Por João Antônio Johas Leão Em Espiritualidade

"Não acredito em Deus"


Shutterstock
Shutterstock

No mundo contemporâneo é comum escutar a afirmação “Não acredito em Deus”. As vezes a afirmação não é tão forte assim e vem em forma de um agnosticismo que se dissimula por trás de “acredito em alguma energia por trás de tudo” ou “Acredito em Jesus, mas não na Igreja’'. Elas expressam, a seu modo, que a religião, ou a crença em Deus, não é mais tão importante assim. Ou seja, alguns podem ser católicos, outros muçulmanos, outros budistas ou protestantes, mas na vida pública, não trataremos dessas particularidades, porque há outras coisas mais importantes para serem atendidas, como a paz comum, o bem-estar, o avanço das tecnologias.

Leia MaisPor que muitas crianças não sabem mais rezar?Os adultos de hoje E, no entanto, essa postura coloca em segundo plano (Para ser bem otimista), uma realidade que sempre foi tida como fundamental para o homem, que é a sua conexão (ou falta de conexão) com algo que o supera, com uma realidade anterior a ele mesmo, que deu origem a esse mundo e, por tanto, precisa ser levada em consideração nas reflexões sobre o mesmo e sobre o nosso agir nele. O que gostaríamos de propor aqui é que voltemos a perceber a centralidade da pergunta sobre Deus para as nossas vidas. E que cada um possa buscar ativamente essa resposta em suas vidas.

Para fazer a história curta, em um certo momento, lá pelo século XV, a cosmovisão católica do mundo se rompe. O Bem católico fica questionado e outras concepções de bens irão surgindo. A grande pergunta nesse momento passa a ser então como fazer para viver em paz com essas diversas concepções de bem convivendo entre si. Em certa medida deixa-se de lado a busca por um bem e, em última análise, pela Verdade. Já não se crê possível falar sobre a verdade no sentido forte, sob a acusação de um dogmatismo, de uma pretensão que estaria fora das capacidades humanas.

Sem negar os limites da razão humana, fato é que a nossa razão nos impele desde crianças a buscar a verdade. De fato, as crianças são famosas pelas perguntas incômodas e insistentes. Mas elas são mostra exatamente desse desejo de verdade. Se negamos isso, negamos algo muito fundamental em cada um de nós. E caímos em uma espécie de reino das normas. Já não se sabe mais o que fazer, a que destino estamos apontados, então criamos regras, normas, para a convivência. Mas isso necessariamente vai dar errado. Aliás, com alguma honestidade podemos ver que já dá errado.

Sem um projeto comum, sem a busca pela verdade, os interesses em conflito vão tentar se impor não pelo diálogo, ou porque defendam ser melhores em si mesmos (Porque não podem mais falar isso), mas pela força. Pode ser a força do dinheiro, ou a força de uma massa de pessoas que juntas querem impor um ideal, mas será uma imposição “de fora”, de um conjunto de ideias que pode ter pouco a ver com a realidade. E daí que nascem os totalitarismos que tanto mal fazem ao homem privando-o de suas liberdades mais fundamentais.

E se voltamos agora ao início, percebemos que a origem desse problema importantíssimo está em deslocar a questão religiosa do centro da vida humana. Ou seja, não interessa muito se há ou não um Deus ou deuses. É como se escutássemos: “Pode acreditar no que quiser, mas ajuda aqui a resolver esse conflito”. Como se as duas coisas não tivessem relação nenhuma, quando, na verdade, somente quando se responde sobre Deus é que o homem pode, efetivamente e coerentemente, agir no mundo.

O ateísmo é uma posição tão religiosa quanto muitas das chamadas religiões tradicionais. Ela certamente dá uma resposta que espera ser verdadeira com relação a essa pergunta fundamental sobre Deus. E talvez, nesse sentido, seja até mais coerente a posição do ateu do que a de quem desistiu de buscar a verdade. Pelo menos aparentemente, eles trazem a pergunta sobre Deus de novo para o centro da mesa. O que os crentes, em especial os católicos precisam fazer é colocar-se em condições de diálogo, respeitoso e caritativo, mas firme e coerente. E desde essa centralidade da dimensão religiosa, voltar a responder todas as outras questões humanas.

Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

3 Comentários

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site.

0

Boleto

Carregando ...

Reportar erro!

Comunique-nos sobre qualquer erro de digitação, língua portuguesa, ou de uma informação equivocada que você possa ter encontrado nesta página:

Por Redação A12, em Espiritualidade

Obs.: Link e título da página são enviados automaticamente.

Carregando ...