Vocação Humana

“No princípio Deus criou o céu e a terra. Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança (...). (...) Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a (...). Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom.” Gn 1,1.26.28.31

Para compreender a Vocação Humana precisamos refletir sobre a origem do ser criado por Deus e a sua importância para o mundo. O livro do Gênesis nos oferece o melhor caminho de compreensão da grandiosidade do ser humano no projeto de Deus (Gn 1).

A criatura humana foi feita como “imagem e semelhança de Deus”. Façamos o esforço de imaginar o momento da Criação, como está relatado em Gênesis, capítulo 1. Constatamos de início que Deus é “Pessoa” de bom gosto e grande autoestima.

Estando Ele no firmamento, rebaixa-se ao solo, pega nas mãos um pouco de barro (“húmus”) enxarcado pelas águas correntes e, como criança, começa a brincar, fazendo do barro um ser parecido consigo mesmo; seus dedos contornam o barro úmido, dando forma ao tronco, à cabeça, aos membros inferiores e superiores. Enquanto dá forma ao “boneco” (projeto), olha para si mesmo, projetando naquele ser suas qualidades e características interiores e exteriores; por ser como uma “cópia” de si, deseja que aquela criatura, tendo vida própria, pense e aja como Ele.

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Deus representou no ser humano sua beleza e sua bondade.

Terminada sua obra, sopra em suas narinas o hálito quente de suas entranhas, doando o calor de seu coração e seu Espírito, dando alma ao barro modelado, fazendo-o viver. Deus representou naquela criatura sua beleza e sua bondade. Ao final, contemplando o que acabara de fazer, “viu que era bom”.

Sendo imagem do Criador, tal qual Ele é (e não um ser igual a Deus), o ser humano também cria, inova, projeta, sonha. A criatividade é parte essencial da pessoa, que pode modificar, transformar, repensar o mundo e melhorá-lo. Em outras palavras: toda obra de arte expressa ideias e características do seu criador. O ser criado como “imagem e semelhança” de Deus é a arte carregada de ideias e características do Criador.

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Fomos criados para sermos portadores das qualidades de Deus: estar em relação, em comunicação com o outro, construir o bem e a felicidade, a harmonia, criar, renovar, abençoar, ousar, santificar. Ser chamado a ser pessoa humana significa ser extensão da ação de Deus, do seu pensar e do seu agir na realidade em que vivemos. Desse chamado nascem todas as outras vocações.

O ser humano é precioso, valoroso e precisa viver em uma relação de amizade com os demais semelhantes. Feito do barro, do húmus, não sendo como Deus, a criatura humana é frágil, necessita de complemento, de relação, de solidariedade e de cuidados. Modelados como “imagem e semelhança” de Deus, somos especiais enquanto vivemos neste mundo.

Mas, pela desobediência, a criatura quebrou a relação com seu Criador, mergulhando no pecado do egoísmo, da escravidão, da desumanização, e deteriorando as relações. Chamada à vocação humana, a criatura também é convidada a reatar e refazer as relações consigo, com Deus, com o mundo e com as pessoas. As relações indicam o grau de humanização ou deterioração da humanidade. Assim, todo movimento de agressão contra a natureza ou contra a criatura humana é sinal de desumanização.

Conscientes do chamado à vocação humana, assumiremos a missão de colaborar com o Criador em seu projeto de amor, sendo presença de Deus na história humana, participando da sua vida como parceiros da Criação que continua, pois Ele nunca parou de criar e santificar sua obra.

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