A Theotókos de Vladimir na obra de Marko Ivan Rupnik
Este artigo tem como objetivo apresentar o ícone da Theotókos de Vladimir, expor sua história e teologia, e demonstrar sua contemporaneidade na obra do esloveno Marko Ivan Rupnik (1954).
Considerado o maior artista sacro da atualidade, Rupnik busca ressaltar a condição divina da humanidade, dimensão esquecida pelos cristãos modernos em sua visão, baseada nos Santos Padres e nos pensadores russos do final do século XIX e do século XX, tais como Vladimir Solov’ëv, Pavel Florenskij, Nicolas Berdiaev, Paul Evdokimov.
Leia MaisConheça o artista responsável pelo revestimento das fachadas do SantuárioConvidado a realizar uma obra no Centro de Oncologia do Hospital Gemelli, em Roma, para um corredor próximo da sala de radioterapia, o padre Rupnik inspirou-se no ícone da Theotókos de Vladimir para realizar um grande mosaico. Segundo o padre, ao ver o lugar e imaginar como estariam se sentido os pacientes que ali se encontrassem, seu primeiro pensamento foi para essa imagem.
Sobre a Theotókos de Vladimir

Theotókos de Vladimir
A Virgem do padre Rupnik
Na representação da Virgem por Rupnik, seus olhos e os olhos do Filho se encontram, não diretamente, olhar com olhar, mas na distância, no mistério de Deus. Aqui procuram a resposta para tantas dores do mundo. O sofrimento visto na perspectiva de Deus se identifica com a beatitude do amor.

Theotókos de Rupnik
A Virgem tem um ar de tristeza porque vislumbra o destino de cada homem, isto é, sua paixão e morte. Mas, há algo interessante aqui: assim como Cristo é Filho de Deus, Maria lhe deu a carne, a fim de que Deus pudesse se tornar Homem; com essa abertura, Deus pôde se tornar conteúdo da sua humanidade.
O corpo do homem é uma árvore que está morrendo, tanto é que sendo jovem é flexível e frágil e quando endurece está próximo à morte. Assim é a árvore, assim é o homem. O que mudou? O corpo agora não se assemelha mais a uma árvore, mas a uma semente, essa é a diferença, eis a diferença, a semente morre, mas germina. O corpo do homem não é mais destinado à morte, mas a germinar. Assim é a passagem, tudo o que é semente, morre e germina. O corpo do homem não é mais destinado à morte, mas a germinar. Assim é a passagem, tudo o que é semente, morre e germina. Nossa Senhora está triste porque contempla o Filho em todo o seu destino, mas é o Filho quem a consola. Observem os pés da criança. Normalmente, na iconografia, a Madona é apresentada como a escada por onde Cristo sai por suas mãos para o mundo.
No mosaico, o Filho faz uma escalada para sussurrar alguma coisa que sua Mãe jamais ouvira antes: que sua carne não já germina, não apodrecerá na terra, nem a da Sua Mãe, porque na morte a pessoa sobe e não desce. O que o Filho olha? No primeiro esboço, Padre Rupnik desenhou o Filho olhando para a Mãe, depois percebeu que se enganara, o Filho olha para o Pai. Pois sai através da Mãe para o Pai.
Podemos germinar porque temos a vida que pode fazer de si um dom. No último minuto da consciência humana, no nosso espírito, cada um tem a possibilidade de fazer de si um dom, uma oferta no Filho que é a única oferta que agrada a Deus. Pode-se imaginar o quanto isso é profundo. Quando se está bem, é difícil entender, porém, para quem está ferido e percebe que se caminha para um declínio, isso importa, porque não existe nenhuma situação humana em que se obrigue a morrer. Cada situação pode tornar o morrer como dom para alguém. E isso muda tudo, e por isso Ele enxuga aquela lágrima: não haverá mais lágrimas.
Se a vida que recebemos é a vida do Filho, que possamos nos tornar dom, possamos viver como oferta, como uma semente que germina, então fica evidente que é Deus que nos consola e não nós que consolamos Deus. Nunca encontramos no Oriente cristão uma Theotókos que consola o Filho, isso nasceu no Ocidente, no Barroco; não consolamos Deus, é Ele quem toma nossa situação para si.
Cristo disse para rezar sem cessar, mas muitos rezam e não acontece nada. Em grego se entende melhor essa passagem, enchein (ενκειν) se traduz por “sem se cansar”, para que não se desencoraje, sem perder o ânimo. Rezar sempre porque se não se reza perde-se o ânimo e se desencoraja na situação em que se encontra. Isto é rezar sempre, se não a situação dramática na 8 qual se encontra pode trazer a revolta, o mal. Por que insistir? Porque se não rezo, faço sozinho, e o homem só faz mal todas as coisas. Faz segundo ele e o mundo, então entra no mal do mundo, na lógica do mundo, por isso é importante para nós, cristãos, insistir na oração, sem obstinação, mas manter um colóquio aberto como entre eles, Mãe e Filho, a exemplo de como se aproximam para falar. A oração significa vencer a solidão, compreender a si mesmo com o outro, com Cristo, ver-se junto ao outro. Então, é preciso falar com eles, continuar a falar para não cair no risco de tornar-se mau, duro, deprimido, de abandonar-se às paixões porque desistiu de tudo. O padre Rupnik enfatiza: é o colóquio que me mantém e a companhia que me mantém no bem. Se estou com pessoas boas, posso me tornar bom.
E conclui: há uma enorme diferença entre a nossa oração e a resposta de Deus. Parece que Deus sempre chega atrasado em nossas súplicas. Esse atraso permanente, para os Padres da Igreja é fundamental. Na verdade, é um carinho para nós.
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Wilma Steagall De Tommaso
Doutora em Ciência da Religião , especialista em Claudio Pastro e Marko Rupnik
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