OS MISTÉRIOS ETERNOS NUMA SOCIEDADE SECULARIZADA
Por fim, para concluir estas nossas reflexões, vimos que é possível pensar ‘Política e Liturgia’ na vida; pois há uma dimensão política da liturgia. Mas, como isso se dá na prática? A celebração poderia assumir um lugar de engajamento e de crítica?
A liturgia em si não é política, mas os homens concretos que dela participam estão ligados à cidade e ao que nela compete; há um determinado tempo e lugar em que ela acontece. Por isso, à luz do Evangelho, a liturgia pode inspirar na consciência atitudes e aspirações políticas. É na história que o Evangelho é anunciado, convidando a cantar e celebrar a libertação pascal.
O Missal Romano propõe orações para as diversas circunstâncias da realidade (Missa para as Diversas Necessidades). A própria oração da comunidade (preces/oração universal) está imbuída das necessidades atuais da Igreja e do mundo. A própria Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, apresenta a visão de uma Igreja para o mundo. Não estamos errados ao refletir sobre tal temática. Mas, ao mesmo tempo não estamos certos de que os cristãos têm-se conscientizado de suas responsabilidades sócio-políticas.
Não é preciso aludir em tudo à política – é impróprio, ingênuo e ignorante pensar assim. Pois, “uma liturgia sem nenhuma alusão política pode ter uma significação política tão forte que os poderes públicos se creiam obrigados a proibi-la ou são, inversamente, inclinados a servir-se dela” (J. Gelineau). Tematizar a liturgia gera mal-estar, inclina o presidente a fazer do presbitério um palanque
ou do rito uma campanha política. Sendo que, isso não gera conversão e libertação.
O Mistério Eterno celebrado não produz na sociedade efeitos instantâneos, imediatos. Não é no Templo que aconteceram as militâncias pela justiça e pela libertação dos mais fracos. A celebração da Páscoa é uma festa (cf. Hb 12,22), marcada pelos seus cantos de júbilo. Logo, quem festeja não está trabalhando. Haja vista, liturgia é uma ação simbólica que instaura um ser novo, uma nova história. E é neste ser que está poder político, isto é, a libertação dos homens pelo Cristo Ressuscitado.
A liturgia oferece um alimento – sacramento – eficaz para a fé no Reino dos Céus. Ela não é eficaz como a Campanha Contra a Fome (Fome Zero[1]), do Agasalho, de Moradia, entre outras, que proporcionam “efeitos imediatos”. Por exemplo, o Abraço da Paz ou o Ato Penitencial não resolve as guerras e tensões entre os membros da comunidade. Por isso, “a suprema política é antes de tudo a festa que nos faz viver acima de nossos meios” (H. Cox).
No entanto, a celebração não é mitologia ou utopia. É para os homens se converterem e se libertarem realmente neste mundo. Como? Em pequenos gestos: acolhendo uns aos outros no amor do Ressuscitado; ouvir a interpelação da Sagrada Escritura como resposta a vida; rezar/interceder pelos outros e atualizar a ação de graças, fazendo a libertação pascal sempre atual.
A política dos homens não pode fazer o Reino de Deus. Mas, Deus pode fazer vir seu Reino (cf. Mt 6,10) para aqueles que acolhem sua vontade, sua justiça e seu amor. É importante que a celebração expresse o seu caráter libertador já inaugurado por Cristo, mas que ainda não é a salvação universal a nós prometida. É celebrando nossa libertação em Cristo que somos levados a contestar tudo aquilo que aliena, que gera corrupção, que impede os homens de serem eles mesmos.
Esta liturgia política que falamos canta, como Mirian, a passagem da servidão para o serviço (P. de Béthumes). Pois, “virá o dia em que todos ao levantar a vista, veremos nesta terra reinar a liberdade”, a justiça e o direito. Que jamais a humanidade ouse trocar seus instrumentos que harmonizam o canto pascal por armas que gerem violência e discórdia. Mesmo que ainda estejamos na agonia da Cruz, como cristãos, sabemos que a Vitória da Ressurreição é certa.
[1] - Programa do Governo Federal Brasileiro
Até o próximo encontro! Um Abração cheio de esperanças,
Wallison Rodrigues
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