Localização: Porto de Estrela, Brasil
Existem cidades que surgem, passam por um período de grande desenvolvimento e depois desaparecem, deixando apenas algumas ruínas para recordar o seu passado esplendor. Isso aconteceu com o Porto de Estrela, situado junto ao rio Inhomirim, no fundo da Baía de Guanabara (RJ).
Foi, durante um século e meio, a passagem obrigatória para os viajantes que seguiam do Rio de Janeiro para Minas e Goiás, assim como para aqueles que se dirigiam destas províncias para a capital do Vice-Reinado e, depois, do Império.
Alguns atribuem ao local uma denominação poética, dizendo que se originou do fato do planeta Vênus aparecer atrás da serra, grande e muito luminoso, semelhante à Estrela de Belém. Outros afirmam, no entanto, que o nome deriva da capela de Nossa Senhora da Estrela, construída em princípios do século XVIII, no alto do outeiro que domina a antiga povoação. Esta designação estendeu-se, então, à vila fundada ao seu redor, ao rio e à serra.
O francês Auguste de Saint-Hilaire e o alemão João Maurício Rugendas, que estiveram no Brasil no século XIX, afirmavam que a vila da Estrela era o lugar do país onde encontraram mais vida e maior animação. Rugendas assim descreveu o caminho: - “passa diante de belas plantações, atrás das quais se percebem ao longe as pontas agudas da Serra dos Órgãos, erguendo-se por cima da serra da Estrela, cujas escarpas constituem o espantalho dos tropeiros e o tormento das mulas”.
A devoção à Nossa Senhora da Estrela
Os milhares de viajantes que transitaram pelo local, passaram perto da capelinha de Nossa Senhora da Estrela, que do alto do morro abençoava a região. Ela fora ali erguida por Simão Botelho, que também doara terras para, com seu rendimento, prover a manutenção do culto à Santa.
O título da Senhora da Estrela nos veio de Portugal e está ligado a uma lenda secular. Conta que D. Rodrigo, o último rei visigodo da Espanha, após ter sido derrotado em 711 pelos sarracenos, mandou esconder uma estátua de Maria, a fim de evitar a sua profanação pelos mouros que dominaram a Península Ibérica.
Quando, alguns séculos mais tarde, a vila de Marvão se libertou do poder muçulmano, certa noite, nas proximidades da povoação, um pastorzinho teve a visão da Virgem Santíssima entre coros de resplandecentes luzes. Não compreendendo o prodígio, achou que seria alguma estrela enorme. Caminhando em direção à estranha claridade, alcançou o penhasco e descobriu entre as brenhas uma imagem de Maria, cercada de resplendores.
Não ousou pegá-la e foi chamar os moradores da vila. Todos se ajoelharam, dando graças. Então, levaram a Santa em procissão e a colocaram na igreja da paróquia. No dia seguinte, a escultura desapareceu do templo e foi encontrada novamente na Lapa. Assim aconteceu por duas ou três vezes. Vendo neste fato a vontade da Mãe de Deus, construíram no local um santuário, que atraiu a devoção dos moradores do lugar e das cidades vizinhas.
Frei Agostinho de Santa Maria dizia que, antigamente, havia uma ermida dedicada à Virgem da Estrela na praia do Restelo. Aliás, segundo ele, a palavra Restelo é uma corruptela de Estrela. Referia-se ainda a uma imagem de Nossa Senhora da Estrela, existente no convento dos Jerônimos, que foi presenteada ao rei D. Manuel I pelo papa Júlio II, a qual apresentava sobre a cabeça uma coroa de prata dourada, cercada de estrelas.
A invocação da Senhora da Estrela, transportada para o Brasil e localizada no porto fluminense, não desapareceu com as ruínas da velha capela, pois a antiga imagem encontra-se atualmente na matriz de Inhomirim, onde recebe o culto de muitos devotos. No Estado de São Paulo, existe ainda, na cidade de Itapetininga, uma paróquia dedicada à Nossa Senhora da Estrela.
Iconografia
A Virgem Maria está de pé, com o Menino Jesus sentado em seu braço esquerdo, e segura com a mão direita um bastão com uma estrela na ponta. Maria veste uma túnica e um longo véu, que lhe cobre a cabeça e cai até os pés. O menino está nu e nenhum dos dois usa coroa. Na imagem portuguesa de Marvão, ela segura somente a estrela, sem bastão.
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