Por Mariana Mascarenhas - Redação A12 Em Brasil

Enquanto se discute política, a economia segue a patinar


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O dia 7 de abril de 2018 ficará marcado para sempre na história do país, para uns de forma negativa; para outros, positiva. Isso porque, nesse dia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi preso, após se apresentar à Polícia Federal. Em julho de 2017, o ex-presidente havia sido condenado pelo juiz Sérgio Moro a nove anos e seis meses de prisão, por pretenso crime de corrupção e lavagem de dinheiro. No entanto, após ter recorrido da sentença, em janeiro deste ano, sua pena foi ampliada para doze anos e um mês pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).

O mandato de prisão foi decretado por Moro, no dia 5 de abril, logo após o julgamento dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), os quais, por seis votos a cinco, decidiram, numa sessão que durou quase 11 horas, negar a concessão do habeas corpus ao ex-presidente.

A prisão gerou uma repercussão midiática de caráter cinematográfico. Enquanto militantes pró-Lula cercaram o prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), onde o ex-presidente se encontrava antes de ser preso, outros soltavam fogos e batiam panelas, enxergando em tal medida um avanço no combate à corrupção do país.

Independente de qual lado se esteja nesta história, o grande problema concentra-se no agravamento da polarização que divide o país e impede uma discussão promissora que possa, no mínimo, olhar criticamente para todos os lados e, a partir daí, cobrar os direitos do povo. Os anos passam, mas as disputas continuam sendo suavizadas ou atenuadas na proporção dos acontecimentos do Brasil.

O fato do dia 7 de abril contribuiu apenas para, mais uma vez, proporcionar discussões calorosas, especialmente nas redes sociais, desviando a atenção da população para os verdadeiros problemas do país. Enquanto cidadãos se desgastaram em discussões defendendo e/ou atacando o ex-presidente, continuamos sendo assaltados pela política corrupta brasileira e assolados por uma economia que segue a patinar.

Leia MaisCuide da economia financeira no casamentoPapa Francisco pede orações por uma economia de inclusãoA economia brasileira apresenta sinais de melhora para quem? Educação infantil de qualidade e seu impacto na economiaO IBC-Br, índice do Banco Central que aglutina dados de vários setores e fornece pistas sobre o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,56% em janeiro, depois de quatro meses de expansão, contrariando as previsões positivas para o cenário econômico. Em relação ao mercado de trabalho, de acordo com pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, o número de ocupados elevou em 1,8 milhão em 2017, reduzindo parte da queda de 2,6 milhões dos dois anos anteriores. No entanto, grande parte dessas ocupações referem-se a vagas sem carteira assinada.

A instabilidade apresentada pelos empregos informais acarreta uma redução do consumo, já que o trabalhador não se sente seguro o suficiente quanto ao tempo de permanência no trabalho e, assim, tende a reter gastos. Com a diminuição do consumo, as empresas tendem a produzir menos, gerando menos lucros e afastando investidores. Além disso, as empresas continuam demitindo. De acordo com a Pnad Contínua, na comparação entre os trimestres encerrados em dezembro de 2017 e fevereiro de 2018, houve 195 mil demissões de empregos formais.

Em fevereiro de 2018, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros – Selic – para 6,75%, constituindo o 11º corte seguido. Trata-se da menor taxa desde 1986 e do menor patamar já registrado, desde o começo do regime de metas inflacionárias, em 1999. Todavia, o Brasil detém de uma das maiores taxas de juros do mundo. A redução da Selic, portanto, não exerce influência direta para que bancos reduzam os juros à mesma proporção.

Em entrevista ao site Gazeta do Povo, Fernando Sampaio, diretor de macroeconomia da LCA Consultores, afirma que os bancos utilizam a inadimplência como justificativa para o elevado valor do crédito, porém houve uma redução no número de calote desde 2016, concentrando-se hoje em torno de 5%. “A inadimplência das empresas ainda está excepcionalmente alta, acima da média histórica. No caso das pessoas físicas, não. O fato de o custo do crédito não cair tanto para elas pode ter a ver com problemas de concorrência no setor, que é cada vez mais concentrado”, avalia Sampaio, da LCA.

Com a manutenção de demissões, instabilidade no mercado de trabalho, queda na produtividade, consumo e investimentos governamentais, há motivos para comemorar? Infelizmente, seguimos muito aquém de uma nação-modelo tanto economicamente, quanto politicamente. Enquanto a polarização seguir fragmentando o Brasil, todos os lados persistirão prejudicados, à exceção do governo corrupto, que segue a nos assaltar diariamente.

Escrito por
Mariana Mascarenhas
Mariana Mascarenhas - Redação A12

Jornalista e Mestra em Ciências Humanas. Atua como Assessora de Comunicação e como Articulista de Mídias Sociais, economia e cultura.

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