Redentoristas

A misericórdia e os redentoristas

Carisma alfonsiano foi salvo nas origens, certamente pela proximidade missionária dos confrades com o povo pobre

Escrito por Pe. José Ulysses da Silva, C.Ss.R.

13 JUL 2023 - 17H00 (Atualizada em 14 JUL 2023 - 11H44)

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A Misericórdia e os Redentoristas parecem ser um binômio que nos pertence por direito. O lema da Congregação, que é também o nome da nossa espiritualidade e o querigma da nossa pregação missionária, “copiosa apud eum redemptio” se identificam com “Copiosa apud eum misericordiae”, ou seja, "com Ele, há copiosa redenção e misericórdia".

A Misericórdia Divina nos ofereceu a copiosa Redenção, e a copiosa Redenção nos faz ser misericordiosos - ou missionários da Misericórdia. Por isso, a mensagem do Papa Francisco soa muito familiar aos redentoristas, como se brotasse da nossa história, da nossa espiritualidade e do nosso jeito de ser redentorista. Desde o início, ao ouvir suas primeiras mensagens, eu dizia que o Papa parecia ser mais redentorista do que jesuíta.

Contudo, é bom lembrar que, ao longo de nossa história, já fomos vistos até mesmo como terroristas morais.

Anunciar a Copiosa redenção

Santo Afonso nos ofereceu um caminho de espiritualidade missionária, que nos deve fazer passar longe da cultura jansenista, de viés restaurador, moralista, legalista e condenador.

Ele próprio sentiu a força do condicionamento jansenista. Foi sempre escrupuloso, mas sua sensibilidade moral passou do medo do inferno ao empenho de corresponder ao louco amor de Deus por nós. Homem de princípios e de leis claras, Afonso teve inteligência suficiente para perceber, em seu contato com os pobres cabreiros, que alguns princípios doutrinais e muitas leis canônicas não podiam ser aplicados a eles.

Trazia um cabedal cultural admirável, mas tinha também uma caridade pastoral que o fazia discernir “la volontà di Dio – a vontade de Deus” diante de situações concretas. Certamente, o DNA da mãe Ana prevalecia sobre a do capitão das galeras, além da espiritualidade de São Filipe Neri e de São Francisco de Sales.


Santo Afonso nos ofereceu um caminho de espiritualidade missionária.


Quando a Congregação se irradiou para além dos Alpes, ultrapassando as fronteiras da Itália atual, certamente as influências tanto da doutrina do jansenismo como de outras correntes condicionaram a formação de gerações de Redentoristas, que jamais tinham tido qualquer contato com Afonso.

Se Clemente Maria Hofbauer é o pastoralista, Armando Passerat, o grande formador, é o homem da ascese como caminho de santificação. Formou homens de têmpera missionária e moral, sempre a partir das Regras aprovadas em 1764, que não expressavam com fidelidade a intuição fundadora de Santo Afonso.

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A mentalidade fortemente conventual prevalecia por vezes sobre a natureza missionária da Congregação. Apesar desse viés voltado para a vida religiosa tradicional, Pe. Passerat estimulou as fundações em outros continentes e é a partir dele que a Congregação Redentorista se tornou intercontinental.

Proximidade com o pobre

Leia MaisTeologia Moral de Santo Afonso se ampara na misericórdia A benignidade na Teologia Moral de Santo Afonso O que salvou o carisma alfonsiano nas origens foi certamente a proximidade missionária dos confrades com o povo pobre, em situações de carência total, que nos faziam discernir juízos morais “a partir dos pobres”, além do testemunho de confrades que foram autênticos ícones missionários, como Gebardo Wiggermann, Pelágio Sauter, Vítor Coelho de Almeida e tantos outros, que sabiam unir amor ao povo, piedade popular e leis morais. Contudo, vivia-se numa instituição eclesial, que enaltecia mais a fidelidade ao seu direito canônico do que ao Evangelho.

As últimas décadas do século XX e início do século XXI foram de caminhada para uma recuperação das fontes e uma atualização do nosso carisma. O Concílio Vaticano II foi o instrumento do Espírito, que incentivou uma nova caminhada, que deveria desembocar numa nova cultura ou estilo de vida para toda a Igreja. Ficou hibernando por décadas, em que a política eclesiástica do Vaticano abafou a autonomia dos pastores locais.

Hoje Francisco volta a nos provocar a partir do Evangelho e do Concílio Vaticano II. Vale a pena escutar este profeta que o Espírito nos deu neste novo milênio. É tempo de retomar nossas Constituições e Estatutos de 1982 e voltar a assumi-las pedagogicamente, até que formatem uma nova cultura de consagração religiosa, de convivência fraterna e de missão redentorista.

Padre José Ulysses da Silva, C.Ss.R.
Missionário Redentorista
 

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