Na liturgia, como na vida, nós nos comunicamos através de sinais e símbolos, o que faz parte do nosso ser corpóreo e humano. A liturgia é feita com “sinais sensíveis”, usados de forma simbólica, e que penetram nossos sentimentos, nossa afetividade, nossa consciência, atingindo nosso ser inteiro…
Pe. Libânio, em seu belo livro “Como saborear a celebração eucarística?”, da Editora Paulus, bem nos diz:
“Como pessoas em comunhão com o divino, com o memorial da Páscoa de Jesus, carecemos da ponte do simbolismo… A liturgia lança ponte entre Deus e nós. Move-nos até Deus e faz que Deus desça até nós.”
Assim, quanto mais aprofundarmos o conhecimento e a vivência do mistério eucarístico, melhor compreenderemos o sentido do símbolo, mais ele nos falará ao coração e nos ajudará a ir do visível ao mistério invisível e maior de Deus, conduzindo-nos para dentro do próprio Jesus Cristo, nossa páscoa, que celebramos na liturgia.
Lembremos alguns dos muitos símbolos usados na liturgia: a assembleia reunida, o espaço celebrativo (o altar, as flores e velas, o ambão…), as vestes, os cantos e instrumentos, as procissões, gestos e ações, a proclamação e meditação da Palavra, o louvor e a súplica, a aspersão com água, o pão e o vinho e toda a Liturgia Eucarística, as palavras e o silêncio sagrado, enfim, o vasto universo simbólico, usado na celebração com equilíbrio e sensibilidade, e que deve nos ajudar a mergulhar no coração de Deus, saborear a suavidade do seu amor, deixar-nos tocar por tão inefável mistério. Deus é essa realidade misteriosa, sempre maior, que nos transcende e ultrapassa, por isso o símbolo nos abre e faz mergulhar no Infinito!
A música e o canto, como partes deste maravilhoso universo simbólico, são de suma importância para que a nossa celebração, sobretudo a Eucaristia, seja frutuosa, pois celebração é vida, festa, alegria, participação de todo um povo, comemorando a salvação que nos foi trazida por Jesus Cristo. Assim, quanto mais o canto for belo e harmonioso, litúrgico e adequado, ajudando a comunidade toda a entrar em comunhão com Deus, mais vivenciada será a celebração, mais frutos dará na vida.
O canto — já o sabemos — é elemento essencial na celebração de um povo em festa, porque ele dá força e apoio às palavras sagradas, ampliando seu sentido; o canto nos fascina e eleva a alma às esferas celestiais, nos introduz no mistério, nos ajuda a rezar e entrar em comunhão com Deus, unifica vozes e corações no mesmo louvor, fazendo a Comunidade.
O som, assim como o silêncio, é sinal e instrumento do mistério. Com muita propriedade, Gino Stefani, em seu livro “Aclamação de todo um povo” (Música Sacra n.º 4 - traduzido do francês pela Editora Vozes, em 1969), nos diz que o som é um “Sacramentum” — contém e manifesta os “eventos mistéricos e interiores”.
Esta é a função da música e do canto na liturgia: ser sacramento, sinal claro e transparente do mistério que celebramos, do gesto e da ação que fazemos, do momento ritual que vivemos. Por isso mesmo, como já se disse, a liturgia não admite um canto qualquer, pois ele deve estar a serviço da Palavra, nos remeter para dentro do mistério celebrado, fazendo-nos entrar em Deus, o que é sua função mistagógica.
Fica um questionamento: Será que o nosso canto litúrgico é claro e transparente, cumprindo sua função de ser suporte à Palavra, de remeter-nos ao mundo luminoso de Deus, não fechado em si mesmo, mas traduzindo o mistério de Cristo, fazendo ponte para o Pai? Não está nosso canto mais preocupado consigo mesmo do que com o Senhor e seu Reino que ele deve anunciar?
Com São João Damasceno, na liturgia bizantina da vigília de Natal, possamos nós dizer, no final de cada celebração: “Hoje Deus veio sobre a terra e o homem subiu ao céu!”
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