Brasil

Corresponsabilidade: um olhar missionário sobre a política

Escrito por Luciana Gianesini

19 SET 2018 - 09H33 (Atualizada em 29 AGO 2022 - 10H36)

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No próximo mês de outubro, mês em que pensamos e rezamos pelas missões, também a nós é confiada uma importante missão: enquanto cristãos atuantes na sociedade, somos mais uma vez chamados a escolher nossos representantes de governo. Portanto, é mais que propícia uma profunda reflexão sobre o assunto.

O Papa Paulo VI disse que “a política é a forma mais perfeita de caridade”. Isto porque, através da política é que temos condições de viver de forma ordenada em sociedade, pois juntos podemos partilhar nossos conhecimentos na busca de soluções para os problemas e/ou desafios que a vida em comunidade nos apresenta cotidianamente.

A participação política não é tarefa exclusiva daqueles que se candidatam a exercer algum cargo no governo, mas é, antes de tudo, uma exigência da fé. A política é a ferramenta mais importante que dispomos para promover a solidariedade. Assim, é também um instrumento valioso de ação cristã, à luz da Palavra.

Entretanto, em meio ao desgaste – e até mesmo certa aversão – que o tema “política” nos incute hoje, temos o dever de repensar a importância de nossas escolhas e, principalmente, avaliar a forma como estamos conduzindo nosso protagonismo na construção da cidadania.

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Há tempos, instigados pela propaganda eleitoral, vimos recebendo uma avalanche de informações, propostas e outros subsídios que podem nortear nossas escolhas. Mas o mais importante é que consigamos ver, naqueles que escolhermos pelo voto, traços fundamentalmente cristãos. Isto é, se desejamos viver de forma coerente com o que professa nossa fé, também os nossos eleitos devem demonstrar esta mesma coerência.

Nesse sentido, o profeta Isaías enumera uma série de características que podemos – e devemos – procurar em nossos candidatos:

“Quem de vós pode ficar junto ao calor desse fogo? Quem pode morar nessa fornalha que não se apaga? Aquele que caminha na justiça e só fala a verdade, que se recusa a ficar rico com a exploração, que esconde a mão para não aceitar suborno, que tapa os ouvidos para não ouvir proposta assassina, que fecha os olhos para não apoiar a injustiça, esse vai morar nas alturas, o alto da rocha será seu refúgio. Lá recebe o alimento e a água lhe é garantida”. (Is 33, 14b-16)

Partindo desses princípios, podemos ainda nos valer de outros critérios para bem escolher quem nos irá representar pelos próximos quatro anos.

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Em resumo, a missão do eleito é fundamentada em três pilares:

1. O mérito/merecimento de poder servir e representar todo um povo;

2. O preparo para exercer o cargo ou função a que se candidatou;

3. O comprometimento com a luta pelos interesses daqueles que representa.

Nesses pontos encontra-se o alicerce da missão de governar. É receber o dom de Deus e fazê-lo frutificar em benefício do próximo (Lc 19, 11-27).

A partir de Mt 25, 14-30, temos a seguinte reflexão:

“Não basta estar preparado, esperando passivamente (...). É preciso arriscar e lançar-se à ação, para que os dons recebidos frutifiquem e cresçam. Jesus confiou à comunidade cristã a revelação da vontade de Deus e a chave do Reino. No julgamento, ele pedirá contas por esse dom. A comunidade o repartiu e o fez crescer, ou o escondeu dos homens?” (Bíblia Sagrada – Edição Pastoral. Edições Paulinas).

O escritor Rubem Alves, em seu artigo 'Sobre política e jardinagem', publicado na Folha de São Paulo, em 19/05/2000, diz que “de todas as vocações, a política é a mais nobre. (...) De todas as profissões, a política é a mais vil”. Ele diz ainda que "vocação é diferente de profissão", pois, na vocação, a pessoa se realiza na própria ação. Já na profissão, a realização da pessoa não está na ação em si, mas na “vantagem” obtida a partir dela. Assim, um “político por profissão” fatalmente se utiliza da confiança depositada pelo povo para atingir seus objetivos e interesses pessoais.

Da mesma forma que o eleitor tem a missão de escolher bem, o eleito tem a missão de trabalhar bem e pelo bem. Quem deseja transformar uma sociedade, deve coordenar as mãos, a cabeça e o coração, de forma a produzir uma ação transformadora eficaz. Igualmente, uma sociedade justa só se constrói a partir do sentimento de corresponsabilidade entre cidadãos e governantes. Para isso, é fundamental o acompanhamento sistemático da atuação política daqueles que elegemos. Não é suficiente escolher com critério; é preciso estar em constante sintonia com nossas escolhas, pois, caso ainda assim tenhamos sido ludibriados, podemos reavaliar e escolher um caminho diferente no próximo pleito.

A Igreja, que somos nós mesmos, é essencialmente missionária. Portanto, não podemos nos eximir da responsabilidade de assumir nosso papel participativo na sociedade em que vivemos. O Papa Bento XVI afirma que “a política é mais que uma simples técnica para definição dos ordenamentos públicos; sua origem e seu objetivo estão precisamente na justiça, e esta é de natureza ética” (Deus caritas est, 28). Portanto, a ética deve pautar não somente nossas escolhas, mas nosso trabalho, nossa vida.

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Todos nós temos uma missão. A responsabilidade também é nossa. Se queremos uma sociedade melhor, devemos ser melhores e assumir nosso papel dentro dela. “É tempo de ser Igreja, caminhar juntos, participar!”

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