Por Padre José Luis Queimado, C.Ss.R. Em Igreja Atualizada em 08 NOV 2019 - 14H32

Conhecendo os Evangelhos: Rumo a mudanças

(Lc 13, 10-17)

Jesus estava ensinando numa sinagoga, num dia de sábado. Havia aí uma mulher que, dezoito anos já, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e totalmente incapaz de olhar para cima. Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse: “Mulher, estás livre da tua doença”. Ele impôs as mãos sobre ela, que imediatamente se endireitou e começou a louvar a Deus.

O chefe da sinagoga, porém, ficou furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado, e se pôs a dizer à multidão: “Há seis dias para trabalhar. Vinde, pois, nesses dias para serdes curados, mas não em dia de sábado”. O Senhor respondeu-lhe: “Hipócritas! Não solta cada um de vós seu boi ou o jumento do curral, para dar-lhe de beber, mesmo que seja em dia de sábado? Esta filha de Abraão, que Satanás amarrou durante dezoito anos, não devia ser libertada dessa prisão, mesmo em dia de sábado?”.

Essa resposta envergonhou todos os inimigos de Jesus. E a multidão inteira se alegrava com as maravilhas que ele fazia.

Rumo a mudanças

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A autoridade de Jesus que os Evangelhos nos transmitem é realmente inquestionável! A todas as acusações a ele feitas, responde com habilidade e inteligência. Este é mais um episódio de embate entre Jesus e aqueles que queriam vê-lo longe daquelas redondezas.

A mulher encurvada (do grego: συγκύπτω – synkýpto) não é a razão principal para a contenda desse episódio entre Jesus e os chefes do povo. O verdadeiro problema está no ato de cura em dia proibido. No texto, podemos ler que somente o chefe da sinagoga é que repreende Jesus, mas a resposta do Mestre indica-nos mais autoridades presentes, quando ele lhes lança a palavra: hipócritas!

Os fariseus, com certeza, não eram pessoas ruins e fanáticas, mas eram verdadeiros zelosos pela fé da tradição e da lei escrita. Eles estavam inseridos na sociedade e eram vistos como autoridades pelo povo. Muitos dos fariseus eram doutores da lei, pois sabiam ler e escrever (escribas: γραμματεύς – grammatéus). Mas a lei era levada com um rigorismo tão alto que a atitude de Jesus se tornava incompreensível aos olhos daquelas autoridades ali presentes.

O Sábado devia ser respeitado mais do que qualquer outro dia, pois foi quando Deus descansou, segundo a tradição judaica, depois de ter criado o mundo. Por isso, Jesus quebra algumas barreiras culturais antigas em vista do bem maior, do bem das pessoas.

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O Mestre cura a mulher, devolvendo a sua felicidade, pois a inseriu novamente naquela comunidade de fé. Os doentes eram vistos como castigados por Deus, assim como os pobres! Essa teologia daninha ainda ronda algumas igrejas cristãs, até mesmo algumas partes do Catolicismo. Assim diz ela: você é pobre ou doente, porque Deus está castigando pecados de seus antepassados. Jesus acaba com essa teologia falsa. Ele se compadece da situação daquela pessoa, pois além de estar doente há anos, também era uma mulher, sujeito de grande rejeição daquela sociedade.

Os embates de Jesus e dos chefes das sinagogas, principalmente os fariseus, são também retratos da realidade vivida pelo evangelista. Lucas escreve muitos anos depois da morte e ressurreição de Jesus, e ele sabe que há muitas desavenças entre judeus, principalmente os rabinos fariseus, e cristãos, sobretudo os convertidos do paganismo, que não davam muita importância à cultura judaica e seus preceitos.

Hoje, devemos pensar se nós estamos sendo agentes de transformação; se estamos lutando contra leis e regras que matam ao invés de proteger a vida! Muitas vezes, preferimos desmoralizar um irmão a abandonar algumas práticas culturais ou piedosas que carregamos conosco. Jesus é o grande exemplo de mudanças. Devemos sempre mudar, para que consigamos tirar o peso das costas de muitos de nossos irmãos, que estão encurvados há bastante tempo pelo peso do rigorismo e do legalismo, até mesmo dentro de nossas igrejas ou de nossas casas!

Que Jesus seja o nosso auxiliador nessa caminhada árdua de transformação! Mudar o que nos mata e continuar o que nos edifica!

Escrito por
Pe. José Luis Queimado, C.Ss.R. (Arquivo Santuário Nacional)
Padre José Luis Queimado, C.Ss.R.

Missionário Redentorista com experiência nas missões populares, no atendimento pastoral no Santuário Nacional de Aparecida, passou pela direção do A12, fez missão na Filadélfia nos Estados Unidos. Atualmente é diretor editorial adjunto na Editora Santuário.

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