Por Pe. Zezinho, SCJ Em Catequese Atualizada em 15 MAI 2020 - 16H12

Maria de Trezentos Nomes

Há quem diga que são oitocentos nomes. Há quem diga que passam de mil. O que eu sei é que falar de Maria com devoção é uma coisa; falar dela com devoção e com conhecimento de teologia, de história da Igreja, de psicologia, de sociologia e de pedagogia espera-se muito mais.

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A figura da
mãe do Cristo é muito rica de simbolismo e de pedagogia para ficarmos apenas na parte devocional. Além de louvar Maria, espera-se do cristão que conheça a historia dela antes, durante e depois de Jesus.

Quando alguém lista 300 nomes para Maria, deve começar admitindo que são muito mais os títulos atribuídos a ela em cada imagem, aldeia, cidade, rua, monumento ou ermida. Os cristãos, especialmente os católicos e os ortodoxos, tomaram-se de tão grande amor pela mãe de Jesus que ao lado da adoração que votam ao Filho dela, veneram também a mãe.

Deve ser censurado, entretanto, o católico que exagera na sua veneração por Maria, a ponto de não saber a diferença entre venerar e adorar a mãe de Jesus. Nem ela, nem Jesus concordam com isso. Nós apenas a veneramos; prestamos tributo de gratidão e de louvor obsequioso àquela que nos deu Jesus. Mas sabemos muito bem que ela não foi deusa e nunca será. Só existe um Deus Uno e Trino. Esta é a nossa fé cristã.

Mas erra gravemente o cristão que, no afã de exaltar o filho, diminui a mãe. Não fazemos isso com as mães da terra e certamente não devemos fazê-lo com a mãe do céu, onde Maria está com o Filho. Não deixa de ser estranho que ainda haja pregadores que afirmam que Maria ainda não está no céu, e que está dormindo o repouso dos que esperam o último dia.

Se Jesus garantiu que no mesmo dia da morte dele, ele abriria o paraíso para o bom ladrão; e se garantiu que viria buscar e levar seus discípulos que morressem na sua graça, fica estranho afirmar que ele não conseguiu levar sua própria mãe para o céu.

Na cabeça de alguns pregadores que ouço na televisão e no rádio, ninguém está no céu, e nem mesmo a mãe do Cristo chegou lá. O conceito de salvação, de misericórdia e de céu não é o mesmo que o nosso. Para nós, Jesus salva e leva para o seu céu, para onde ele foi depois da ressurreição e ascensão, e não vai fazer esperar milhares de anos até que aconteça o juízo final. Nosso conceito de julgamento e juízo é diferente do deles.

Por isso é que damos adjetivos e substantivos cheios de carinho à mulher que teve Jesus no ventre. Chamamos Maria de Nossa Senhora, Senhora, Mãe e acrescentamos um título para lembrar onde começou alguma devoção, porque começou e qual foi a história ligada à imagem ou pintura que a relembra.

Na minha adolescência, aprendi que tratava-se sempre da mesma mãe. Aparecida, de Fátima, de Lurdes, do Rosário, da Penha, de Guadalupe, do Rosário, da Boa Morte, da Assunção, Auxiliadora... explicaram-me o sentido dos nomes e das devoções, mas aos treze anos eu sabia muito bem que era a mesma pessoa com títulos diferentes.

E eu explicava isso aos colegas de outra religião. Tinha sido coroinha e já no seminário eu tinha a obrigação de falar dela como quem sabia de quem falava. Eu gostava de livros que explicavam tudo sobre o filho e sobre a mãe dele. Eu queria ser padre e isso fazia parte da minha formação para o sacerdócio. Aos catorze anos, Padre Tarcísio, um padre magrinho e muito devoto de Maria, alertava que não deveríamos ficar mais tempo no altar a ela dedicado. Deveríamos, sim, orar mais tempo diante do altar de Jesus que tinha o sacrário. Para Maria não havia um sacrário. Ela não era deusa e quem nos salvou foi ele. Mas ela estava ao lado dele, passo a passo. Aquilo me marcou profundamente.

Hoje, quando vejo as igrejas que desrespeitam Maria e alguns católicos que exageram na sua devoção por ela, penso na importância da catequese mariana. Maria foi a primeira a não aceitar louvor excessivo ao proclamar-se a serva do Senhor. Mas foi ela também, segundo Lucas o diz, cantou o canto de Ana, mãe de Samuel. E foi também ela quem disse que, sempre segundo o evangelista, que ela seria louvada por causa do seu filho.

É como se dissesse : -Sou quem sou por causa do filho que gerei, e serei quem serei por causa do meu filho. Façam o que ele mandar. Sigam os passos dele e não os meus.

Imaginemos Maria dentro desta perspectiva. Onde o filho for lembrado, ela será lembrada. Onde ela for lembrada, o filho será lembrado. Ele adorado, e ela venerada, porque ele é Deus e ela não é deusa. Mas entre os humanos e as humanas, depois de Jesus , nunca houve ninguém mais ligada a ele...

Fique claro para todos os que amam Maria que ela sabia o seu lugar. João Batista sabia. Os apóstolos aprenderam a saber. E Jesus deixou claro que todos eram chamados a fazer unidade com ele. Maior unidade com Jesus do que o ventre e o coração de Maria não houve. De Jesus, Maria entende. De Maria, Jesus entendeu. O dialogo dos dois era claro e maduro. Nem ele deixou e ser filho e nem ela deixou de ser mãe. E a nós compete aprender que nem Jesus nos deixará de nos chamar e nem nós devemos de deixar de chamá-lo.

São mais de trezentos nomes. Talvez mais de mil dedicados a Maria no mundo inteiro. E tudo decorre no nosso amor pelo seu Filho É impensável que algum cristão ame Maria mais do que ame Jesus. Mas também é impensável que um cristão, não importa de qual igreja, diminua o seu respeito por Maria por causa do seu suposto amor incondicional por Jesus. Um amor não exclui o outro. Amamos Jesus e por causa disso amamos Maria e amamos Maria porque amamos Jesus.

Há quem não entenda isso. Isto quer dizer que precisamos aprofundar e divulgar cada dia mais esta catequese. “Perto de Maria, perto de Jesus. Perto de Jesus, perto de Maria. Até porque os dois nunca se afastaram um do outro!“  Minha fé me diz que Jesus é Deus. Minha fé me diz que Maria não é deusa, mas é a mãe de Filho que se encarnou no seu ventre. Para quem acha difícil crer Jesus veio do céu, será ainda mais difícil crer que Maria foi mãe dele. Vai aceitar, no máximo que ela foi mãe de um profeta judeu, mas de Deus ela não foi. Já ouvi este argumento e não vejo porque discutir isso. Eu tenho fé e a pessoa que discordou de mim não crê em Deus como eu creio.

Maria de todos os nomes, de todos os títulos, de todas as invocações, merece louvores por causa do nome de Jesus que foi seu filho. Alguém tão grande como Jesus que se fez pequeno e viveu entre nós, teve uma mãe tão pequena quanto ele, e por isso foi grande. Intitulou-se “a serva do Senhor”. E o filho dela se intitulou-se “filho que veio em nome do Pai”. Não entendemos a Santíssima Trindade e não também nunca entenderemos o papel de Maria. Ela mesma quis entender, cada dia mais o seu lugar na história do Cristo. Diz Lucas que ela guardava tudo no seu coração, isto é, tentava entender o que acontecera com ela e com o seu filho.

Se tiver condições, nunca me negarei a falar de Maria, porque sei que poderei falar de Jesus. Também, sempre que posso, incluo Maria nas minhas pregações sobre Jesus. O divino que se encarnou na humana ajuda-me a entender o papel das mulheres num mundo que nunca compreendeu a mística do ventre e da vida.

Louvemos Maria e, para os desinformados, tenhamos o cuidado de deixar claro que não a adoramos. Mas tenhamos, também, a coragem de dizer que nunca a esqueceremos. Perto de Jesus, perto de Maria. Junto de Maria, junto de Jesus. Mas sou um católico que consegue falar com Jesus e de Jesus, sem ter que falar de Maria o tempo todo. Não tenho que acrescentar uma Ave Maria só porque acabei de recitar um Pai Nosso ou um Gloria ao Pai. Maria não precisa disso. Não tenho que encerrar uma missa com um canto a Maria. Posso fazer e o faço, mas não é uma imposição da liturgia da Igreja. Para este católicos que obrigatoriamente incluem Maria em tudo, lembro que o centro de nossa fé é o Verbo encarnado e não a mãe do Verbo encarnado.

Mas exatamente porque ela jamais quis ocupar o primeiro plano, a mão dela está sempre apontando para o Filho. Não imagino que ela fique triste porque eu fui a um templo e falei com Jesus e não falei com ela. Isto não quer dizer que a esqueci. Na liturgia da Igreja isto é muito claro. Há dias em que não se fala de Maria, mas, todos os dias, fala-se da Santíssima Trindade. Aprendamos com ela. Primeiro o Filho, depois a serva que foi mãe dele. Se Jesus veio para servir, a mãe dele não poderia fazer diferente. Por isso oremos para entender nosso papel, o papel de Maria e a missão do Cristo entre os humanos.

Ele veio para nos mostrar o Pai e para nos levar ao céu. Maria estava com ele, nem sempre ao lado, às vezes atrás, às vezes depois dele, ao lado dele no martírio, debaixo dele na cruz, sobre ele ao tomá-lo colo coberto de sangue, e à espera dele porque ele disse que ressuscitaria. E agora está ao lado dele no céu.

É nisso que acreditamos. É isso o que anunciamos.

São mais de trezentos nomes. Talvez mais de mil dedicados a Maria no mundo inteiro. E tudo decorre no nosso amor pelo seu Filho.
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