Igreja

Carnaval: é possível se divertir sem pecar?

Reflita sobre esta festa e o papel do cristão

João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)

Escrito por João Antônio Johas Leão

23 JAN 2018 - 10H34 (Atualizada em 17 FEV 2023 - 16H58)

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Leia MaisComo viver um Carnaval santo?Como a Igreja comemora o carnaval?Uma maneira caricata de pensar, comum para os que estão fora da Igreja, é a que enxerga no católico uma pessoa amargurada com a vida, reprimida por medo ou por um sentido do dever, que obedece cegamente a normas e preceitos vazios.

Nesse contexto, parece bem difícil falar que uma pessoa assim pode realmente se divertir, ainda mais quando o conceito de divertimento nos dias de hoje parece ser dar "rédea solta" para os apetites e desejos. Chegando a época do Carnaval, a coisa fica ainda mais evidente.

Pascal, pensador do século XVII, refletiu sobre o divertimento e como ele se mostra como um mecanismo para escapar de um contato mais profundo consigo mesmo. Ele diz, em sua obra chamada Pensamentos:

Nada é mais insuportável para o homem do que estar em pleno repouso, sem paixões, sem afazeres, sem divertimento, sem aplicação”.

O homem aparece como um ser inquieto, que está sempre em busca de algo. Notemos que a palavra utilizada é “insuportável”, ou seja, é impossível, segundo Pascal, que o homem não esteja em busca de algo.

Se estamos sempre buscando algo e não sabemos bem o que procuramos, é porque não sabemos bem quem somos. E Pascal também se atém a esse ponto. Ele diz que, mesmo se nos permitíssemos entrar em nosso interior e descobrir quem realmente somos, cairíamos novamente no tédio e na fuga para o divertimento.

Isso acontece pois, quando nos conhecemos, conhecemos também a nossa condição de pecadores, a nossa miséria, as nossas falhas. E isso é algo que não é fácil de assimilar. Por isso, ao ver tudo o que somos, escaparíamos de novo ao divertimento.

Shutterstock/ Antonio Salaverry
Shutterstock/ Antonio Salaverry


No Carnaval não é difícil identificar nos outros e, com um pouco de honestidade, em si mesmos, as motivações do divertimento. É uma fuga dos problemas do dia a dia? É uma fuga da própria identidade? É uma fuga das incertezas de nossas decisões? É a fuga de um relacionamento que não está dando certo? A fuga de um diálogo que não se está tendo?

Podem ser muitas as coisas que nos atraem para o divertimento e cada um precisa fazer um exame do momento em que vive. Para Pascal, o divertimento nos atrapalha a fazer essas perguntas realmente importantes para o homem.

Seria, então, todo divertimento um desvio? Como ser um católico alegre, como nos pede tanto o Papa Francisco?

Aqui temos que deixar um pouco Pascal de lado e afirmar que, junto à nossa grande miséria, a nossa condição de pecadores, ao descobrir a nossa identidade, descobrimos que Deus nos ama a tal ponto de nos dar o seu Filho único em expiação pelos nossos pecados.

Ou seja, somos realmente pecadores, mas se estamos em comunhão com Deus, vivendo uma vida de Graça, somos pecadores perdoados, e esse é um motivo muito grande de alegria. Na verdade, é o maior motivo que podemos pensar para estarmos alegres. E é isso que festejamos, que celebramos, que nos dá a alegria de viver.

É claro que um católico pode se divertir sem pecar, sempre que esteja afirmando a sua identidade de filho amado e reconciliado por Deus. Uma grande dificuldade de hoje é que, até mesmo nós, católicos, queremos nos alegrar com outras coisas, nos assemelhar demais ao mundo a ponto de nos mesclar com o mundano.

É preciso sempre lembrar que estamos no mundo, mas não somos do mundo.

“Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!” (Fl 4,4) É o convite de São Paulo para os Filipenses e para nós também. As duas partes da frase são importantes, "alegrai-vos" e "no Senhor", porque fora d'Ele não há verdadeira alegria, só euforia passageira.

Escrito por
João Antonio Johas Leão (Arquivo pessoal)
João Antônio Johas Leão

Licenciado em filosofia, mestre em direito e pedagogo em formação. Pós-graduado em antropologia cristã e entusiasta de pensar em que significa ser cristão hoje.

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