O batismo de Jesus



Thiago Leon

Cenas presentes na colunata da Fachada Sul

Por Felipe Koller

A encarnação é um evento em movimento: tendo assumido nossa carne, a Palavra do Pai mergulha cada vez mais nas condições da humanidade, sem nunca retroceder nem traçar um limite em que possa se sentir protegida. Passo após passo, ela se abaixa. Cristo Jesus, “existindo em forma divina, não considerou um privilégio ser igual a Deus, mas esvaziou-se, assumindo a forma de servo e tornando-se semelhante ao ser humano” (Fl 2,6-7).

O Antigo Testamento já falava desse caminho de descida por meio do qual se realiza a própria identidade na comunhão com Deus. Naamã, o chefe do exército sírio, sofrendo de lepra, recebe uma sugestão insólita para sua cura. Uma menina de Israel, serva da sua esposa, recomenda que ele encontre o profeta Eliseu, que por sua vez lhe diz que se banhe no Jordão. É um gesto simples, mas exige muito de Naamã: ele, que já está confiando na indicação de uma simples serva e no conselho de um estrangeiro, se indigna: “Acaso os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, não são melhores do que todas as águas de Israel?” (2Rs 5,12). São, de novo, os servos que insistem que ouça Eliseu — e, mergulhando no rio, ele fica curado.

É o mesmo gesto que marca o início do ministério de Jesus. “Todo o povo se fazia batizar” (Lc 3,21), e Jesus, sentindo-se entrelaçado aos demais, faz igual: pede que João o batize. Descendo às águas, acontece a revelação da sua identidade, proclamada dos céus pelo Pai: “Tu és o meu filho amado” (Lc 3,22). Filho amado — a partir daí, toda a vida de Jesus será devotada a revelar no ser humano essa identidade filial, revelando o rosto de Deus como o de um pai que nos acolhe, nos cobre de beijos, nos reveste de dignidade e nos prepara um lugar à mesa (Lc 15,20-24).

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