Por Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R. Em Grão de Trigo Atualizada em 25 MAR 2019 - 17H27

Reconheceram Jesus ao partir o pão!

Jesus e os discípulos de Emaús
Lc. 24,13-35
| 3ºDomingo de Páscoa- Ano A                       

Ao ler o episódio de Emaús somos todos peregrinos na mesma estrada. Como aqueles dois discípulos de Jesus, que voltavam para o povoado de Emaús, abatidos e tristes. Não tinham eles explicações para a sua vida, após os acontecimentos vividos em relação à prisão e morte do Mestre na cruz. Em dado momento, aproximou-se deles outro caminhante, na aparência um desconhecido. Entrou na conversa e partilhou com os dois o interesse sobre o assunto: Jesus de Nazaré, o crucificado! Esperavam que ele fosse o Messias, o libertador do povo judeu humilhado pela dominação estrangeira. E estavam frustrados. Ele fora crucificado. Mas alguns boatos ressoavam entre outros discípulos: Jesus teria sido visto redivivo!

Entrando na conversa, o caminheiro desconhecido falava aos dois sobre as passagens bíblicas dos profetas que anunciavam a dor, a rejeição, o sofrimento do Messias. Tudo era uma questão de interpretação correta do texto bíblico. Ele não poderia ser lido com uma expectativa nacionalista e patriótica. O triunfo do Messias não seria o de um guerreiro vencedor, à testa de um povo apenas. Deus o enviaria não só para libertar Israel. A sua missão seria para todos os povos. E o caminho da dor e da cruz imposto ao Messias pelos maus, se tornaria um caminho de glória e vitória pelo poder de Deus. Assim pensavam os profetas e assim explicou aquele desconhecido aos dois discípulos na estrada de Emaús. Lucas termina seu Evangelho narrando o episódio, não mencionado nos outros três. A intenção do texto é clara: levar a comunidade cristã a reconhecer a presença misteriosa de Jesus na história. No caminhar dos homens em todos os tempos. Como o texto é longo, é bom dividir a leitura para se entender melhor o seu conteúdo catequético. Ler de início: Lucas 24,13-25.

Assimila-se bem o conteúdo catequético dessa passagem notando que o autor Lucas concentrou todas as tradições escritas a respeito de Jesus ressuscitado, no capítulo 24. Num dia só Jesus aparece às mulheres e a Pedro que reconhece sua nova condição a partir do túmulo vazio. No mesmo dia Jesus tornar-se o viandante desconhecido companheiro dos dois discípulos não identificados que moravam em Emaús, uma aldeia perto de Jerusalém. Se os discípulos não tem nome e tem moradia sabida é porque aqui no texto e na intenção de Lucas, eles representam a comunidade cristã. Qualquer uma, desde que empenhada em experimentar na fé a nova condição de Jesus de Nazaré. A sua ressurreição! Os dois discípulos de Emaús só reconheceram que era Jesus quem caminhava com eles, já em casa, durante a refeição. Esse é o quadro de fundo.

Ao chegarem a Aldeia, “Jesus fez de conta que ia mais adiante” (v. 28), Mas, ao convite dos dois aceitou pernoitar com eles já que o dia chegava ao fim. Tais detalhes da narrativa indicam que a comunidade tem que se interessar, tem que procurar, tem que fazer-se “próxima” dos outros. Somente assim poderá reconhecer Jesus e seu mistério!

Foi o que aconteceu. Sentado à mesa da ceia, Jesus abençoou, partiu e repartiu o pão. Gestos pascais próprios da vida e obras do Messias. Foi a chance para os discípulos o reconhecerem. Isto significa: partilhar é a linguagem da comunidade reunida em nome da fé em Cristo. Partilhar é o gesto que resume a presença dos cristãos no meio dos homens e na história. Sem “partir o pão” e sem comungar com o projeto de Cristo na mesa dele, a eucaristia, não é possível reconhecer e testemunhar a sua ressurreição.

 

Foi no momento de “partir o pão” que os dois homens de Emaús reconheceram Jesus ressuscitado e presente com eles.

A continuidade e consequências do episódio na vida da comunidade: ficam dadas em: Lc 24,28-35. O episódio se encerra com a afirmação do testemunho: Jesus de fato ressuscitou! Os profetas o predisseram; ele se fez companheiro no caminho; ele está presente na experiência da comunidade reunida em seu nome! O texto relata que os dois discípulos de Emaús voltarem imediatamente a Jerusalém só para comunicar-se com os 11 apóstolos. Isso significa que é preciso voltar às fontes da Igreja. Lucas ajuda o leitor a entender que os apóstolos são as testemunhas fidedignas das aparições. Representam a Igreja como depositária da Nova Aliança de Jesus para todos os povos. Jerusalém não é vista mais como a cidade-símbolo da antiga aliança. Foi substituída. A comunidade dos onze apóstolos fiéis é a primeira de todas as demais comunidades cristãs do mundo, pois conscientes de sua autoridade confirmaram: de fato Jesus é o Senhor, pois Deus o glorificou!

O pão que é Jesus partilhado por nós na mesa da comunhão é o seu corpo e sangue. Corpo e sangue do Filho de Deus gerado no seio bendito da Virgem Maria, que nele acreditou e o recebeu por primeiro. A “estrada de Emaús” -com seus simbolismos- foi percorrida antes na vida de Maria ao lado do Filho: em Nazaré, na Galiléia, depois em Jerusalém terminando no Calvário. Por isso, ela esteve junto com os membros da primeira comunidade apostólica animando-os na oração e no testemunho (Atos 1,14). E hoje persevera conosco nesse caminho da fé.

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