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ADOÇÃO TARDIA
QUANDO O VAZIO É PREENCHIDO


Cerca de 40 mil pessoas ou casais  buscam por um filho adotivo no Brasil.  
Mesmo assim, abrigos seguem lotados, com quase 9 mil crianças e adolescentes esperando um lar.
Apenas 2% das crianças e adolescentes disponíveis têm menos que 3 anos, o que torna a espera demorada e sofrida, mas há pessoas que resolveram não esperar tanto, abrir o leque de opções e ter vida nova praticando a Adoção Tardia.

O A12 foi atrás de alguns exemplos

REPORTAGEM

Eduardo Gois
ARTE/DIAGRAMAÇÃO

Marieli Borges
FOTOGRAFIA

Felipe Guimarães
Gustavo Cabral
Shutterstock: Banco de imagens
EDIÇÃO

Felipe Guimarães
IMAGENS

Felipe Guimarães
Gustavo Cabral
DIREÇÃO/PRODUÇÃO

Eduardo Gois
REVISÃO DE TEXTO

Luciana Gianesini

O QUE É

ADOÇÃO TARDIA


A adoção tardia é aquela praticada com crianças e adolescentes maiores de três anos de idade, que estão sob a custódia do Estado.
Se aplica até os 17 anos
e normalmente é mais rápida nos processos, devido à baixa procura por pais pretendentes.
Em 2014, quando o operador de áudio Vanderlei Nunes e a Locutora de Rádio Juliana Xavier decidiram juntos adotar os irmãos ‘A’ e ‘A’, de 12 e 9 anos, já esperavam que a vida do casal iria dar uma volta de 360 graus, pois um grande sonho havia acabado de se realizar em pleno Natal: a chegada dos filhos, já tão esperados e amados por toda a família.  

Mesmo encobertos por medos que são naturais, pais e filhos têm aprendido a pôr em prática o verdadeiro amor incondicional, sentimento dos mais nobres que podem brotar do coração de um ser humano.

Não pense que adotar crianças grandes foi o plano A dos dois. Juliana conta que foi uma decisão que primeiro necessitou se despir de preconceitos e se compor de mais informações. “Se, por um lado seria difícil ser mãe, o que me deixou muito triste, por outro lado, fui me abrindo para a adoção”, conta.

Esta abertura, num primeiro momento, assim como a maioria dos pretendentes a adoção seria por uma criança pequena, ou um bebê, mas a espera tornou a decisão um tanto angustiante, o que fez o casal se abrir e conhecer a realidade de crianças maiores. “Nos abrimos principalmente quando o fórum nos apresentou um curso obrigatório, que falava sobre a adoção tardia”, explica Vanderlei.

 DADOS:  CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO (CNA)

Total aproximado de crianças e adolescentes em abrigos 
9 mil

Aptas para adoção
5 mil
 
Fonte: Cadastro Nacional de Adoção 
(Dados de junho de 2018)
A MAIORIA DOS PRETENDENTES QUER O MESMO

A advogada da família, Cátia Vita afirma que a preferência por crianças menores, em parte, é dada pela motivação e pelo desejo de ter uma experiência considerada completa com a criança, desde os seus primeiros anos de vida. “Ocorre que quanto mais o pretendente restringe o perfil da criança, mais tempo vai levar na fila de espera”, observa.


Uma criança recém-nascida, branca, de preferência do sexo feminino, sem irmãos e sem nenhuma doença. Este é o perfil mais procurado e o mais difícil de ser atendido, pois 77% das crianças e adolescentes disponíveis para adoção no país, têm entre 10 e 17 anos e apenas 2% são menores que 3 anos, sem contar que mais de 50% delas têm irmãos, segundo dados de junho de 2018, do Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

Apesar dos números, os dados vêm mudando, pois entre 2015 e 2016, a adoção tardia dobrou nas estatísticas.

Na opinião da advogada cível Fernanda Zucare, isso acontece porque ainda existe a busca por uma criança “ideal”, livre de traumas da família biológica, vícios incorrigíveis e dificuldades na adaptação, o que seria, em tese, mais propício em uma adoção de crianças até 3 anos.

Para Juliana, normalmente as pessoas constroem um pensamento de medo. “Muitas vezes quando vemos no noticiário um relato de um crime feito por um filho adotivo, vamos alimentando preconceito, mas o que a criança precisa é de amor!”.

ABERTA A QUALQUER PERFIL


KAREN WEINGARTNER NÃO OPTOU SÓ PELA ADOÇÃO TARDIA, MAS ACEITOU RECEBER QUALQUER FILHO QUE DEUS A ENVIASSE, INDEPENDENTEMENTE DE IDADE, SEXO, COR OU DEFICIÊNCIA

O Menino Kauã, de 3 anos, é esperto, adora se comunicar, pergunta sobre tudo e durante a entrevista interrompeu várias vezes a conversa, pois queria usar um microfone de lapela igual ao da mãe. Carinhoso, ficou triste quando a equipe do A12 teve de ir embora.

Karen trabalha como analista de Recursos Humanos e sente-se realizada com a decisão de ser mãe solteira, pois sempre teve o desejo de ter um filho, embora o casamento não fosse uma questão prioritária em sua vida. Ela viu o processo de adoção correr mais rápido, após quase desistir, antes de abrir-se a demais perfis para adoção.

Porém há outro fator que Karen assume ter contribuído bastante. Angustiada com a demora de 5 anos de espera, ela pediu sinais a Deus, se haveria de desistir ou não. Era um domingo, durante a celebração de uma missa, ela disse: “O Senhor sabe do que eu preciso!”, na segunda-feira, o telefone tocou e ela foi conhecer o Kauã, naquele momento se sentiu mãe e a sua vida mudou, segundo ela, amparados pela mão de Deus.


MAIORIA DAS CRIANÇAS NÃO SÃO BRANCAS, POSSUEM IRMÃOS E SÃO MENINOS

Dados

O HOMEM QUE
ADOTOU 8 FILHOS


COMEÇOU A TER SONHOS QUE SE REPETIRAM POR QUATRO ANOS: “EU ABRAÇAVA UM RAPAZ E CHORÁVAMOS MUITO, PERCEBI QUE AQUELE ERA O MEU FILHO, ENTÃO COMECEI A PROCURÁ-LO EM ABRIGOS, MESMO SEM NUNCA TER VISTO ELE PESSOALMENTE”.

Aos 30 anos, o Jornalista Ederson Flávio Ribeiro sentia um desejo muito forte em ser pai, na época ainda namorava, mas não tinha planos em se casar.

Começou a ter sonhos que se repetiram por quatro anos: “Eu abraçava um rapaz e chorávamos muito, percebi que aquele era o meu filho, então comecei a procurá-lo em abrigos, mesmo sem nunca ter visto ele pessoalmente”.

Com o passar do tempo Ederson, se envolveu com a questão da adoção, começou a ajudar outras pessoas nos processos. Certo dia, em um determinado abrigo, estava conhecendo aquele que seria o seu 2º filho, Anderson, que na época, em 2007, iria completar 18 anos e estava apavorado e sem ter ninguém na vida. “De repente, o Eduardo ‘1º filho de Ederson’ passou atrás do Anderson e eu tive certeza de que era o garoto dos sonhos”.

POR QUAIS MOTIVOS CRIANÇAS VÃO PARA ABRIGOS

Normalmente os motivos mais recorrentes são:
| NEGLIGÊNCIA |
| MAUS TRATOS |
| MORTE DOS PAIS |
| ABANDONO |
| VIOLÊNCIA |


Na explicação do advogado cível Edgard Dolata, uma criança poderá deixar de conviver com os pais biológicos quando houver a destituição do poder familiar, que ocorre após a realização de um processo judicial, ou quando houver o consentimento dos pais ou representante legal.

A adoção somente será opção quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa. 


 PRAZO MÁXIMO   02 ANOS

Desde 2009, o prazo máximo para uma criança ser adotada é de 2 anos, porém, na prática pode demorar bem mais, uma vez que o número de crianças e adolescentes com baixo perfil de procura é muito alto.

CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO

UMA LISTA CRUZA OS DADOS DE QUEM QUER ADOTAR COM O PERFIL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE QUEREM OU ESTÃO APTAS PARA ADOÇÃO.

O que sente quem não tem uma família?

Para a psicóloga Lidiane Silva, a construção de pensamentos se torna confusa e negativa devido às experiências que a criança carrega consigo. Os pensamentos trazem intensa sobrecarga de ansiedade devido a instabilidade que o medo de ser abandonada novamente pode trazer, a criança no abrigo vive na expectativa de notícias dos pais, os pensamentos e questionamentos mais comuns estão relacionados se são amados por alguém, se os pais vão voltar para busca-los, se haverá uma nova família, até quando vai ter que ficar em um abrigo.

São pensamentos aleatórios e de cunho fantasioso com uma realidade negativa, leva tempo e necessita de intervenção de um profissional para modificar as crenças e ou pensamentos negativos que a criança traz para o seu dia a dia. Por haver um rompimento abrupto dos vínculos essa criança pode aderir ao isolamento, sentindo-se desamparado e desmotivado entrando num ciclo vicioso de pensamentos autodestrutivos ou autopunitivos, pois algumas crianças sente-se culpadas por estarem separadas da família. “Crianças e adolescentes que passaram pelo processo de institucionalização possuem uma subjetividade particular na forma de enxergar e perceber o mundo a sua volta e as relações interpessoais, desenvolvendo mecanismos de defesa como excesso de agressividade, impedimento ou complicação nas relações afetivas, dificuldades em entender e expressar suas vontades e emoções, a carência de afetos resulta em insegurança e tendência a dependência emocional de cuidadores ou quaisquer pessoas que possam demonstrar algum afeto. Em alguns casos é com um a reincidência em abrigos o que potencializa a necessidade inconsciente de se proteger das decepções de um novo abandono”, explica

Outras perguntas

Como adquirem a confiança em uma nova família?

Para Lidiane com o passar do tempo a criança precisa compreender o seu novo estilo de vida, precisa ter suas percepções sobre o ambiente em que está sendo inserida e muitas vezes o único sentimento que possuem nesse processo de adaptação é insegurança, ansiedade e expectativas se serão aceitas nessa constelação familiar. “A criança precisa sentir-se protegida, segura, aceita e amada. Gestos de carinho e compreensão amenizam a carência e insegurança. O diálogo e a atenção desperta a empatia e são fundamentais para que vínculos sejam criados e mantidos, todos esses fatores são direcionados para o desenvolvimento da confiança no seio familiar”, exemplifica.

Outras perguntas

Traumas

Outro ponto importante que é preciso levar em consideração é a faixa etária, quais os cuidados que a criança recebeu e até mesmo o motivo que essa criança foi destinada a adoção. “Muitas passam por violações, negligencias, violência física ou sexual, e demais situações que desencadeiam vários traumas e vulnerabilidades interferindo na construção de novos vínculos e as vezes desenvolvendo transtornos como a depressão, fobias, inferioridade intelectual, síndrome do pânico, estresse pós traumático. É fundamental que a criança tenha acompanhamento psicológico para resolver e solucionar conflitos internos e amenizar as consequências traumáticas, assim ela aprenderá estratégias para se tornar resiliente e resolver situações conflitantes das vivencias anteriores, podendo assim, ser preparada para novas fases da vida”.

Outras perguntas

Como os pais devem lidar no período de adaptação?

Os pais devem estar preparados psicologicamente para receber uma criança ou adolescente que é um novo membro familiar. É necessário o casal entrar num consenso da dinâmica que essa criança será inserida, o lar deve ser estruturado e harmonioso, ou seja sem conflitos entre o casal que possa prejudicar a educação e qualidade de vida da criança nesse processo de adaptação.

Na avaliação de Lidiane, os pais devem exercer a paciência para que a criança compreenda a nova rotina e dinâmica da família. Caso os pais já tenham outros filhos, devem ficar atentos à atenção ser direcionada com igualdade, pois toda a mudança deve ser recebida de forma positiva e com o olhar sensível sobre o “tempo” de adaptação que cada um precisa.

Outras perguntas

7 passos
PARA ENTRAR COM UM PROCESSO DE ADOÇÃO


Na avaliação de Edgard, o processo de adoção é complexo e costuma ser moroso. O interessado em adotar deve seguir 7 passos:

Procurar  a Vara de Infância e Juventude mais perto de casa.

Apresentar a documentação necessária e elaborar uma petição de inscrição para adoção.

Frequentar curso de preparação psicossocial e jurídica.

4º. Sentença do juiz sobre a adoção.

5º. Encontrar uma criança ou adolescente com o perfil para a sua família.

Sendo tudo aprovado, a ação de adoção terá início e haverá a guarda provisória da criança ou adolescente.

. Sentença de adoção e registro da criança ou do adolescente na família, assim o juiz profere a sentença de adoção e determina a lavratura do novo registro de nascimento, já com o sobrenome da nova família. Existe a possibilidade também de trocar o primeiro nome da criança. Nesse momento, a criança passa a ter todos os direitos de um filho biológico.

“O processo de adoção, em geral, é demorado então os futuros pais devem ter muita paciência, tranquilidade e principalmente, muito amor para oferecer a este filho que chegará” Fernanda Zucare


PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE ADOÇÃO

Quem está apto a ser pai ou mãe adotivo?


Quem tiver uma diferença mínima de 16 anos em relação à idade do adotado.Estado Civil, orientação sexual, classe social e religião não são fatores determinantes.

É possível ser adotado após os 18 anos?


Pessoas que já atingiram a maioridade civil também podem ser adotadas, se respeitada a diferença mínima de 16 anos entre adotante e adotado. Nesta hipótese, a adoção dependerá da assistência do Poder Público e de uma sentença constitutiva, que criará o vínculo jurídico de adoção. Cátia exemplifica, detalhando o exemplo de que um homem de 40 anos poderá ser adotado, por exemplo, por um outro adulto de 70 anos.

Quem não pode adotar?


Os ascendentes (avós) e os irmãos do adotante. Isto porque, já existe um vínculo natural de parentesco e poderia confundir o adotante. Cátia, explica que O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 42, § 1º, traz o seguinte texto: “Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando”. Para a advogada, isto ocorre para que possa ser evitada uma confusão para o adotado, que passaria a não mais ser neto e, sim, filho, assim como não mais irmão. “A jurisprudência, quanto ao tema, é tranquila, estabelecendo a impossibilidade de adoção por ascendentes e irmãos. Neste sentido, absorve-se que, o intuito de se manter a nova família do adotando o mais próximo possível daquela família tradicional, avistada com frequência a proibição trazida pelo § 1º do artigo 42 do ECA tem sua razão de ser”.

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Por Redação, em Redação A12

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