Por Pe. Antônio Queiroz, C.Ss.R (in memoriam) Em Histórias de Vida

Pe. Ezequiel Ramin

Pe. Ezequiel Ramin era italiano, da congregação dos Combonianos. Nasceu em 1956. Era pároco da cidade de Cacoal, Rondônia, município enorme, no qual havia vinte aldeias de índios, além de dez mil famílias de agricultores espalhadas pelo mato. 

Pe. Ezequiel, com todo o entusiasmo de jovem sacerdote, começou a visitar as famílias, celebrar Missas, fazer reuniões e organizar Comunidades Eclesiais de Base. 

Mas logo se deparou com uma triste situação: As matas estavam sendo invadidas e devastadas por fortes grupos econômicos que, com suas poderosas motosserras, derrubavam árvores seculares e levavam a madeira, geralmente para fora do Brasil. 

O povo estava também assustado com as cercas de arame farpado que surgiam em todo canto, com placas trazendo nomes de pessoas desconhecidas que se diziam proprietárias daquelas terras, onde as famílias viviam, desde seus avós. 

O pior eram os pistoleiros e jagunços que começaram a aparecer, com suas armas na cintura. Inclusive uma área grande e bonita, que tinha uma Comunidade Católica atuante, de uma hora para outra foi cercada com cerca de arame farpado, e rodeada de placas com o nome: Fazenda Catuva. 

Nas Missas mensais, Pe. Ezequiel percebia que o povo estava assustado e triste, sem saber a quem recorrer. Os pistoleiros visitavam as casas e diziam abertamente: “Caiam fora daqui, porque agora tudo isso é de fulano de tal. Quem não sair vai levar chumbo”. 

“Mas os nossos avós já moravam aqui!” diziam os moradores. 

- “Não interessa. A ordem que temos é limpar a área”. 

O povo tinha medo, porque via nas caras deles que eram assassinos. Muitas famílias deixaram suas propriedades e foram morar na periferia das cidades grandes. 

Pe. Ezequiel aconselhava: “Fiquem aqui por enquanto! Nossa diocese já arrumou um advogado e ele está trabalhando pelos direitos de vocês”. 

Por isso, algumas famílias disseram para os jagunços: “Nós não vamos embora, porque o nosso Pároco nos mandou esperar”. 

Quando o pretenso dono foi informado, encheu-se de ódio contra o Pe. Ezequiel. Então pediu aos pistoleiros que o matassem. 

Algumas pessoas o aconselharam a voltar para a Itália, ou ir para outra região do Brasil, mas ele não quis. 

Numa noite em que ele voltava de uma Missa em uma Comunidade rural, ao frear o jipe para passar em um mata-burro, foi morto a tiros. Era o dia 24/07/1984. Tinha apenas trinta e dois anos de idade e quatro de padre. 

O enterro foi muito bonito e comovente. A hora mais emocionante foi quando todo o povo cantou a música de que ele mais gostava: Pai Nosso dos mártires. O canto diz: 

“Pai nosso, dos pobres e marginalizados, teu nome é santificado quando a justiça é nossa medida. Teu Reino é de liberdade, de fraternidade, paz e comunhão. Queremos fazer tua vontade, és o verdadeiro Deus libertador. Não vamos seguir as doutrinas corrompidas pelo poder opressor. Pedimos-te o pão da vida, o pão da segurança, o pão das multidões. Perdoa-nos quando por medo, ficamos calados diante da morte. Perdoa e destrói o reino em que a corrupção é a lei mais forte...

Escrito por:
Padre Antônio Queiróz dos Santos (Pe. Antônio Queiroz, C.Ss.R)
Pe. Antônio Queiroz, C.Ss.R (in memoriam)

Missionário redentorista, recolheu ao longo de seu ministério centenas de histórias que falam de forma simples e popular da fé e das realidades do povo de Deus.

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Por Pe. Queiróz, C.Ss.R., em Histórias de Vida

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