Por José Aparecido Cauneto Em Artigos

Espiritualidade mariana no Documento de Aparecida – Parte VI

Maria Principio Espiritualidade - Reynaldo Silva

 

Na quinta parte deste estudo, frisamos que Maria, na condição de primeira discípula, torna-se para todo cristão um modelo, um ícone, um paradigma de toda a espiritualidade cristã. Não segui-la pode significar a perda de nossa própria identidade de filhos de Deus e, por conseguinte, a identidade da própria Igreja.

Há uma preocupação dos bispos reunidos em Aparecida, que reflete a inquietação da Santa Sé, quanto ao modelo eclesiológico a ser infundido à Igreja latino-americana e caribenha a partir das conclusões da V Conferência Geral. A inquietação, saliente-se, tem como causa o profetismo que marcou os documentos de Medellín e Puebla, menos acentuado no documento de Santo Domingo. Enquanto aqueles documentos faz clara e distinta opção preferencial pelos pobres, este último opta pela promoção humana e da cultura cristã, propondo uma acentuada reflexão sobre um novo modo de evangelização.

Não por acaso os bispos elegeram, dentre as sombras presentes na Igreja, «algumas tentativas de voltar a um certo tipo de eclesiologia e espiritualidade contrárias à renovação do Concílio Vaticano II» e «algumas leituras e aplicações reducionistas da renovação conciliar» (DA 100,b).

No Documento de Aparecida há uma clara orientação episcopal para a retomada de alguns temas proféticos, mas sem aquele "sopro libertador" presente nos documentos precedentes e que norteou a Igreja nas últimas décadas do século XX.

Evidentemente que estamos experimentando uma substancial mudança no modelo eclesiológico em nosso continente, e o novo rosto da Igreja traz a marca do episcopado que, de forma significativa, conduziu o processo que culminou na elaboração das conclusões da V Conferência, cuja eclesialidade está definitivamente vinculada à Igreja Particular (Diocese). Como expressamente afirmam os bispos, «a Igreja Católica existe e se manifesta em cada Igreja particular, em comunhão com o Bispo de Roma» (DA 165), sendo «a realização concreta do mistério da Igreja Universal em determinado lugar e tempo» (DA 166). Não se pode, portanto, ser membro da Igreja Universal sem uma comprometida inserção na Igreja Particular.

 

O Documento de Aparecida discorre efusivamente sobre a importância dos leigos e suas atividades evangelizadoras no mundo

Definida a Igreja local como a principal referência de eclesialidade no Documento de Aparecida, o que se pode extrair das conclusões da conferência é o fortalecimento da liderança dos bispos, sendo este o paradigma escolhido para reger a nova eclesiologia e, para superar a contraposição clero versus laicato, o Documento de Aparecida discorre efusivamente sobre a importância dos leigos e suas atividades evangelizadoras no mundo, conferindo-lhes relevante papel eclesiológico e missionário, orientado pela espiritualidade da comunhão.

A perspectiva eclesiológica do documento, a partir das diretrizes traçadas pelo Concílio Vaticano II, é retomada com os acréscimos produzidos pela teologia pós-conciliar a respeito das noções de comunhão e missão, sob a liderança dos bispos.

Como já tivemos oportunidade de refletir, na terceira parte deste estudo, a concepção de comunhão eclesial no Documento de Aparecida está fundamentada na comunhão trinitária, como afirmam os bispos: «A comunhão dos fiéis e das Igrejas locais do Povo de Deus se sustenta na comunhão com a Trindade» (DA 155). Quanto à concepção de missão, o Documento de Aparecida expressa de forma cristalina que a missão da Igreja é «proclamar o Evangelho, que é o próprio Cristo» (DA 30).

Os bispos admitem, porém, que para bem cumprir a sua missão a Igreja precisa de uma profunda e constante renovação em suas estruturas, devendo ser abandonadas aquelas «que já não favoreçam a transmissão da fé» (DA 365).

 

Quando se fala em conversão de estruturas, penso sempre no modelo.

Quando se fala em conversão de estruturas, penso sempre no modelo.

Se voltarmos nossos olhos para a Mãe, veremos nEla o protótipo ideal de Igreja: acolhedora, solícita (visita a Isabel), profética (Magnificat), modelo de liderança (Bodas), atenta às necessidades de sua gente...

Nossa Senhora é bem mais que um ícone de devoção, e deveríamos voltar a Ela nossos olhos para entendermos o que Jesus quer de nós. Nossa conversão, que deve nortear a conversão das estruturas ultrapassadas a que aludem os bispos, passa por um olhar mais atento para Maria, sendo este «o melhor remédio para uma Igreja meramente funcional ou burocrática» (DA 268).

Creio ser este o tempo da Mãe de Deus. Não é por acaso que a Quinta Conferência foi realizada em Aparecida, um dos maiores santuários marianos do mundo.

Que nossos bispos, «servidores do Evangelho» (DA 186) empenhados em «apresentar ao mundo o rosto de uma Igreja na qual todos se sintam acolhidos como em sua própria casa» (DA 188), aprendam de Maria a verdadeira pedagogia da evangelização, fazendo tudo o que Jesus diz (Jo 2,5).

E que nós, batizados, saibamos reconhecer a Presença do Senhor em nossos pastores, para que junto com eles saiamos «para comunicar a todos a vida verdadeira, a felicidade e a esperança que nos tem sido dada a experimentar e a nos alegrar» (DA 549).

Ad Jesum per Mariam!

 

José Aparecido Cauneto

Membro fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí

e Membro da Academia Marial de Aparecida

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