou talvez a relação com os irmãos, ou talvez a relação entre os casados. Que nesses momentos possamos abrir com força nosso coração a esse Deus Trino, comunhão de amor, para que Ele encha os nossos corações com sua presença e que a solidão seja arrancada fora como um mal que é.


Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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