Por Luciana Gianesini Em Igreja Atualizada em 08 JAN 2020 - 11H27

Tráfico de pessoas e prostituição: por que combater?

Em fevereiro, o Papa Francisco nos convida a rezar nessa intenção

No dia de Santa Bakhita, padroeira dos sequestrados e escravizados, queremos nos unir ao Santo Padre em oração pelas vítimas da violência, em especial do tráfico de pessoas e da prostituição forçada.

:: Reze mês a mês com o Papa Francisco por estas 12 intenções

Homem, negro, nordestino, baixa escolaridade: o perfil da escravidão contemporânea brasileira

Como consequência dessas violências, um dado alarmante vem preocupando autoridades e sociedade, ao redor do mundo e também no Brasil. Tem aumentado cada vez mais a ocorrência de trabalhadores em situação análoga à escravidão. Dados divulgados recentemente pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), mostram que, no País, o perfil do trabalhador em situação análoga à escravidão é de homens, nordestinos, negros ou pardos, com apenas uma ou nenhuma admissão no mercado de trabalho formal, com escolaridade abaixo do 5º ano do ensino fundamental, solteiros.

Neste cenário, a informalidade – o não comprometimento com a legislação trabalhista – aparece como porta de entrada para uma vida de condições precárias, submissão e ausência quase total de perspectivas, uma verdadeira afronta ao princípio constitucional da dignidade.

:: Confira a nota da CNBB sobre o trabalho escravo no Brasil

Reconhecida pelo governo somente a partir de 1995, a existência do trabalho escravo no Brasil impulsiona ações que já resgataram mais de 53 mil empregados, número que parece irrisório diante de tantos novos casos dos quais a mídia e a sociedade tomam conhecimento todos os dias. Porém, mais irrisória ainda parece a quantia de R$ 100 milhões pagos em verbas salariais e rescisórias pelos patrões infratores, diante da situação degradante na qual os empregados são encontrados.

Entretanto, uma luz parece querer se acender nesta árdua tarefa de combate ao trabalho escravo, com a divulgação, através do Ministério Público do Trabalho, da ‘lista suja’ do trabalho escravo. O documento apresenta nomes de empregadores que submeteram seus funcionários a essas condições, muitas vezes denunciadas pelo Disque Direitos Humanos (Disque 100).

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:: "É um flagelo e uma ferida aberta da sociedade contemporânea", diz Papa Francisco sobre o tráfico de pessoas


Frentes de combate: Como a Igreja tem atuado em relação ao tráfico humano?

No Vaticano, o Dia de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, anunciado pelo Papa Francisco para o dia de hoje (08), é realizado um evento que contará com a participação de sobreviventes do tráfico e com a intervenção de Pe. Michael Czerny, Subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, além de Pe. Frederic Fornos, Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, e da Irmã Gabriella Bottani, Coordenadora Internacional de Talitha Kum, a União Internacional de Superiores Gerais, que realiza um trabalho que contempla atividades de prevenção, sensibilização, proteção, associação e oração em 77 países, nos 5 continentes.

No ano passado, em audiência, O Papa Francisco mostrou seu respaldo à luta contra as escravidões modernas, como o tráfico de pessoas, a exploração trabalhista ou a exploração sexual, e recomendou à Igreja o compromisso contra este flagelo. “É minha esperança que essas jornadas de reflexão e de intercâmbio tenham evidenciado a interação das problemáticas globais e locais do tráfico de pessoas. A experiência mostra que essas modernas formas de escravidão são bem mais difusas do que se possa imaginar, até mesmo – para nossa vergonha e escândalo – dentro das mais prósperas sociedades”, disse o Pontífice na ocasião.

:: Rede Talitha Kum, sobre o tráfico humano: "Ninguém pode ficar indiferente"

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Crianças: a proteção deve acontecer primeiro dentro de casa

Outra forma de violência recorrente e crescente nos noticiários se refere à prostituição, inclusive de crianças e adolescentes. Recentemente, ficamos consternados e perplexos com o caso de uma mãe, moradora da cidade de Santa Maria da Vitória (BA), que foi presa na tentativa de vender seu próprio filho, uma criança de 12 anos, para exploração sexual no Japão. Na ocasião, a criança foi encontrada sozinha e aos prantos na rodoviária da cidade, antes da chegada do interceptador. Entretanto, este não é um caso isolado. A percepção da população em relação à ocorrência de crimes de estupro, feminicídio e outros correlatos também tem aumentado.

Neste cenário, parecem interferir, direta ou indiretamente, discursos da ala mais conservadora do governo que, sob o pretexto de “salvaguardar a inocência”, têm proposto retirar de pauta nas escolas a temática da educação sexual. Entretanto, em declaração recente, na viagem de volta do Panamá, onde participou da Jornada Mundial da Juventude, o próprio Papa Francisco afirmou ser necessária a educação sexual nas escolas. “Creio que nas escolas é preciso dar educação sexual. Sexo é um dom de Deus, não é um monstro. É o dom de Deus para amar, e se alguém o usa para ganhar dinheiro ou explorar o outro é um problema diferente. Precisamos oferecer uma educação sexual objetiva, como é, sem colonização ideológica”, afirmou ele na ocasião. Também destacou que é importante escolher bem os professores que trabalharão o assunto e que o ideal seria o debate começar em casa, entre as crianças e os pais.


Santa Josefina Bakhita: Evangelho vivo da luta pela dignidade

Diante disso, é triste constatar que as sociedades parecem caminhar na contramão de uma evolução social saudável e dentro dos princípios cristãos. Por isso, como Igreja, devemos sempre pautar nossa vida em exemplos de santos como Josefina Bakhita, ex-escrava sudanesa traficada à Itália e que, mais tarde, tornou-se religiosa.

:: Rede de enfrentamento ao tráfico humano fala sobre avanços e retrocessos no combate ao tráfico de pessoas no Brasil

Canonizada no ano 2000 por São João Paulo II, a partir do reconhecimento de um milagre da cura de uma brasileira, por mais de cinquenta anos Santa Bakhita se dedicou em desempenhar tarefas de cozinheira, responsável do guarda-roupa, bordadeira, sacristã e porteira do convento onde residiu. Era conhecida pela sua generosidade, bondade e pelo seu profundo desejo de tornar Jesus conhecido. Acometida de uma grave doença ao final da vida, Irmã Josefina Bakhita faleceu no dia 8 de fevereiro de 1947, data em que hoje a Igreja celebra sua memória.

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:: Santa Bakhita, a santa da esperança cristã

Santa Josefina Bakhita deixou um belo legado de dedicação aos povos mais sofridos e de entrega à causa da evangelização. Destacamos algumas frases marcantes de sua passagem por este mundo, na esperança que essas palavras sejam também instrumento de transformação de nossas sociedades, na busca pela promoção irrestrita da dignidade humana:

“A melhor coisa para nós não é o que consideramos melhor, 
mas o que o Senhor quer de nós!”

“Se eu encontrasse os traficantes de escravos que me sequestraram 
e até os que me torturaram, eu me ajoelharia e beijaria suas mãos.
Se isso não tivesse acontecido, eu não seria cristã hoje, nem religiosa”.

“Maria me protegeu, mesmo antes de conhecê-la!”

“Quando uma pessoa ama muito a outra, o que ele quer fortemente é estar perto dela:
portanto, por que ter medo de morrer?  A morte nos leva a Deus!”

“Que sejam bons, amem o Senhor, orem por aqueles que não o conhecem.  
Se vocês soubessem que grande graça é conhecer a Deus!”

:: Três ensinamentos de Santa Bakhita para nossas vidas

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