Igreja

Dízimo: 'Dar-se a Deus e aos irmãos'

Escrito por Polyana Gonzaga

21 NOV 2014 - 14H26 (Atualizada em 04 JUL 2022 - 09H59)

O dízimo é uma forma concreta de manifestar a fé em Deus e viver a esperança em seu Reino de vida e justiça.

Para trazer mais detalhes deste compromisso de cada cristão, reveja a entrevista em que o A12 conversou com o saudoso Missionário Redentorista padre Luiz Carlos de Oliveira, em 2014, a respeito da riqueza de partilhar o dízimo.

A12
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Padre Luiz Carlos de Oliveira faleceu em 2022


A12: O que é o Dízimo?

Padre Luiz Carlos de Oliveira: Dízimo refere-se ao 10%, a décima parte do que a pessoa recebe. Entre os cinco mandamentos da Igreja encontramos este: “Pagar o dízimo segundo o costume”.

Não impõe que seja como o Antigo Testamento. As leis do Antigo Testamento são aplicadas no Novo Testamento de acordo com o Evangelho. O modo de compreender o dízimo deve passar pelo que diz a Palavra de Deus no Novo Testamento.

Nos Atos dos Apóstolos conhecemos a partilha dos bens, e não o dízimo: “Todos os fiéis, unidos, tinham tudo em comum; vendiam as propriedades e os seus bens e dividiam o preço entre todos, segundo as necessidades de cada um” (At 2,44; 4,32-34).

Jesus não negou o dízimo que era lei para o povo judeu, mas diz: “Ai de vós escribas e fariseus hipócritas que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Importava praticar estas coisas, mas sem omitir aquelas. Condutores de cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo” (Mt 23,23-24).

Paulo escreve aos Coríntios: “Irmãos, nós vos damos a conhecer a graça que Deus concedeu às Igrejas da Macedônia. Em meio às múltiplas tribulações que as puseram à prova, a sua copiosa alegria e a sua pobreza extrema transbordaram em tesouros de liberalidade. Dou testemunho de que, segundo os seus meios e para além dos meios, com toda a espontaneidade, e com viva insistência nos rogaram a graça de tomar parte nesse serviço em proveitos dos santos. Ultrapassando mesmo nossas esperanças, deram-se primeiramente ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus” (2 Cor 8,1-5).

Dízimo, no Novo Testamento, é partilha: dar-se a Deus e aos irmãos. Podemos dizer que o verdadeiro nome do dízimo no Novo Testamento é partilha: dar-se a Deus e aos irmãos. Para nós o dízimo não só é um 10%, pode ser até tudo. Primeiro é dar-se a Deus. Quem se deu a Deus, o resto não tem mais conta.

A12: O que ensina a Igreja?

Padre Luiz Carlos de Oliveira: Não encontramos a palavra dízimo nem no Catecismo da Igreja Católica (síntese da doutrina), nem no Código de Direito Canônico (as leis que orientam a vida da Igreja).

É interessante notar o que o Código, no cânon 222, diz: “Os fiéis têm obrigação de socorrer às necessidades da Igreja, a fim de que ela possa dispor do que é necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade e para o honesto sustento dos ministros”. No cânon 1262, diz: “Os fiéis concorram para as necessidades da Igreja com as contribuições que lhes forem solicitadas e segundo as normas fixadas pela Conferência dos Bispos”.

Vemos que os verdadeiros responsáveis pela manutenção da Igreja são os fiéis, e não o padre, o bispo. Estes também, por viverem para a comunidade cristã, devem ser mantidos pela comunidade da Igreja. Trata-se de responsabilidade, não de colaboração, esmola.

Reprodução
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Normalmente os fiéis usufruem da Igreja e não se sentem responsáveis. É da responsabilidade dos fiéis a manutenção do culto, tudo que se refere à celebração, a sustentação das obras de apostolado, as obras sociais (a caridade) e o sustento dos ministros ordenados.

Como nem sempre as comunidades assumiram estas responsabilidades, surgiu a necessidade de colocar a taxas dos sacramentos. Quando se começou a implantar o dízimo, foi dito que não se deveriam cobrar taxasNão funcionou. Notamos que está cada vez mais comum no Brasil a implantação do dízimo, que na realidade é uma contribuição mensal para a paróquia, determinada voluntariamente pelos próprios fiéis.

Nem deveria ser chamado dízimo, pois não o é de fato. A Conferência Nacional dos Bispos, no Documento n° 100 da CNBB, insiste na administração paroquial também das ofertas e campanhas, no sentido de partilha como sinal da comunhão de bens.

Os bispos insistem que “a implantação do dízimo garanta o seu sentido comunitário: ‘Deus ama a quem dá com alegria’ (2Cor 9,7). É a alegria de doar com liberdade e consciência de ser um sinal de partilha. Evite-se, entretanto, o sentido de taxa ou mensalidade e a ideia de retribuição, segundo a qual é preciso doar para receber a bênção” (n° 287-288).

A12: Que passagens da Bíblia nos falam do dízimo?

Padre Luiz Carlos de Oliveira: O livro do Levítico: “Todos os dízimos da terra, tanto dos produtos da terra como dos frutos das árvores pertencem a Javé. É coisa consagrada a Javé” (Lv 27,30).

O dízimo tinha a finalidade de sustentar os levitas que não tinham território. Como lemos também em Deuteronômio (Dt 26,5-10). Era um gesto de reconhecer que tudo vinha de Deus e recebemos a libertação.

A12: Quanto e com qual frequência devemos ofertar o dízimo?

Padre Luiz Carlos de Oliveira: No entendimento da Igreja, depende da possibilidade de cada um. Por outro lado, se nota que depois que a pessoa já criou a consciência, saberá corresponder sempre de acordo com sua consciência. Muito menos devemos excluir da comunidade quem não paga o dízimo.

Há muitos que contribuem diretamente com outras necessidades dos pobres e têm isso como dízimo. Podemos dizer que receber dízimo e não pensar nos pobres em primeiro lugar é roubar de Deus.

A12: Por que, para algumas pessoas, é tão difícil falar sobre o dízimo?

Padre Luiz Carlos de Oliveira: Certamente as pessoas têm dificuldade de falar de dízimo porque não têm noção de sua responsabilidade. Ou caem no ‘biblismo’ de alguns ou não se sentem envolvidos. São esses justamente que muito exigem e pouco fazem. Dízimo não pode se tornar uma exploração do pobre. O pobre tem o direito de usufruir do dízimo da comunidade, pois ela é responsável pelos pobres.

Os bens da Igreja pertencem aos pobres. A Igreja é sua administradora. S. Afonso dizia que o bispo (no caso ele) não era para viver no luxo, pois os bens da Igreja eram dos pobres e ele o administrador. Sabemos bem que a Igreja Católica é a maior instituição de caridade social no mundo, como nos dizem os relatórios internacionais.

A Igreja não ajuda somente seus pobres, mas os de outras igrejas também, pois não tem essa mentalidade. O dízimo ou partilha que seja, não é para enriquecer a Igreja com belos edifícios, carros, meios, mas para torná-la rica em generosidade. Dízimo não empobrece ninguém, pois sabemos por experiência que os maiores colaboradores das necessidades da Igreja são justamente os pobres. Lembramos a história que Jesus usa da oferta da viúva.

Ela deu tudo o que tinha para viver, isto é, seu sustento (Mc 12,44). Vivemos em um mundo rico em bem estar. É preciso aproveitar bem as coisa, partilhar o supérfluo e não desperdiçar. Deus, mais que de nossos bens, quer a nós.

Não se trata de dar resto, mas de partilhar. Com o dízimo não compramos Deus. É Ele que compra nosso coração. Não podemos pensar: "Dei a Deus e agora Ele tem que me pagar". Muitos já escreveram sobre o dízimo, muitos organizaram bem suas paróquias. É bom saber o que pensam e como o fazem. Deus, mais que de nossos bens, quer a nós.

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